Leão XIV seguiu sua reflexão sobre o mistério do Sábado Santo na Catequese desta quarta-feira, 24; “dia em que o céu visita a terra mais profundamente”, disse
Da Redação, com Vatican News

Papa Leão XIV acenando para os fiéis reunidos na Praça São Pedro para a Catequese desta quarta-feira, 24/ Foto: REUTERS/Guglielmo Mangiapane
Na Audiência Geral desta quarta-feira, 24, o Papa Leão XIV deu continuidade à sua reflexão sobre o mistério do Sábado Santo, que integra o ciclo de catequeses por ocasião do Jubileu da Esperança.
“É o dia do Mistério Pascal, quando tudo parece estático e silencioso, enquanto na realidade se realiza uma ação invisível de salvação: Cristo desce à morada dos mortos para levar o anúncio da Ressurreição a todos os que estavam nas trevas e na sombra da morte”, disse o Pontífice aos fiéis presentes, na Praça São Pedro.
Segundo o Santo Padre, este acontecimento, que a liturgia e a tradição transmitiram, representa o gesto mais profundo e radical do amor de Deus pela humanidade. “Não basta dizer ou crer que Jesus morreu por nós: é preciso reconhecer que a fidelidade do seu amor quis nos buscar lá onde nós mesmos nos tínhamos perdido, lá onde se pode levar somente a força de uma luz capaz de atravessar o domínio das trevas”, frisou.
Cristo atravessa as portas do inferno pela humanidade
O inferno, na concepção bíblica, explicou o Papa, não é tanto “um lugar”, mas sim uma condição existencial, uma condição em que a vida se enfraquece e reinam a dor, a solidão, a culpa e a separação de Deus e dos outros.
“Cristo nos alcança mesmo neste abismo, atravessando as portas deste reino de trevas. Ele entra, por assim dizer, na própria casa da morte, para esvaziá-la, para libertar seus habitantes, tomando-os pela mão um a um. É a humildade de um Deus que não se detém diante do nosso pecado, que não se assusta perante a extrema rejeição do ser humano”, sublinhou.
De acordo com Leão XIV, Cristo penetrou nas trevas mais densas para alcançar até os menores de seus irmãos e irmãs, para levar até lá a sua luz. Neste gesto, o Pontífice comentou que há toda a força e a ternura do anúncio pascal: “a morte nunca é a última palavra”. Ele afirmou que esta descida de Cristo não diz respeito somente ao passado, mas toca a vida de cada um que vive o presente.
“O inferno não é apenas a condição de quem está morto, mas também daqueles que experimentam a morte por causa do mal e do pecado. É também o inferno cotidiano da solidão, da vergonha, do abandono, da fadiga de viver. Cristo entra em todas essas realidades obscuras para nos testemunhar o amor do Pai. Não para julgar, mas para libertar. Não para culpar, mas para salvar. Ele o faz silenciosamente, na ponta dos pés, como alguém que entra num quarto de hospital para oferecer conforto e ajuda”, refletiu.
O Santo Padre reafirmou: “O Senhor desce lá onde o homem se escondeu por medo e o chama pelo nome, o toma pela mão, o levanta e o leva de volta à luz. Ele o faz com plena autoridade, mas também com infinita doçura, como um pai com o filho que teme não ser mais amado”.
Glória do Ressuscitado
Cristo não salva somente a si mesmo, prosseguiu o Pontífice, mas arrasta consigo toda a humanidade. Segundo ele, esta é a verdadeira glória do Ressuscitado: “é a força do amor, é solidariedade de um Deus que não quer salvar-se sem nós, mas somente conosco. Um Deus que não ressuscita se não abraçando as nossas misérias e nos reerguendo em vista de uma nova vida”.
Leão XIV concluiu que o Sábado Santo, portanto, é o dia em que o céu visita a terra mais profundamente. É o momento em que cada canto da história humana é tocado pela luz da Páscoa.
“E se Cristo pôde descer até ali, nada pode ser excluído da sua redenção. Nem mesmo as nossas noites, nem mesmo as nossas culpas mais antigas, nem mesmo os nossos laços rompidos. Não há passado tão arruinado, nem história tão comprometida que não possa ser tocada pela misericórdia”, ressaltou.
O Papa enfatizou que descer, para Deus, não é uma derrota, mas o cumprimento do seu amor. Não é um fracasso, mas o caminho pelo qual Ele mostrou que nenhum lugar é distante demais, nenhum coração é fechado demais, nenhum túmulo é selado demais para o seu amor. “Isso nos consola, isso nos sustenta”, disse.
“Se às vezes nos parece quase que tocar o fundo do poço, recordemos: é desse lugar que Deus é capaz de começar uma nova criação. Uma criação feita de pessoas ressuscitadas, de corações perdoados, de lágrimas enxugadas. O Sábado Santo é o abraço silencioso com que Cristo apresenta toda a criação ao Pai para reintegrá-la ao seu plano de salvação”, finalizou.