''PEREGRINOS DA IMAGINAÇÃO''

Papa: mais que imagens, o cinema coloca a esperança em movimento

Leão XIV recebeu personalidades ligadas ao mundo do cinema em audiência e destacou como a “sétima arte” ajuda o homem a parar e olhar para dentro de si

Da Redação, com Vatican News

Foto: Miroshnichenko via Pexels

Em audiência dedicada ao mundo do cinema, o Papa Leão XIV recebeu um grupo de representantes da arte cinematográfica neste sábado, 15. O encontro aconteceu no Palácio Apostólico e reuniu diversos atores e diretores ligados a este universo.

O Pontífice iniciou seu discurso reconhecendo que, apesar de seus 130 anos, o cinema é uma “arte jovem, sonhadora e inquieta”. Inicialmente, parecia um jogo de luzes e sombras, comentou, mas logo os efeitos visuais souberam manifestar realidades muito mais profundas, até se tornarem expressão da vontade de contemplar e compreender a vida, de contar sua grandeza e fragilidade, de interpretar sua nostalgia do infinito.

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“Uma das contribuições mais valiosas do cinema”, prosseguiu o Santo Padre, “é precisamente ajudar o espectador a voltar a si mesmo, a olhar com novos olhos para a complexidade da sua própria experiência, a rever o mundo como se fosse a primeira vez e a redescobrir, nesse exercício, uma parte daquela esperança sem a qual a nossa existência não é plena. (…) O cinema não é apenas imagens em movimento: é colocar a esperança em movimento”.

Mais que uma simples tela

Leão XIV expressou que entrar em uma sala de cinema é como atravessar um limiar. “Na escuridão e no silêncio, os olhos voltam a ficar atentos, o coração se abre, a mente se abre para o que ainda não havia imaginado”, sinalizou”.

Embora o fluxo de informações constante que vêm das telas sempre acesas, o cinema é muito mais do que uma simples tela. “É um cruzamento de desejos, memórias e questionamentos. É uma busca sensível onde a luz perfura a escuridão e a palavra encontra o silêncio. Na trama que se desenrola, o olhar se educa, a imaginação se expande e até mesmo a dor pode encontrar um sentido”, exprimiu o Papa.

Peregrinos da imaginação

Diante do fechamento de salas de cinema em todo o mundo, o Pontífice destacou que, apesar da lógica tender a repetir o que “funciona”, a arte abre caminho para o que é possível. “Nem tudo precisa ser imediato ou previsível: defendam a lentidão quando necessário, o silêncio quando fala, a diferença quando provoca. A beleza não é apenas evasão, mas acima de tudo invocação”, instigou o Santo Padre.

“O cinema, quando é autêntico, não apenas consola: interpela. Chama pelo nome as perguntas que habitam em nós e, às vezes, até as lágrimas que não sabíamos que precisávamos expressar”, acrescentou Leão XIV.

No contexto do Jubileu, o Papa disse aos participantes da audiência que eles caminham como peregrinos da imaginação, buscadores de sentido, narradores de esperança, mensageiros da humanidade. “É uma peregrinação no mistério da experiência humana que vocês atravessam com um olhar penetrante, capaz de reconhecer a beleza mesmo nas pregas da dor, a esperança nas tragédias da violência e das guerras”, pontuou.

“A arte não deve fugir do mistério da fragilidade”

Recordando o diálogo da Igreja com o mundo do cinema, o Pontífice garantiu que a Igreja olha com estima para o universo cinematográfico. “Desejo renovar essa amizade, porque o cinema é um laboratório de esperança, um lugar onde o homem pode voltar a olhar para si mesmo e para o seu destino”, manifestou.

O Santo Padre também reiterou a importância desta arte para a sociedade contemporânea, frisando que a atualidade precisa de testemunhas de esperança, beleza e verdade. “Vocês, com seu trabalho artístico, podem ser essas testemunhas. Recuperar a autenticidade da imagem para salvaguardar e promover a dignidade humana está ao alcance do bom cinema e de quem o faz e o protagoniza. Não tenham medo do confronto com as feridas do mundo”, exortou.

“Dar voz aos sentimentos complexos, contraditórios e, por vezes, obscuros que habitam o coração do ser humano é um ato de amor”, prosseguiu Leão XIV. “A arte não deve fugir do mistério da fragilidade: deve ouvi-lo, deve saber parar diante dele. O cinema, sem ser didático, tem em si, nas suas formas autenticamente artísticas, a possibilidade de educar o olhar”, salientou.

Na conclusão de seu discurso, o Papa recordou a dedicação silenciosa de centenas de outros profissionais do cinema, sem os quais uma obra seria impossível. “Que o cinema continue sempre sendo um lugar de encontro, um lar para quem busca sentido, uma linguagem de paz. Que nunca perca a capacidade de surpreender, continuando a nos mostrar, mesmo que seja apenas um fragmento, do mistério de Deus”, finalizou.

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