Em audiência, Leão XIV defendeu a “não violência como método e como estilo” na tomada de decisões, nas relações e nas ações de todos
Da Redação, com Vatican News

Papa durante audiência desta sexta-feira, 30/ Foto: ZUMA Press Wire via Reuters
Querer a paz implica a criação de instituições de paz. É essa a mensagem central do discurso de Leão XIV na audiência desta sexta-feira, 30, com representantes de movimentos populares e associações da cidade italiana de Verona que deram origem à “Arena da Paz”, uma realidade dinâmica na qual convergem grupos pluralistas, pacifistas e populares. A Arena da Paz é fruto da colaboração entre a diocese de Verona, a Fundação Nigrizia, os padres combonianos, o jornal católico italiano Avvenire e a revista italiana Aggiornamenti sociali.
No grupo de cerca de 300 pessoas reunidas na Sala Clementina do Palácio Apostólico também estava o israelense Maoz Inon, cujos pais foram mortos pelo Hamas, e o palestino Aziz Sarah, que teve o irmão morto pelo exército israelense, e que agora são amigos e colaboradores. Eles foram os protagonistas daquele abraço histórico e corajoso há um ano em Verona, na presença do Papa Francisco, que permanece, como reconhece o novo Papa, “testemunho e sinal de esperança”.
Caminho pela paz é comunitário
Em discurso, Leão XIV partiu justamente da perspectiva compartilhada e incentivada por Francisco no encontro de 18 de maio de 2024, na arena da cidade veneziana: a perspectiva das vítimas. Colocar-se no lugar delas, afirmou o Pontífice, “é essencial para desarmar os corações, os olhares, as mentes e denunciar as injustiças de um sistema que mata e se baseia sobre a cultura do descarte”.
A paz e o bem comum estão interligados, sublinhou o Papa, citando São João Paulo II quando falava da paz como um bem indivisível. O Santo Padre reiterou que a paz não é algo inerte, mas um ativador das consciências.
“O caminho pela paz requer corações e mentes treinados e formados para a atenção ao outro e capazes de reconhecer o bem comum no contexto atual. O caminho que leva à paz é comunitário, passa pelo cuidado das relações de justiça entre todos os seres vivos”, disse.
Diferenças devem ser reconhecidas, assumidas, superadas
Construir a paz pode significar longos processos de formação para a paz, tempos que devem ser buscados em uma época em que, ao contrário, se prefere a velocidade e o imediatismo, defendeu o Pontífice.
A paz autêntica, prosseguiu Leão XIV, é aquela que toma forma a partir da realidade (territórios, comunidades, instituições locais e assim por diante) e na escuta dela. “Precisamente por isso, percebemos que essa paz é possível quando as diferenças e os conflitos que ela acarreta não são removidos, mas reconhecidos, assumidos e superados”, frisou.
Há muita violência no mundo
O Papa elogiou o empenho dos movimentos pela paz, definindo-os como “preciosos”, realidades “de baixo”, dialogantes, que colocam em campo “criatividade e genialidade”. É assim, frisou o Santo Padre, que se gera esperança. Os jovens “precisam de experiências que eduquem para a cultura da vida, do diálogo, do respeito mútuo”. “Há muita violência no mundo, há muita violência nas nossas sociedades”.
“Do nível local e cotidiano até aquele de ordem mundial, quando aqueles que sofreram injustiça e as vítimas da violência sabem resistir à tentação da vingança, tornam-se os protagonistas mais credíveis dos processos não violentos de construção da paz. A não violência como método e como estilo deve caracterizar as nossas decisões, as nossas relações, as nossas ações”, reforçou.
O “nós” deve se traduzir em nível institucional
Em nível nacional e internacional, Leão XIV ressaltou ser necessário que as instituições políticas, econômicas, educativas e sociais se sintam interpeladas a cooperar pela cultura da paz. Ele recorda a Fratelli tutti e aquele “nós” que deve se traduzir também em nível institucional. Daí o incentivo final ao compromisso e à presença, acompanhado pela oração, para que o trabalho pela paz seja sempre animado pela paciência e tenacidade:
“[…] Presentes na massa da história como fermento de unidade, de comunhão, de fraternidade. A fraternidade precisa ser descoberta, amada, experimentada, anunciada e testemunhada, na confiante esperança de que ela é possível graças ao amor de Deus”.
Um mosaico de compromisso pela paz
Entre os grupos e movimentos presentes no Vaticano na manhã desta sexta-feira, havia um propósito para a construção da justiça social e da paz: estavam presentes a Mediterranea Human Saving, Libera, Rete Italiana Pace e Disarmo; as presidências da Ação Católica, da Acli, do Movimento Não Violento, Médicos Sem Fronteiras, a associação Comunidade Papa João, Economia de Francisco, Anpi, Agesci, Cipax, Colibrì, Pax Christi, Fundação Perugia Assisi, Il mondo di Irene, Beati i costruttori di pace, Movimento dos Focolares, Aipec, Anistia, Comunidades Cristãs de Base, Mamme NoPFas, Ultima Generazione. Participaram também a Assopace Palestina e a Un Ponte Per. Além disso, estava presente Olga Karach, ativista bielorrussa exilada na Lituânia, que por seu empenho em nome da objeção de consciência está ameaçada de morte.