MENSAGEM

“Conversão do coração é tarefa que dura a vida inteira”, afirma Leão XIV

Em mensagem à Ordem de Malta, Papa reflete sobre natureza religiosa e missão da organização a alerta para meios usados no cumprimento de seu objetivo

Da Redação, com Boletim da Santa Sé

Foto: Alessia Giuliani/IPA/Sipa USA via Reuters Connect

A Santa Sé divulgou nesta terça-feira, 24, uma mensagem do Papa Leão XIV aos membros da Ordem de Malta por ocasião da Solenidade do Nascimento de São João Batista, protetor da ordem religiosa.

No texto, o Santo Padre agradece pelo bem promovido nos lugares em que é preciso o amor e pelo compromisso de renovação para uma maior fidelidade ao Evangelho. Recordando São João Batista, o Pontífice destaca a austeridade com que viveu sua vida enquanto buscava cumprir sua missão de anunciar Jesus.

Leão XIV observa que a ideia de Messias que João Batista tinha era a de um juiz rigoroso (Mt 3,7-12). Contudo, Jesus o ajuda a mudar esta perspectiva, pedindo humildemente a ele que o batizasse. Após esse episódio, João Batista indica Jesus como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e se torna testemunha do Cristo, que é a Verdade.

“São João Batista, vosso celeste Protetor, deve iluminar a vossa vida e a missão que sois chamados a cumprir na Igreja pela ação do Espírito Santo”, indica o Papa, que sublinha ainda dois pontos do carisma da Ordem de Malta e que estão expressos em seu lema: tuitio fidei e obsequium pauperum.

Transmitir o amor de Deus

Segundo o Pontífice, ambos os aspectos levam a uma fé que é propagada e protegida na dedicação amorosa aos pobres, aos marginalizados e a todos aqueles que precisam de apoio e ajuda. Ao mesmo tempo, este carisma não se limita apenas a prestar assistência, mas também anunciar o amor de Deus com a palavra e o testemunho. Caso contrário, a Ordem se reduziria a uma organização com fins filantrópicos.

“O amor que cada um de nós deve oferecer aos outros é aquele que se coloca no nível de quem o recebe, assim como Jesus fez quando se colocou no nosso nível, em solidariedade com aqueles que são desprezados, com aqueles cuja vida é tirada porque é considerada sem valor”, enfatiza o Santo Padre.

Esta é a tuitio fidei (“defesa da fé”), aponta Leão XIV, pois assim se transmite concretamente a fé em Deus como amor. Diante disso, reconheceu que certamente a Ordem precisa de muitos meios, inclusive econômicos, para realizar seu serviço. Entretanto, não se deve considerar os meios apenas como uma forma de atingir o objetivo.

“Para atingir um bom fim, os meios devem ser bons. Neste campo, a tentação pode facilmente apresentar-se sob o disfarce do bem, como uma ilusão de ser capaz de atingir os bons fins que alguém propõe para si mesmo com meios que mais tarde podem revelar-se não conformes à vontade de Deus”, alerta o Papa.

Atenção aos meios

Leão XIV recorda que Jesus também foi tentado nesta dimensão, quando o maligno lhe ofereceu todos os reinos do mundo e a glória (Mt 4,8). Todavia, se aceitasse, “Jesus não seria mais o Servo sofredor de Deus, que na humildade se despoja de todo poder mundano para conquistar, com amor, o amor do homem. (…) Se tivesse consentido na tentação, Jesus teria adotado meios ilícitos e não teria alcançado o objetivo estabelecido pelo Pai para sua missão”.

Prosseguindo com sua mensagem, o Santo Padre pontua que a Ordem de Malta, ao longo de sua história, adotou diferentes meios dependendo das circunstâncias que, no entanto, devem ser avaliados em termos de sua validade atual. Obtendo uma maior relevância no âmbito internacional, a Ordem alcançou um tipo muito particular de soberania, com prerrogativas nesta área que devem necessariamente ser funcionais para cumprir sua missão.

“Se vocês usassem essas prerrogativas permitindo-se ser atraídos pela mundanidade, talvez sem perceber, justamente pela ilusão que a mundanidade traz, correriam o risco de agir perdendo de vista o objetivo”, enfatizou o Pontífice. “O Espírito revela os enganos do maligno, e por isso somos chamados a discernir continuamente se é o Espírito, o maligno ou, em qualquer caso, o nosso próprio interesse que está nos guiando”, acrescentou.

Conversão do coração

Citando o caminho de renovação trilhado pela Ordem, Leão XIV enfatiza que ela não pode ser simplesmente institucional – antes de tudo, deve ser interior, espiritual, porque isso dá sentido às mudanças das normas. O Papa reconhece que as modificações em documentos da Ordem eram necessárias, esclarecendo, entre outros aspectos, a sua natureza religiosa.

“Certamente o caminho de renovação não terminou – na verdade, ele está sempre começando, porque requer a conversão do coração, uma tarefa que dura a vida inteira para cada um de nós”, expressa o Pontífice, observando ainda que tal processo é difícil e fatigante.

Contudo, tal conversão é sempre incentivada por uma experiência significativa que toca os corações. A ação em favor dos doentes e dos pobres, meritória diante de Deus e diante dos homens, é o que sustenta este processo, e tais gestos caritativos são fruto e manifestação da espiritualidade da Ordem.

Formação

Por fim, o Santo Padre manifesta sua alegria pelos aspirantes que pediram para iniciar a experiência do noviciado. Ele chama a atenção para a formação, um aspecto fundamental para todos os institutos de vida consagrada e particularmente exigente devido à complexidade das experiências dos candidatos no tempo presente.

“Isso exige mais do que nunca uma formação específica dos formadores, sem a qual o trabalho formativo permaneceria aproximado e ineficaz, como aconteceria se seu processo e conteúdo não fossem bem definidos”, afirmou Leão XIV.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

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