“Corão é um livro de paz”, disse o Papa destacando a necessidade de os líderes muçulmanos condenarem o terrorismo, ao qual o Islã não pode ser equiparado
Da Redação, com Agência Ecclesia
Durante o voo de retorno a Roma, neste domingo, 30, após sua viagem à Turquia, o Papa Francisco conversou com jornalistas. O Santo Padre abordou temas como o terrorismo, pedindo que tal prática seja condenada pelos líderes muçulmanos. Ele falou de sua vontade de ir ao Iraque e revelou que, na Mesquita na Turquia, rezou pelo fim das guerras.
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“O Corão é um livro de paz”, disse o Papa respondendo à primeira pergunta sobre “islamofobia”. O Santo Padre explicou que não se pode equiparar o Islã ao terrorismo, e é preciso que os líderes muçulmanos condenem os atentados terroristas e a “islamofobia”.
“Temos necessidade de uma condenação mundial por parte dos islâmicos que diga: ‘Não, o Corão não é isso’. Temos sempre que distinguir entre a proposta de uma religião e aquilo que é o uso concreto dessa proposta”, acrescentou.
Visita ao Iraque
Antes da viagem, falou-se na possibilidade de o Papa se deslocar ao Curdistão ou de visitar um campo de refugiados. O próprio Pontífice confirmou esse desejo na conversa com a imprensa. “Gostaria de ir a um campo de refugiados, mas seria preciso mais um dia e não era possível, por várias razões, não só pessoais”, explicou, agradecendo o esforço do Governo turco no auxílio a essas populações.
“Quero ir ao Iraque, já falei com o patriarca Sako. Neste momento, não é possível, se lá fosse, criaria um problema para as autoridades, para a segurança”, acrescentou.
Ao entrar no contexto do Oriente Médio, o Papa recordou a situação dos cristãos que são “escorraçados” do lugar. Ele defendeu que o diálogo inter-religioso deve se centrar na troca de experiências das pessoas dos vários credos e não tanto na teologia.
Ecumenismo
Em relação ao diálogo ecumênico, em particular com o mundo ortodoxo, o Papa defendeu que a unidade é um caminho a ser percorrido juntos, também em questões como a data da Páscoa e o “primado” do bispo de Roma, recordando o “ecumenismo do sangue”, em que os cristãos são mortos independentemente da sua comunidade eclesial.
Neste contexto, Francisco contou que disse ao patriarca ortodoxo de Moscou, Cirilo I, que estava pronto para se encontrar com ele onde o líder russo quisesse, admitindo que a guerra na Ucrânia causa dificuldades neste momento.
Guerras
O Papa repetiu a convicção de que se vive uma “terceira guerra mundial aos pedaços, em capítulos”, por detrás da qual há um sistema que tem, no centro, o “deus dinheiro, e não a pessoa humana”.
“Por detrás disto, há interesses comerciais: o tráfico de armas é terrível, é um dos negócios mais fortes neste momento”, realçou.
O Pontífice destacou que, não querendo falar do “fim do mundo”, vê uma cultura que chama “terminal”, a partir da qual vai ser preciso recomeçar “do início”, como em Hiroshima e Nagasaki.
Com relação ao contexto de guerras, o Papa revelou aos jornalistas que, ao visitar a Mesquita no sábado, 29, e ouvir passagens do Corão nas quais se falava de Maria e de João Batista, sentiu a necessidade de rezar. Então, ele rezou e pediu o fim das guerras.
A coletiva de imprensa durou cerca de 45 minutos. Antes do regresso ao Vaticano, de carro, o Papa passou pela Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, para agradecer à Virgem Maria pela viagem à Turquia.