“Francisco tem um carisma muito grande e transforma o Evangelho em prática de vida. Isso nos desafia, nos chama a também realizarmos isso,” diz Dom Guilherme
Luciane Marins
Da Redação
“Associando com os pobres, pensei em Francisco de Assis. Em seguida, pensei nas guerras (…) E Francisco é o homem da paz. Assim surgiu o nome no meu coração: Francisco de Assis”. A explicação é do Papa Francisco sobre a escolha do seu nome, em discurso para os representantes dos meios de comunicação social no dia 16 de março de 2013.
O Papa quis deixar em evidência, no próprio nome, sua busca pela paz. Desde que assumiu o pontificado, em março do ano passado, Francisco já manifestou, de diversas maneiras, sua preocupação com os países em conflito e a paz entre os povos.
Até mesmo as redes sociais têm sido utilizadas pelo Pontífice. Por meio do Twitter, no dia 15 de fevereiro, Francisco postou a hashtag #prayforpeace (rezar pela paz): “Rezemos pela paz em África, especialmente na República Centro-Africana e no Sudão do Sul.”
Em encontro com o corpo diplomático, no Vaticano, em janeiro deste ano, Francisco falou aos embaixadores de todo o mundo sobre a necessidade de paz, recordando as inúmeras situações de conflitos em 2013.
No primeiro Angelus de 2014, exortou os fiéis a buscarem a paz. “Que o Senhor nos ajude a nos encaminharmos mais decididamente pelos caminhos da justiça e da paz; que o Espírito Santo atue nos corações, desfaça a rigidez e a dureza, e nos conceda a graça de nos enternecermos diante da fragilidade do Menino Jesus. A paz, de fato, exige a força da doçura, a força não violenta da verdade e do amor”.
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Seja em discursos para autoridades civis e religiosas ou encontros com os fiéis, Francisco tem pedido incansavelmente a paz para o Oriente Médio, para os países da África e especialmente para a Síria.
“Ele não está fazendo teatro, ele vive como Papa aquilo que vivia como Arcebispo, Cardeal em Buenos Aires, na Argentina. O que ele prega, ele vive e começa a exigir que se viva isso dentro da Igreja. Assim, ele ganha credibilidade diante do mundo. Essa é a grande contribuição que, hoje, ele está fazendo na construção da paz no mundo”, fala Dom Guilherme Werlang, bispo de Ipameri (GO) e membro da Comissão Caridade, Justiça e Paz da CNBB.
No dia 7 de setembro do ano passado, uma vigília de oração pela paz na Síria e no mundo, convocada pelo Papa, reuniu quase 100 mil pessoas no Vaticano. Na ocasião, Francisco disse que a violência e a guerra nunca são o caminho da paz. “Que acabe o barulho das armas, pois a guerra significa o fracasso da paz. Que soem, mais uma vez, as palavras do Papa Paulo VI: ‘Nunca mais uns contra os outros… nunca mais a guerra’”, pediu Francisco.
Outro forte apelo e reflexão está na mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2014, em que o Pontífice afirma que a fraternidade é o fundamento e o caminho para alcançar a pacificação. Dom Guilherme explica que a fraternidade leva as pessoas a verem o outro como irmão, e, por isso, é o caminho mais seguro para a paz. “Construir a fraternidade faz com que a paz possa acontecer, isso tanto do âmbito de família, quanto na cidade, no estado, no país, e mesmo nas relações internacionais”.
Na mensagem, o Papa afirma que, no coração do homem, há uma aspiração de fraternidade que o impele à comunhão com os outros, em quem não se encontra inimigos ou concorrentes, mas irmãos que se deve acolher e abraçar. “Se quisermos alcançar a paz, temos de reconstruir as relações humanas”, complementa o bispo.
Dom Guilherme lembra a viagem de Francisco à ilha de Lampedusa, em julho do ano passado. Tocado por uma série de tragédias por causa de contínuos desembarques e naufrágios de migrantes na região, Francisco quis, em sua primeira visita em território italiano, ver de perto a situação. “O Papa tem um carisma muito grande e transforma o Evangelho em prática da vida, isso nos desafia, nos chama a também realizarmos isso. Se seguirmos o exemplo do Pontífice, com certeza poderemos não só ser vizinhos, mas irmãos”.
Dom Guilherme orienta, para concluir, que nenhuma pessoa deve ficar alheia às violências, injustiças e mortes. “Eu não posso ficar insensível. Eu tenho de tirar do peito um coração de pedra e colocar um coração de carne, em que habite o amor de Deus. Então, sim, construiremos um mundo de justiça e paz, que é o grande apelo do Papa Francisco. O Papa sozinho não faz nada, cada um tem de fazer a sua parte. Na soma de cada um de nós, o mundo será melhor.
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