Na Missa desta segunda-feira, 27, Francisco rezou pelos artistas e pelo caminho da beleza e da criatividade que podem ajudar neste momento difícil de pandemia
Da redação, com Vatican News
O Papa Francisco presidiu a Missa na Casa Santa Marta, no Vaticano, na manhã desta segunda-feira, 27, da III Semana da Páscoa. Na introdução, dirigiu seu pensamento aos artistas: “Rezemos hoje pelos artistas, que têm esta capacidade de criatividade muito grande e pelo caminho da beleza nos indicam o caminho a seguir. Que o Senhor nos dê a todos a graça da criatividade neste momento”.
Na homilia, o Santo Padre comentou o Evangelho do dia (Jo 6,22-29) em que Jesus repreende a multidão por buscá-Lo, após a multiplicação dos pães e dos peixes, somente porque se saciou, e a exortou a esforçar-se não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do homem dará. A multidão pergunta o que deve fazer e Jesus responde: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”.
A multidão que ouvia Jesus sem cansar-se, explica o Pontífice, uma vez saciada, pensava em fazê-lo rei: tinha esquecido o primeiro entusiasmo pela Palavra de Jesus. E o Senhor recorda à multidão o primeiro sentimento. Corrige o caminho das pessoas que tinham tomado um caminho mais mundano que evangélico. Segundo Francisco, assim se dá também com homens e mulheres quando se distanciam do caminho do Evangelho e perdem a memória do primeiro entusiasmo pela Palavra do Senhor.
“Jesus nos faz voltar ao primeiro encontro; esta é uma graça diante das tentações de distanciar-nos. A graça de voltar sempre ao primeiro chamado, quando Jesus nos olhou com amor. Cada um de nós tem a experiência do primeiro encontro em que Jesus nos disse: ‘Segue-me’. Depois, ao longo do caminho, nos distanciamos e perdemos o frescor do primeiro chamado”. O Papa convidou os fiéis a rezarem para que o Senhor dê a graça de voltar ao momento em que fizeram a experiência de encontrar Jesus.
Íntegra da homilia
As pessoas que tinham ouvido Jesus durante todo o dia, e depois tiveram esta graça da multiplicação dos pães e viu o poder de Jesus, queriam fazê-lo rei. Antes iam até Jesus para ouvir a palavra e também para pedir a cura dos doentes. Passaram o dia inteiro ouvindo Jesus sem entediar-se, sem cansar-se ou (estar) cansadas, mas estavam ali, felizes. Mas depois quando viram que Jesus lhes dava de comer, algo que elas não esperavam, pensaram: “Esse seria um bom governante para nós e certamente será capaz de libertar-nos do poder dos Romanos e levar o país adiante”. E se entusiasmaram para fazê-lo rei. A intenção delas mudou, porque viram e pensaram: “Bem… porque uma pessoa que faz este milagre, que dá de comer ao povo, pode ser um bom governante”. Mas naquele momento tinham esquecido o entusiasmo que a Palavra de Jesus suscitava em seus corações.
Jesus afastou-se e foi rezar. Aquelas pessoas, se vê, ficaram ali, e no dia seguinte buscavam Jesus, “porque deve estar aqui”, diziam, porque tinham visto que não havia subido na barca com os outros. E havia uma barca ali, que ficou ali… Mas não sabiam que Jesus tinha alcançado os outros caminhando sobre as águas. Desse modo, decidiram ir até a outra parte do mar de Tiberíades procurar Jesus e quando o viram, a primeira palavra que lhe dizem (é): “Rabi, quando chegaste aqui?”, como a dizer: “Não entendemos, isso parece uma coisa estranha”.
E Jesus lhes faz voltar ao primeiro sentimento, ao que elas tinham antes da multiplicação dos pães, quando ouviam a Palavra de Deus: “Em verdade, em verdade, eu vos digo:
estais me procurando não porque vistes sinais – como no início, os sinais da palavra, que as entusiasmavam, os sinais da cura –, não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos”. Jesus revela a intenção delas e diz: “Mas é assim, mudastes de atitude”. E elas, ao invés de justificar-se: “Não, Senhor, não…”, foram humildes. Jesus continua: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo”. E elas, concordes, disseram: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus? “Que acrediteis no Filho de Deus”. Esse é um caso no qual Jesus corrige a atitude das pessoas, da multidão, porque no meio do caminho se tinha um pouco distanciado do primeiro momento, da primeira consolação espiritual e tinha tomado um caminho que não era justo, uma caminho mais mundano que evangélico.
Isso nos leva a pensar as muitas vezes que nós na vida começamos um caminho no seguimento de Jesus, atrás de Jesus, com os valores do Evangelho, e na metade do caminho nos vem outra ideia, vemos algum sinal e nos distanciamos e nos conformamos com uma coisa mais temporal, mais material, mais mundana, pode ser, e perdemos a memória daquele primeiro entusiasmo que tivemos quando ouvíamos Jesus falar. O Senhor nos faz voltar sempre ao primeiro encontro, ao primeiro momento no qual Ele nos olhou, nos falou e fez nascer dentro de nós a vontade de segui-lo. Essa é uma graça a ser pedida ao Senhor, porque nós na vida sempre teremos esta tentação de distanciar-nos porque vemos outra coisa: “Mas aquilo dará certo, mas aquela ideia é boa…” Distanciamo-nos.
A graça de voltar sempre ao primeiro chamado, ao primeiro momento: não esquecer, não esquecer a minha história, quando Jesus me olhou com amor e me disse: “Esse é o vosso caminho”; quando Jesus através de tantas pessoas me fez entender qual era o caminho do Evangelho e não outros caminhos um pouco mundanos, com outros valores. Voltar ao primeiro encontro.
Sempre impressionou-me que entre as coisas que Jesus disse na manhã da Ressurreição: “Ide aos meus discípulos e dizei a eles que vão à Galileia, ali me encontrarão”, Galileia era o lugar do primeiro encontro. Ali tinham encontrado Jesus. Cada um de nós tem a sua “Galileia dentro (de si), o próprio momento no qual Jesus se aproximou e nos disse: “Segue-me”. Na vida acontece isso que aconteceu a essas pessoas – boas, porque depois lhe dizem: “Que devemos fazer?”, imediatamente obedeceram –, acontece que nos distanciamos e buscamos outros valores, outras hermenêuticas, outras coisas, e perdemos o frescor do primeiro chamado. O autor da Carta aos Hebreus nos chama a isso: “Recordai-vos dos primeiros dias”. A memória, a memória do primeiro encontro, a memória da “minha Galileia”, quando o Senhor me olhou com amor e me disse: “Segue-me”.
Adoração e a bênção eucarística
O Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando os fiéis a fazerem a Comunhão espiritual. O Papa rezou: “Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!”
Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal: “Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia! Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia! Ressuscitou como disse. Aleluia! Rogai por nós a Deus. Aleluia! D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia! C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!”