Na catequese desta quarta-feira, 27, Francisco refletiu sobre o Livro de Rute: contém um valioso ensinamento sobre a aliança das gerações
Da redação, com Vatican News
O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a velhice na Audiência Geral, desta quarta-feira, 27, realizada na Praça São Pedro. “Noemi, a aliança entre gerações que abre o futuro” foi o tema deste encontro semanal.
A catequese de Francisco foi inspirada no “maravilhoso Livro de Rute, uma preciosidade da Bíblia”. “Ilumina a beleza dos laços familiares: gerados pela relação de um casal, mas que vão além do vínculo do casal. Em comparação com o Cântico dos Cânticos, o Livro de Rute é como o outro painel do díptico do amor nupcial. Tão importante como essencial, celebra o poder e a poesia que devem habitar os laços de geração, parentesco, dedicação e fidelidade que envolvem toda a constelação familiar”.
O Pontífice recordou que os clichês sobre os laços de parentesco criados pelo matrimônio, especialmente entre sogra e nora, falam contra esta perspectiva. Mas, precisamente por esta razão, a palavra de Deus torna-se preciosa, indicou.
A inspiração da fé, prosseguiu o Santo Padre, pode abrir um horizonte de testemunho que vai contra os preconceitos mais comuns, um horizonte que é precioso para toda a comunidade humana. “Convido-os a redescobrir o livro de Rute! Especialmente na meditação sobre o amor e na catequese sobre a família”.
Aliança das gerações
Na sequência, o Papa frisou que este pequeno livro contém também um valioso ensinamento sobre a aliança das gerações. “Onde a juventude se mostra capaz de dar novo entusiasmo à idade madura, quando a juventude dá novo entusiasmo aos idosos, a velhice se mostra capaz de reabrir o futuro para a juventude ferida”.
No início, recordou Francisco, a idosa Noemi, embora movida pelo afeto das noras, viúvas dos seus dois filhos, é pessimista quanto ao seu destino num povo que não é o seu. Ela encoraja afetuosamente as jovens viúvas a regressarem às suas famílias para reconstruírem a própria vida.
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“Movida pela dedicação de Rute, Noemi sairá do seu pessimismo e até tomará a iniciativa, abrindo um novo futuro para Rute. Ela instrui e encoraja Rute, a viúva do seu filho, a conquistar-se um novo marido em Israel. Booz, o candidato, mostra a sua nobreza, defendendo Rute dos homens seus empregados. Infelizmente, este é um risco que também se verifica hoje”, sublinhou o Pontífice.
Conversão
O Santo Padre comentou que o novo matrimônio de Rute é celebrado e os mundos são de novo pacificados. As mulheres de Israel dizem a Noemi que Rute, a estrangeira, vale “mais de sete filhos” e que o matrimônio será uma “bênção do Senhor”.
“Noemi, que era amargurada, dizia que o seu nome era amargura, revive, renasce e na sua velhice conhecerá a alegria de desempenhar um papel na geração de um novo nascimento”, disse ainda o Papa, acrescentando: “Vejam quantos ‘milagres’ acompanham a conversão desta idosa! Ela se converte ao compromisso de se tornar disponível, com amor, para o futuro de uma geração ferida pela perda e em risco de abandono”.
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O Papa ressalta que as frentes de recomposição são as mesmas que, de acordo com as probabilidades desenhadas pelos preconceitos do senso comum, deveriam gerar fraturas insuperáveis. Em vez disso, Francisco destacou que a fé e o amor permitem que sejam superados: a sogra supera o ciúme do próprio filho amando o novo vínculo de Rute; as mulheres de Israel superam a desconfiança em relação ao estrangeiro; a vulnerabilidade da jovem sozinha, perante o poder do homem, reconcilia-se com uma relação cheia de amor e respeito.
“Tudo isso porque a jovem Rute persistiu em ser fiel a um vínculo exposto ao preconceito étnico e religioso”, frisou o Pontífice.
Sogra
“Hoje, a sogra é um personagem mítico, a sogra, não digo que pensamos nela como o diabo, mas sempre se pensa nela de maneira ruim. A sogra é a mãe do seu marido, é a mãe da sua esposa. Pensemos hoje nesse sentimento um pouco impregnado de que a sogra quanto mais longe melhor. Não! Ela é mãe, é idosa”, defendeu o Santo Padre.
O Papa sublinhou que uma das coisas mais bonitas das avós é ver os netos, quando os filhos têm filhos, elas revivem. “Olhem bem a relação que vocês têm com suas sogras e não… sim, às vezes são um pouco especiais, mas elas lhe deram a maternidade do seu cônjuge, lhe deram tudo. Ao menos as faça felizes, que continuem sua velhice com felicidade. E se têm algum defeito que seja corrigido”.
“Digo também a vocês sogras: cuidado com a língua, porque a língua é um dos pecados mais feios das sogras, tenham cuidado”, alertou Francisco.
Depois, o Pontífice recomendou aos jovens que conversem com seus avós, que conversem com os idosos e que os idosos conversem com os jovens. “Devemos restabelecer esta ponte forte, há uma corrente de salvação e felicidade ali. Que o Senhor nos ajude desta forma a crescer em harmonia nas famílias, aquela harmonia construtiva que vai do idoso ao jovem, aquela bela ponte que devemos proteger e conservar”, concluiu.