UM PAPA NO FIM DO MUNDO

Relembre quem foi Jorge Mario Bergoglio antes de se tornar Papa

Antes de ser eleito o 266º Papa, Jorge Mario Bergoglio teve uma infância simples na Argentina e serviu os mais pobres e excluídos de seu país

Gabriel Fontana
Da Redação

Registro de outubro de 1998 / Foto: La Nacion/GDA/ZUMAPRESS.com/IPA via Reuters Connect

Jorge Mario Bergoglio nasceu em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, na Argentina. Sua família, porém, tinha ascendência italiana: a mãe, Regina Maria Sivori nasceu na Argentina, mas com antepassados piemonteses e genoveses; o pai, Mario Giuseppe Bergoglio, era originário da província de Asti, também na região do Piemonte, ao norte da Itália.

Junto a outros familiares, Mario Bergoglio deixou seu país em janeiro de 1929, buscando afastar-se do regime fascista em ascensão sob o comando de Benito Mussolini. Na Argentina, trabalhou como contabilista, fixando residência em Flores, um bairro de classe média da capital. Ao todo, a família teve cinco filhos, dos quais Jorge era o mais velho.

Foi nesta vizinhança que Jorge passou sua infância, colecionando selos e jogando futebol. Naquela região da cidade, estava presente o San Lorenzo de Almagro, clube esportivo fundado com a ajuda de um padre salesiano e que atraiu a torcida do garoto.

O pequeno passava uma boa parte do seu tempo com a avó, que o recebia em sua casa. Ela o ensinou a rezar, e também contava histórias de santos para ele. Os avós costumavam se comunicar no dialeto piemontês, proporcionando a Jorge um contato direto com as raízes de sua família.

A sequela de uma pneumonia

Jorge começou a trabalhar desde cedo. Aos 13 anos, quando entrou para o Ensino Médio – durante o qual se especializou em Química Alimentar –, trabalhava em seu tempo livre. Ele colaborou com a limpeza e, posteriormente, com tarefas administrativas de uma fábrica. Depois, atuou ainda em um laboratório de análises clínicas.

Em sua juventude, Jorge encarou uma pneumonia que quase lhe custou a vida. Com a doença, perdeu o lobo superior do pulmão direito. Também durante este período, o jovem teve uma namorada, mas o chamado ao sacerdócio recorrentemente habitava os seus pensamentos.

A decisão pelo sacerdócio

Em 21 de setembro de 1953, quando tinha 17 anos, Jorge teve uma experiência que o fez decidir-se de vez por este caminho vocacional. Enquanto os amigos o esperavam na estação ferroviária para preparar uma festa para o dia do estudante, o jovem resolveu passar pela Igreja de San José de Flores, próxima à casa dos seus pais.

Lá, viu no último confessionário do lado esquerdo antes do altar um sacerdote, e espontaneamente resolveu se confessar. Naquele confessionário, Jorge viveu uma experiência de encontro, e se decidiu de vez por se tornar padre.

A pedido da mãe, que não havia aceitado bem a ideia, Jorge prosseguiu com seus estudos até obter o diploma de técnico químico. Em 11 de março de 1956, entrou no noviciado da Companhia de Jesus, dando início à formação sacerdotal no seminário diocesano de Villa Devoto. Jorge tinha o desejo de ser missionário no Japão, assim como São Francisco Xavier, jesuíta. Contudo, devido ao grave problema de saúde que carregava consigo, ele não recebeu autorização para partir em missão.

Jorge completou seus estudos humanísticos no Chile, e depois retornou a Buenos Aires para concluir o curso de Filosofia no Colégio San José em San Miguel, em 1963. Entre 1964 e 1965, lecionou Literatura e Psicologia em Santa Fé, e no ano seguinte, regressou à capital argentina.

De 1967 a 1970, Jorge estudou Teologia, também no Colégio San José. Durante este tempo, foi ordenado sacerdote pelas mãos de Dom Ramón José Castellano em 13 de dezembro de 1969, poucos dias antes de completar 33 anos. Por fim, em 22 de abril de 1973, emitiu a profissão perpétua como jesuíta após passar um período na Espanha.

A caminhada na Companhia de Jesus 

De volta à Argentina, foi mestre de noviços na Villa Barilari em San Miguel, professor na faculdade de Teologia, consultor da província da Companhia de Jesus e também reitor do Colégio San José.

Naquele mesmo ano, em 31 de julho, Jorge foi eleito provincial dos jesuítas da Argentina, cargo que desempenhou durante seis anos. Durante este período, precisou lidar com um dos períodos mais conturbados da história do país: o regime militar, que assumiu o governo argentino em março de 1976 após depor a então presidente Isabel Martínez de Perón.

Com o encerramento de seu período como provincial jesuíta ao final da década de 1970, o padre Bergoglio retomou seu trabalho no campo universitário, tornando a ser professor de Teologia, reitor do Colégio San José e pároco.

Em 1986, passou algum tempo na Alemanha, onde concluiu sua tese de doutoramento. Voltando à Argentina, foi enviado para o colégio do Salvador em Buenos Aires e, posteriormente, para a igreja da Companhia de Jesus na cidade de Córdoba, onde foi diretor espiritual e confessor.

O episcopado na vida de Bergoglio

Após este período, o então arcebispo de Bueno Aires, Cardeal Antonio Quarracino, convidou o padre Bergoglio a ser seu colaborador. O Papa João Paulo II acolheu, em 20 de maio de 1992, o pedido de Dom Quarracino, nomeando o padre Bergoglio como bispo auxiliar da Arquidiocese de Buenos Aires.

Desta forma, em 27 de junho daquele mesmo ano, na Catedral de Buenos Aires, o Cardeal Quarracino, o Núncio Apostólico na Argentina e o bispo de Mercedes-Luján impuseram as mãos sobre Jorge Mario Bergoglio, tornando-o bispo. Como lema, escolheu “Miserando atque eligendo”.

O bispo Bergoglio foi imediatamente nomeado vigário episcopal da região Flores, e depois, em 21 de dezembro de 1993, foi-lhe confiada a tarefa de vigário-geral da arquidiocese. Pouco tempo depois, em 3 de Junho de 1997, foi nomeado arcebispo coadjutor de Buenos Aires, ou seja, foi designado como sucessor do Cardeal Quarracino, tornando-se automaticamente primaz da Argentina quando este cessasse suas funções.

Menos de nove meses depois, o Cardeal Quarracino faleceu. Assim, o bispo Bergoglio foi nomeado arcebispo de Buenos Aires, em 28 de Fevereiro de 1998, sucedendo o cardeal morto também como primaz da Argentina e ordinário para os fiéis de rito oriental residentes no país e desprovidos de ordinário do próprio rito.

Enquanto arcebispo de Buenos Aires, desenvolveu um projeto missionário centrado na comunhão e na evangelização, com quatro finalidades principais: comunidades abertas e fraternas; protagonismo de um laicato consciente; evangelização destinada a cada habitante da cidade; e assistência aos pobres e aos enfermos.

Cardeal Bergoglio

Poucos anos mais tarde, no Consistório de 21 de fevereiro de 2001, Bergoglio foi criado cardeal, recebendo do Papa João Paulo II o título de São Roberto Bellarmino. Em outubro do mesmo ano, foi nomeado relator-geral adjunto da 10º Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, dedicada ao ministério episcopal, substituindo o arcebispo de Nova Iorque, Cardeal Edward Michael Egan.

Já em 2002, o episcopado argentino escolheu o Cardeal Bergoglio como presidente de sua conferência, mas ele recusou a nomeação. Três anos mais tarde, foi eleito para o cargo e acabou aceitando a missão, que se renovou para o triênio seguinte, a partir de 2008.

Neste meio tempo, participou do conclave que elegeu o Cardeal Joseph Ratzinger como o 265º Papa, em 2005, após a morte de João Paulo II. O Cardeal Bergoglio também esteve presente na 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, que ficou conhecida como Conferência de Aparecida, em 2007, quando encabeçou a Comissão de Redação do documento final.

Papa Francisco

Após a renúncia do Papa Bento XVI em fevereiro de 2013, o Cardeal Bergoglio viajou para Roma para participar do conclave para escolher um novo Papa. Após deixar seu apartamento em Buenos Aires, não esperava que não retornaria ao seu país-natal. Ele foi eleito o 266º Papa da Igreja Católica a 13 de março de 2013, tornando-se o primeiro Papa jesuíta e assumindo o nome de Francisco.

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