Especial

Presença do Papa no ambiente digital mostra atenção da Igreja

Bispo, padre e membro do Dicastério para a Comunicação do Vaticano refletem sobre como trabalho de evangelização de Francisco no ambiente digital exprime autenticidade e proximidade

Julia Beck
Da redação

Foto: Vincenzo Nuzzolese SOPA ImagesSipa USA

O ambiente digital tem sido cada vez mais acessado pela Igreja. Há alguns anos, quem imaginaria encontrar, nas principais redes sociais, perfis oficiais de um Papa? E acompanhar de perto mensagens, viagens e outros momentos de um Santo Padre? Esta é a realidade atual de uma Igreja que “assumiu o trabalho de evangelização em todos os meios criados pela inteligência humana”, explica o presidente da Comissão para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Valdir José de Castro.

Dom Valdir José de Castro /Foto: Diocese de Campo Limpo

O bispo frisa que o Papa Francisco está presente também nas redes sociais porque compreende a importância do ambiente digital. “Ele nos mostra, com o seu testemunho, que o desafio da Igreja é estar lá onde estão as pessoas”, reflete. Ele recorda que são milhões de pessoas que navegam pela Internet. Nesta ação, além de buscar por informações e entretenimento, há também quem busque sentido para a vida.

“A Igreja não pode se omitir no anúncio do Evangelho e de gerar novos discípulos e discípulas para Jesus. (…) O Papa Paulo VI já havia afirmado, na Evangelii Nuntiandi, que ‘a Igreja viria a sentir-se culpável diante do seu Senhor, se ela não lançasse mão destes meios potentes que a inteligência humana torna cada dia mais aperfeiçoados’ (EN, nº 45). Hoje, no que se refere às tecnologias, o grande desafio é estar cada vez mais presente no ambiente digital”, acrescenta.

“Estilo de Deus”

O jornalista do Dicastério para a Comunicação do Vaticano e redator do Vatican News, Thulio Fonseca, lembra que a proximidade é uma característica marcante do pontificado de Francisco. E o próprio Papa afirma que a proximidade é o “estilo de Deus” pautado também pela compaixão e ternura.

“Nos dias de hoje, essa atitude nas redes sociais é extremamente importante, pois o Papa, como líder da Igreja Católica em sua universalidade, não poderia ficar ausente desses meios”, assinala. Além disso, Fonseca acredita que a figura do Pontífice, que se posiciona diante de diversos acontecimentos que assolam a humanidade, exerce uma influência imensa. “Essa presença não apenas aproxima o Santo Padre de seus fiéis, mas também alcança homens e mulheres de boa vontade em todo o mundo”.

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O mestre e doutorando em Comunicação Social, padre Francisco Galvão, afirma que Francisco é um exemplo de simplicidade e proximidade, dentro e fora das redes. “Não há dualidade entre o seu testemunho de vida e sua atuação nas redes sociais.” 

Ser um comunicador é um risco, pois leva à vulnerabilidade, prossegue o sacerdote. “Nem todo mundo está disposto a abrir as portas do coração com verdade e sinceridade”. Para o presbítero, não há outro caminho para evangelizar nas redes que não passe pela capacidade de ser autêntico. “Com ele [Papa] temos muito o que aprender, especialmente no âmbito da autenticidade, sem a qual a nossa presença na internet não atrairá ninguém”.

Relação do Papa com os jornalistas

Nesta relação entre Igreja e comunicação, a estreita ligação do Santo Padre com os jornalistas e os comunicadores é um destaque. Dom Valdir sublinha que o Pontífice é consciente da importância, dentro da sociedade de modo geral, dos profissionais ligados à área da comunicação. Muitos deles têm influência na sociedade e formam opinião.

“Nada mais correto do que estar próximo desses profissionais para ajudá-los a compreender a importância deles na sociedade contemporânea, para esclarecer certas interpretações errôneas a respeito da Igreja, para transmitirem informações seguras para evitarem a difusão de notícias falsas”, comenta o bispo.

Thulio frisa que o Papa Francisco se destaca por sua clareza e objetividade na comunicação. “Com ele, não há espaço para as famosas ‘meias palavras’. A transparência e o compromisso com uma Igreja acessível são marcas fundamentais de seu pontificado, alinhando-se à sua característica única de simplicidade. Essa postura reflete as necessidades dos tempos atuais, em que as pessoas anseiam por proximidade e verdade”.

O jornalista do Dicastério para a Comunicação do Vaticano recorda que, desde os tempos em que era cardeal na Argentina, Francisco buscava uma comunicação direta, dispensando intermediários ou os tradicionais porta-vozes. Essa abordagem, opina Fonseca, evidencia seu desejo por uma Igreja, uma fé e uma evangelização críveis, sustentadas pelo testemunho e por atitudes concretas.

“O exemplo do Papa Francisco inspira a Igreja como um todo, demonstrando como evangelizar por meio da construção de pontes, da valorização da misericórdia, do uso de histórias acessíveis, de perguntas que estimulam a reflexão e de uma combinação equilibrada entre bom humor e seriedade, quando necessário”, reforça.

Comunicação do Vaticano

Thulio Fonseca e o Papa Francisco /Foto: Arquivo Pessoal

O redator do Vatican News explica que, dentro da estrutura do Vaticano, existe o Dicastério para a Comunicação, um órgão instituído pelo Papa Francisco após a reforma da Cúria Romana. No que diz respeito à comunicação com o público externo, o Vatican News, portal de informações da Santa Sé, atua em conjunto com a Rádio Vaticano, o jornal L’Osservatore Romano e o Vatican Media. O objetivo dessas plataformas, prossegue, é responder “sempre melhor às necessidades da missão da Igreja” no contexto da cultura contemporânea.

Fonseca assinala que essa estrutura não se limita a uma simples convergência digital. Ela busca antecipar e responder às contínuas mudanças nos meios e formas de comunicação, com a missão de “comunicar o Evangelho da misericórdia a todos os povos” nas mais diversas culturas. O trabalho do Dicastério se expressa por meio de áudio, vídeo, texto e imagens, interagindo em múltiplos idiomas, culturas, canais e dispositivos, com uma atenção especial às redes sociais e às plataformas digitais.

Equipe brasileira do Vatican News /Foto: Arquivo Pessoal – Thulio Fonseca

Avanços tecnológicos

Fonseca ressalta que a Igreja acredita que o Espírito Santo renova e suscita novas realidades de forma precisa e providencial, auxiliando a humanidade a comunicar criativamente a mensagem de salvação. “Com os avanços tecnológicos e os inúmeros desafios que eles trazem, não foi diferente”, opina o jornalista do Vatican News.

Thulio comenta ainda que os avanços impressionantes na comunicação nos últimos 100 anos alteraram profundamente os cenários mundiais e modificaram as formas de relacionamento, catequese e evangelização. “A Igreja, com prudência e coragem, deu passos contínuos e não ficou para trás. Vale destacar sua presença em diversas inovações, desde a tipografia até o rádio, do telefone às redes sociais. Em cada um desses contextos, a Igreja buscou atuar com discernimento, analisando cuidadosamente o terreno digital antes de avançar”.

Os desafios, desde então, não são poucos, acredita o membro do Dicastério para a Comunicação do Vaticano. A partir disso, ele afirma que a maneira de lidar com esses desafios segue uma linha consistente: a de não perder de vista as palavras de Jesus aos discípulos antes de sua ascensão aos céus: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.”

Inteligência Artificial

A inteligência artificial (IA), a tecnologia da vez, tem atraído o olhar e a atenção da Igreja. Em junho de 2024, em uma sessão do G7 sobre IA, Francisco enfatizou a ambivalência deste recurso e sua extrema complexidade. Sobre os apontamentos do Santo Padre, Thulio indica a necessidade de compreensão da etimologia do termo evangelizar, derivado do grego euangelion, que significa “boa notícia” ou “boa mensagem”.

“Evangelizar, nesse contexto, é mais do que simplesmente anunciar; é comunicar algo transformador, promovendo reflexões que gerem o bem comum, diálogo e discernimento ético. Na era da IA, isso deve ser considerado”.

Desse modo, Thulio entende que o discurso do Papa Francisco ilustrou como a Igreja, ao longo dos séculos, buscou dialogar com questões centrais da humanidade, envolvendo ciência, tecnologia e ética. Ao comunicar suas reflexões sobre a IA, Fonseca assinala que Francisco exerce o seu papel de evangelizador, no sentido de trazer uma mensagem profundamente humanizadora e moral, alertando sobre a necessidade de colocar a dignidade humana e o bem comum no centro das decisões. Já no contexto da rápida evolução tecnológica, a visão do Papa reforça a necessidade de humanizar os avanços, garantindo que sirvam ao bem-estar humano, e não apenas aos interesses econômicos ou geopolíticos.

Jubileu das Comunicações

Dentre os inúmeros eventos que acontecerão em Roma, por ocasião do Ano Santo, está o Jubileu do Mundo das Comunicações, que começa nesta sexta-feira, 24, e se estende até os dias 25 e 26 de janeiro. A audiência do Papa com representantes dos comunicadores do mundo todo, a passagem pela Porta Santa da Basílica de São Pedro e também a Celebração Eucarística com Francisco estão entre os principais eventos assinalados por Dom Valdir.

“Serão momentos importantes para os comunicadores católicos renovarem o compromisso com o anúncio do Evangelho e com o seguimento de Jesus, que é a nossa esperança”, reflete o bispo.

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Thulio acredita que a esperança, que é o motor do Jubileu de 2025, precisa ser compartilhada, e essa importante missão tem suas bases firmemente estabelecidas por meio da comunicação, ou melhor, pelos comunicadores.

“Hoje sabemos como uma palavra, uma mensagem, um post em uma rede social ou até mesmo um comentário ou emoji podem refletir inúmeras realidades. Por isso, a Igreja deseja que o reflexo principal dessa comunicação seja, de fato, a esperança — a esperança que, como o Papa Francisco tem repetido, jamais decepciona. A tarefa deste Jubileu da Comunicação, portanto, é propagar a alegria do Evangelho e seu poder transformador”, conclui.

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