Na Missa desta quinta-feira, 26, Francisco dirigiu seu pensamento aos anciãos sozinhos, aos trabalhadores precários e aos que realizam uma função social e podem ser acometidos pelo coronavírus
Da redação, com Vatican News
Na Missa desta quinta-feira, 26, realizada pelo Papa Francisco na Capela da Casa Santa Marta, o Pontífice rogou a Deus para que ajude a humanidade a vencer o medo neste tempo caracterizado pela pandemia do Covid-19. O Santo Padre iniciou a celebração eucarística com a seguinte prece:
“Nestes dias de tanto sofrimento, há tanto medo. O medo dos anciãos, que se encontram sozinhos, nas casas de repouso ou no hospital ou na casa deles, e não sabem o que pode acontecer. O medo dos trabalhadores sem trabalho fixo, que pensam como prover o alimento a seus filhos e veem a fome chegar. O medo de tantos agentes sociais que, neste momento, ajudam a sociedade a seguir adiante e podem pegar a doença. Também o medo – os medos – de cada um de nós: cada um sabe qual é o próprio. Rezemos ao Senhor a fim de que nos ajude a ter confiança e a tolerar e vencer os medos”.
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Na homilia, comentando a primeira leitura, extraída do livro do Êxodo (Ex 32,7-14), que conta o episódio do bezerro de ouro, Francisco falou dos ídolos do coração, ídolos escondidos, muitas vezes, de modo astucioso, ressaltando que a idolatria faz homens e mulheres perderem tudo, até mesmo os próprios dons do Senhor. A idolatria leva a uma religiosidade errônea, alertou o Pontífice. Em seguida, o Papa pediu para que façam um exame de consciência para descobrirem seus ídolos escondidos.
Íntegra da homilia
“Na primeira Leitura encontra-se a cena do amotinamento do povo. Moisés subiu ao Monte para receber a Lei: Deus a deu a ele, em pedra, escrita com seu dedo. Mas o povo se entediou e se comprimiu em torno a Aarão e disse: ‘Mas, este Moisés, faz tempo que não sabemos onde está, para onde foi e nós estamos sem guia. Faça-nos um deus que nos ajude a seguir adiante’. E Aarão, que depois será sacerdote de Deus, mas ali foi sacerdote da estupidez, dos ídolos, disse: ‘Sim, deem-me todo o ouro e a prata que têm’, e eles deram tudo e fizeram aquele bezerro de ouro.
No Salmo, ouvimos o lamento de Deus: ‘Construíram um bezerro no Horeb e adoraram uma estátua de metal; eles trocaram o seu Deus, que é sua glória, pela imagem de um boi que come feno’. E aí, neste momento, quando começa a Leitura: ‘O Senhor disse a Moisés: ‘Vai, desce, pois se corrompeu o teu povo, que tiraste da terra do Egito. Bem depressa desviaram-se do caminho que lhes prescrevi. Fizeram para si um bezerro de metal fundido, inclinaram-se em adoração diante dele e ofereceram-lhe sacrifícios, dizendo: ‘Estes são os teus deuses, Israel, que te fizeram sair do Egito!’”. Uma verdadeira apostasia! Do Deus vivo à idolatria. Não teve paciência para esperar que Moisés retornasse: queriam novidades, queriam algo, espetáculo litúrgico, alguma coisa…
Gostaria de acenar algumas coisas sobre isso: Em primeiro lugar, aquela saudade idolátrica: neste caso, pensava nos ídolos do Egito, mas a saudade de voltar aos ídolos, voltar ao pior, não saber esperar o Deus vivo. Essa saudade é uma doença, também nossa. Inicia-se a caminhar com o entusiasmo de ser livres, mas depois começam as lamentações: ‘Mas sim, este é um momento duro, o deserto, tenho sede, quero água, quero carne… mas, no Egito, comíamos as cebolas, as coisas boas, e aqui não se tem…’ Sempre a idolatria é seletiva: leva você a pensar nas coisas boas que lhe dá, mas não o deixa enxergar as coisas ruins. Neste caso, eles pensavam como era quando estavam à mesa, com essas refeições tão boas das quais gostavam tanto, mas esqueciam que aquela mesa era a mesa da escravidão.
Depois, outra coisa: a idolatria faz você perder tudo. Aarão, para fazer o bezerro, pede ouro: ‘Deem-me ouro e prata’: mas era o ouro e a prata que o Senhor tinha dado a eles, quando lhes disse: ‘Peçam ouro emprestado aos egípcios’, e depois foram embora com o ouro. É um dom do Senhor e com o dom do Senhor fazem o ídolo. E isso é muito feio. Mas esse mecanismo acontece também conosco: quando temos atitudes que nos levam à idolatria, somos apegados a coisas que nos distanciam de Deus, porque nós fazemos outro deus e o fazemos com os dons que o Senhor nos deu. Com a inteligência, com a vontade, com o amor, com o coração… são os próprios dons do Senhor que nós usamos para fazer a idolatria.
Sim, alguém de vocês pode me dizer: ‘Mas eu não tenho ídolos em casa. Tenho o Crucifixo, a imagem de Nossa Senhora, que não são ídolos…’ – Não, não: no seu coração. E a pergunta que hoje devemos fazer é: qual é o ídolo que você tem no seu coração, no meu coração. Aquela saída escondida onde me sinto bem, que me distancia do Deus vivo. E nós temos também um atitude, com a idolatria, muito astuto: sabemos esconder os ídolos, como fez Raquel quando fugiu de seu pai e os escondeu na sela do camelo e entre as roupas. Também nós, entre as nossas roupas do coração, escondemos muitos ídolos.
A pergunta que gostaria de fazer hoje é: qual é o meu ídolo? Aquele meu ídolo do mundanismo… e a idolatria chega também à piedade, porque eles queriam o bezerro de ouro não para fazer um circo: não. Para fazer adoração. ‘Prostraram-se diante dele’. A idolatria leva você a uma religiosidade errônea, aliás, muitas vezes, o mundanismo, que é uma idolatria, faz você mudar a celebração de um sacramento numa festa mundana. Um exemplo: não sei, penso, pensemos, não sei, uma celebração de casamento. Você não sabe se é um sacramento onde realmente os recém-casados dão tudo e se amam diante de Deus e prometem ser fiéis diante de Deus e recebem a graça de Deus, ou se é uma exposição de modelos, como um e o outro estão vestidos e o outro… o mundanismo. É uma idolatria. Isso é um exemplo. Porque a idolatria não se cessa: segue sempre adiante.
Hoje, a pergunta que eu gostaria de fazer a todos nós, a todos: quais são os meus ídolos? Cada um tem os seus. Quais são os meus ídolos. Onde os escondo. E que o Senhor não nos encontre, no final da vida, e diga de cada um de nós: ‘Você se corrompeu. Você se distanciou do caminho que eu tinha indicado. Você se prostrou diante de um ídolo’. Peçamos ao Senhor a graça de conhecer nossos ídolos. E se não podemos expulsá-los, ao menos os coloquemos de lado…”
Adoração e a bênção eucarística
Por fim, o Papa terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Santo Padre:
“Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!”.
Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo, foi entoada a antiga antífona mariana Ave Regina Caelorom (“Ave Rainha dos Céus”).