Audiência no Vaticano

Papa: "uma fé que não nos põe em crise é uma fé em crise"

Dignidade, discernimento e fé foram as três palavras refletidas pelo Papa Francisco aos participantes da Assembleia Plenária da Congregação para a Doutrina da Fé

Da Redação, com Vatican News

Papa Francisco / Foto: REUTERS – Remo Casilli

Na manhã desta sexta-feira, 21, o Papa Francisco recebeu os participantes da Assembleia Plenária da Congregação para a Doutrina da Fé. O discurso de Francisco foi baseado em três palavras: dignidade, discernimento e fé.

Ao refletir sobre a palavra dignidade, o Papa recordou que, na época atual, marcada por tantas tensões sociais, políticas e até mesmo relacionadas à saúde, há uma tentação crescente de considerar o outro como um estranho ou um inimigo, negando-lhe a verdadeira dignidade. E em especial neste momento, é preciso lembrar o ensinamento da Igreja de que a dignidade de todo ser humano tem um caráter intrínseco e é válida desde o momento da concepção até a morte natural.

“A afirmação da dignidade é o pré-requisito inalienável para a proteção de uma existência pessoal e social, e também a condição necessária para que a fraternidade e a amizade social sejam realizadas entre todos os povos da Terra”.

“A Igreja – continuou o Pontífice – desde o início de sua missão sempre proclamou e promoveu o valor intangível da dignidade humana. O homem é de fato a obra-prima da criação: é querido e amado por Deus como parceiro em seus planos eternos, e por sua salvação Jesus deu sua vida ao ponto de morrer na cruz por cada homem, por cada um de nós”.

Discernimento

Com relação ao discernimento, o Pontífice refletiu sobre três aspectos. O primeiro foi sobre a maior necessidade de espiritualidade nos tempos atuais, que nem sempre encontra seu ponto de referência no Evangelho. Assim, não é raro lidar com supostos fenômenos sobrenaturais, para os quais o povo de Deus deve receber indicações confiáveis e sólidas, aconselhou Francisco.

O segundo aspecto do discernimento “encontra uma aplicação necessária na luta contra abusos de todo tipo”. “A Igreja com a ajuda de Deus, leva adiante com determinação seu compromisso de fazer justiça às vítimas de abusos por parte de seus membros, aplicando com especial cuidado e rigor a legislação canônica prevista”.

Francisco recordou também que recentemente atualizou as normas sobre crimes reservados à Congregação para a Doutrina da Fé. Esta foi uma medida para tornar a ação judicial mais incisiva. “Isto por si só não pode ser suficiente para conter o fenômeno, mas é um passo necessário para restabelecer a justiça, reparar o escândalo e emendar o réu”.

E o terceiro aspecto do discernimento referia-se “à dissolução do vínculo matrimonial in favorem fidei”. “Quando em virtude do poder petrino, a Igreja concede a dissolução de um vínculo matrimonial não-sacramental, não se trata apenas de pôr um fim canônico a um casamento, que já falhou de fato, mas, na realidade, através deste ato eminentemente pastoral, pretendo sempre favorecer a fé católica – in favorem fidei! – na nova união e na família, da qual este novo casamento será o núcleo”.

Francisco destacou ainda um outro importante aspecto: a necessidade de discernimento no caminho sinodal. “Um caminho sinodal sem discernimento não é um caminho sinodal. É necessário discernir continuamente opiniões, pontos de vista e reflexões. Não se pode percorrer o caminho sinodal sem discernir”.

A fé

Por fim, o Papa refletiu sobre a palavra fé. Iniciou recordando o fundamento da Congregação, que é o de não apenas para defender, mas também para promover a fé. “Sem fé, a presença de crentes no mundo seria reduzida à de uma agência humanitária”.

“Nunca devemos esquecer – afirmou – que uma fé que não nos põe em crise é uma fé em crise; uma fé que não nos faz crescer é uma fé que deve crescer; uma fé que não nos questiona é uma fé sobre a qual nos devemos questionar; uma fé que não nos anima é uma fé que deve ser animada; uma fé que não nos sacode é uma fé que deve ser sacudida”.

Francisco concluiu seu discurso com um apelo a manter sempre acesa a chama da fé. “Não nos contentemos com uma fé morna e habitual. Colaboremos com o Espírito Santo e uns aos outros para que o fogo que Jesus trouxe ao mundo possa continuar aceso e incendiar o coração de todos”.

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