Francisco comenta a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA, pedindo tempo e rejeitando ser um dos “profetas de calamidades”
Da redação, com Agência Ecclesia
O Papa Francisco alertou em entrevista publicada, neste domingo, 22, na Espanha, para os riscos de messianismos políticos em tempos de crise, lembrando a experiência alemã com Hitler.
“O caso da Alemanha em 1933 é típico. Havia um povo que estava em crise, em busca da sua identidade e apareceu este líder carismático [Adolf Hitler] que prometeu dar-lhes uma. Deu-lhes uma identidade distorcida e depois já sabemos o que aconteceu”, referiu, em declarações ao ‘El País’.
O Papa tinha sido questionado sobre a ascensão ao poder de líderes populistas e a crise dos refugiados na Europa, lamentando que o Mediterrâneo se tenha transformado num “cemitério”.
“Procuramos um salvador que nos devolva a identidade e defendemo-nos com muros, com arames farpados, com o que for, dos outros povos que nos podem roubar a identidade e isso é muito grave. Por isso, procuro sempre dizer: dialoguem entre vocês, dialoguem entre vocês”, defendeu.
Numa das mais longas entrevistas do atual pontificado, Francisco comenta a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA, pedindo tempo e rejeitando ser um dos “profetas de calamidades”.
“Veremos o que ele faz e então podemos avaliar”, sustenta.
O Papa confessa a sua preocupação com a eventualidade de uma “guerra nuclear” e com os perigos da concentração da riqueza, da “desproporção econômica”, além de mostrar-se impressionado com os casos de “escravidão” de mulheres com quem se encontrou.
Francisco diz que a resposta aos seus apelos em favor dos refugiados por parte das instituições católicos foi “maior do que se pensa”, porque o acolhimento tem sido feito “sem publicidade”, realçando que as verdadeiras respostas estão nos países de origem.
Em relação à vida da Igreja, o Papa assume não recear debate na Igreja Católica, mas sim de responsáveis “anestesiados” e reféns do “clericalismo”.
Francisco refere ter encontrado na Cúria Romana a “normalidade” da vida da Igreja, com “santos e pecadores”, pessoas “decentes” e outras “corruptas”, mas sobretudo “muitos santos”.
Em relação às mudanças em curso, o Papa diz apenas querer uma Igreja mais “próxima” e rejeita a ideia de “revolução” ou de ser “incompreendido”, considerando que Paulo VI, que encerrou o Concílio Vaticano II (1962-1965) foi mal entendido e mesmo “um mártir”.
“Não estou a fazer qualquer revolução, estou a procurar que o Evangelho siga em frente”, assinala, reconhecendo que nem sempre o faz da melhor forma.
A entrevista conclui-se com a reafirmação de que, tal como o seu predecessor, Francisco renunciará ao pontificado se sentir que é a decisão correta.
“Quando entender que não posso mais, o meu grande mestre Bento XVI já me ensinou como se deve fazer”, explica.
O Papa falou ainda da importância de valorizar o “gênio feminino” na vida da Igreja, dos problemas da violência e das migrações na América Latina e de momentos em que se sentiu “usado” por políticos que o visitaram no Vaticano.