Homilia do Pontífice no Santuário Nacional de Nossa Senhora das Dores, em Šaštin, na Eslováquia, centralizou-se na figura de Maria
Da redação, com Vatican News
Maria esteve no centro da homilia da missa presidida pelo Papa Francisco na Esplanada do Santuário Nacional de Nossa Senhora das Dores, em Šaštin, na Eslováquia, na manhã desta quarta-feira, 15.
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“A Mãe que nos dá o Filho Jesus. Maria é o caminho que nos introduz no Coração de Cristo, que deu a vida por nosso amor. Podemos olhar para Maria como modelo da fé”, disse o Papa. “Na sua fé reconhecemos três caraterísticas: o caminho, a profecia e a compaixão”.
Maria e o caminho
A fé de Maria é uma fé que se põe a caminho, frisou o Papa. Francisco recordou que a jovem de Nazaré, logo que recebeu o anúncio do Anjo, “pôs-se a caminho (…) para a montanha”. O objetivo era ir visitar e ajudar Isabel, sua prima.
Maria “viveu aquele dom recebido como missão a cumprir; sentiu necessidade de abrir a porta e sair de casa; deu vida e corpo à impaciência com que Deus quer alcançar todos os homens para os salvar com o seu amor”, ressaltou o Santo Padre.
Por isso, o Pontífice explicou que Maria se colocou a caminho: prefere as incógnitas do caminho do que a comodidade dos seus hábitos. Prefere a fadiga do caminho ao invés da estabilidade da casa. O risco de uma fé que se põe em jogo, afirmou Francisco.
Francisco ressaltou que Nossa Senhora tornou-se dom de amor. Toda a sua vida foi um caminho atrás do seu Filho, como primeira discípula, até ao Calvário, ao pé da Cruz. “Maria sempre caminha”.
“A Virgem é modelo da fé deste povo eslovaco: uma fé que se põe a caminho, sempre animada por uma devoção simples e sincera, sempre em peregrinação à procura do Senhor”, disse ainda o Papa.
A profecia
A fé de Maria é também uma fé profética, comentou o Santo Padre. Com a sua própria vida, o Pontífice destacou que a jovem de Nazaré é profecia da obra de Deus na história, da sua ação misericordiosa que subverte as lógicas do mundo, exaltando os humildes e derrubando os soberbos.
Segundo o Papa, Maria é a Filha de Sião anunciada pelos profetas de Israel. Ela é a Virgem que conceberá o Deus conosco, o Emanuel. Como Virgem Imaculada, Francisco frisou que Maria é ícone da vocação de homens e mulheres: “Como Ela, somos chamados a ser santos e imaculados no amor, tornando-nos imagem de Cristo”.
Maria “traz no seu ventre a Palavra de Deus que se fez carne, Jesus”, disse ainda o Pontífice. Ela convida homens e mulheres a não se esquecerem que a fé não pode ser reduzida “a um açúcar que adoça a vida”.
Jesus, prosseguiu o Santo Padre, é sinal de contradição. “Veio para trazer a luz onde há trevas, pondo as trevas a descoberto e forçando-as a renderem-se. Por isso, as trevas lutam sempre contra Ele. Quem acolhe Cristo e se abre para Ele, ressuscita; quem o rejeita, encerra-se na escuridão e arruína-se a si mesmo”.
Eslováquia precisa de profetas
O Pontífice afirmou que diante de Jesus, não se pode ficar morno, com “o pé em dois sapatos”. “Acolhê-lo significa aceitar que Ele desvende as minhas contradições, os meus ídolos, as sugestões do mal, e se torne para mim ressurreição, aquele que sempre me levanta, que me toma pela mão e me faz recomeçar. Sempre me levanta”.
Também hoje a Eslováquia precisa destes profetas, comentou o Santo Padre. Aos bispos, o Papa pediu que que sigam este caminho. Segundo ele, não se trata de ser hostis ao mundo, mas ser “sinais de contradição” no mundo.
“Cristãos que sabem mostrar, com a vida, a beleza do Evangelho: que são tecedores de diálogo onde as posições se tornam rígidas; que fazem resplandecer a vida fraterna na sociedade, onde muitas vezes nos dividimos e contrapomos; que difundem o bom perfume do acolhimento e da solidariedade, onde muitas vezes prevalecem os egoísmos pessoais e coletivos; que protegem e guardam a vida onde reinam lógicas de morte”.
A compaixão
“Maria é a Mãe da compaixão. A sua fé é compassiva”, disse ainda Francisco. Ela é aquela que se definiu como “a serva do Senhor” e se preocupou, com solicitude materna, de que não faltasse o vinho nas bodas de Caná, partilhou com o Filho a missão da salvação, até ao pé da Cruz, complementou o Papa.
Junto da cruz, prosseguiu o Pontífice, Nossa Senhora das Dores simplesmente permanece. “Não foge, não tenta salvar-se a si mesma, não usa artifícios humanos nem anestésicos espirituais para escapar da dor. Esta é a prova da compaixão: ficar junto da cruz. Ficar com o rosto marcado pelas lágrimas, mas com a fé de quem sabe que, no seu Filho, Deus transforma o sofrimento e vence a morte”.
E também, olhando para a Virgem Mãe Dolorosa, o Santo Padre afirmou que homens e mulheres se abrem a uma fé que se torna compaixão, que se torna partilha de vida com quem está ferido, quem sofre e quem é constrangido a carregar nos ombros cruzes pesadas. Uma fé que não se fica no abstrato, mas faz-nos entrar na carne e nos torna solidários com os necessitados.
“Esta fé, no estilo de Deus, humilde e silenciosamente levanta o sofrimento do mundo e irriga os sulcos da história com a salvação”, comentou.
Despedida do povo eslovaco
No final da missa, o Papa Francisco despediu-se da Eslováquia com uma saudação: “Nesta Eucaristia, dei graças a Deus por ter-me concedido a graça de vir estar com vocês e concluir a minha peregrinação no devoto abraço de seu povo, celebrando juntos a grande festa religiosa e nacional da Padroeira, Nossa Senhora das Dores”.
Por fim, o Papa agradeceu ao povo eslovaco pelo acolhimento e a todos aqueles que colaboraram de diversos modos, especialmente com a oração, na preparação de sua visita ao país.