Na Audiência desta quarta-feira, 20, Francisco refletiu sobre virtude da prudência, definindo-a como a capacidade de direcionar as ações para o bem
Da Redação, com Vatican News
A virtude da prudência foi o centro da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, 20. Ele foi ao encontro dos peregrinos reunidos na Praça São Pedro e prosseguiu com o ciclo de reflexões sobre vícios e virtudes, confiando a leitura do texto preparado ao padre rosminiano Pierluigi Giroli devido a dificuldades com a voz.
No início de sua reflexão, o Pontífice recorda que a prudência é uma das quatro virtudes cardeais, junto à fortaleza, temperança e justiça. Elas não são uma prerrogativa cristã, mas estão ligadas à herança da sabedoria antiga, em particular dos filósofos gregos.
Já nos escritos medievais, comenta, a apresentação das virtudes não é uma simples lista de qualidades positivas da alma. O Santo Padre indica que os teólogos, voltando aos autores clássicos à luz da revelação cristã, imaginaram o setenário das virtudes – as três teologais (fé, esperança e caridade) e as quatro cardeais – como uma espécie de organismo vivo, onde cada virtude tem um espaço harmonioso a ocupar.
“Prudente é aquele que é capaz de escolher”
Concentrando-se na prudência, Francisco pontua que esta não é a virtude da pessoa temerosa, sempre hesitante frente às decisões, nem é apenas cautela. “Dar primazia à prudência significa que a ação do homem está nas mãos da sua inteligência e da sua liberdade”, explica, acrescentando que a pessoa prudente é criativa – raciocina, avalia, tenta compreender a complexidade da situação vivida e não se deixa dominar pelas emoções.
O Papa ressalta que, em um mundo de aparências e superficialidades, torna-se cada vez mais necessário recuperar “a antiga lição da prudência”. Na sequência, define essa virtude como “a capacidade de governar as ações para direcioná-las para o bem”, ou seja, “prudente é aquele que é capaz de escolher”.
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“Quem é prudente não escolhe ao acaso: primeiro, sabe o que quer, considera as situações, procura conselhos e, com visão ampla e liberdade interior, escolhe qual o caminho a seguir. Isso não quer dizer que não possa cometer erros, afinal continuamos sempre humanos, mas, pelo menos, evitará grandes derrapagens”, expressa o Pontífice.
Além disso, ele enfatiza que, enquanto algumas pessoas tendem a descartar os problemas, a prudência é a qualidade de quem é chamado a governar, e “sabe que administrar é difícil, que há muitos pontos de vista e que é preciso tentar harmonizá-los, que se deve fazer o bem não a alguns, mas a todos”.
“Deus quer que sejamos santos inteligentes”
O Santo Padre também comenta que a prudência ensina que “o ‘ótimo’ é inimigo do ‘bom’”, ou seja, o zelo em demasia pode causar desastres em algumas situações, gerando conflitos e incompreensões e até mesmo desencadeando a violência.
“O prudente sabe preservar a memória do passado, não porque tenha medo do futuro, mas porque sabe que a tradição é um patrimônio de sabedoria. A vida é feita de uma sobreposição contínua de coisas velhas e coisas novas, e não é bom pensar sempre que o mundo começa a partir de nós, que temos de enfrentar os problemas começando do zero”, declara Francisco no texto.
Por fim, o Papa recordou algumas passagens do Evangelho que falam sobre a prudência, como “Quem constrói a sua casa sobre a rocha é prudente, e quem a constrói sobre a areia é imprudente” (cf. Mt 7,24-27), e “sábias são as damas de honra que trazem óleo para as suas lâmpadas e tolas são aquelas que não o fazem” (cf. Mt 25,1-13).
“A vida cristã é uma combinação de simplicidade e astúcia”, sublinha. “Deus não quer apenas que sejamos santos, ele quer que sejamos santos inteligentes, porque sem a prudência é fácil seguir o caminho errado”, conclui.
No vídeo acima, a reportagem é de Danúbia Gleisser e Leonardo Vieira