Papa se encontrou com pessoas responsáveis pela comunicação eclesiástica institucional; no discurso, frisou que a comunicação católica é para todos
Da Redação, com Vatican News
Um convite a um exame de consciência sobre o modo concreto como a Igreja comunica atualmente. Assim foi o discurso do Papa Francisco nesta segunda-feira, 27, aos presidentes das Comissões Episcopais da Comunicação e assessores de imprensa das Conferências Episcopais. A audiência trouxe um fechamento para o Jubileu das Comunicações realizado no fim de semana.
O Papa começou com alguns questionamentos: como semeamos esperança em meio a tanto desespero? Como lidamos com o vírus da divisão que ameaça as nossas comunidades? A nossa comunicação é acompanhada pela oração? Ou comunicamos a Igreja adotando somente as regras do marketing empresarial? Como indicamos uma perspectiva diferente em relação a um futuro que ainda não foi escrito?
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“Gosto desta expressão: escrever o futuro. Cabe a nós escrever o futuro. Sabemos comunicar que essa esperança não é uma ilusão? A esperança nunca decepciona, mas sabemos comunicar isso? Sabemos comunicar que a vida dos outros pode ser mais bela também através de nós? Eu posso contribuir a dar beleza à vida dos outros? E sabemos comunicar e convencer que é possível perdoar? É muito difícil isso.”
Comunicar construindo pontes
Para o Pontífice, a comunicação cristã é mostrar que o Reino de Deus está próximo: aqui, agora, e é como um milagre que pode ser vivido por cada pessoa. Um milagre que deve ser contado oferecendo chaves de leitura para olhar além do banal, do mal, dos preconceitos, dos estereótipos, de si mesmo.
O desafio é grande, reconheceu o Papa, encorajando os presentes a reforçar a sinergia entre si, seja em nível continental, seja universal. Comunicar construindo pontes é uma alternativa às novas torres de Babel. “Pensem nisso. As novas torres de Babel: todos falam e não se entendem.”
Comunicar juntos e em rede
Para responder a todos esses interrogativos, o Pontífice indicou duas palavras: “juntos” e “rede”. Segundo ele, somente juntos é possível comunicar a beleza do encontro com Cristo e semear esperança. “Não se esqueçam disto: semear esperança.” Comunicar, prosseguiu, não é uma tática nem uma técnica, “comunicar é um ato de amor”. Somente um ato de amor gratuito tece redes de bem, redes que devem ser reparadas todos os dias.
Rede, aliás, não é uma palavra ligada à civilização digital, observou. Antes das redes sociais, já havia as redes dos pescadores e o convite de Jesus a Pedro a se tornar pescador de homens. “Pensemos então o que podemos fazer juntos graças aos novos instrumentos da era digital, graças também à inteligência artificial, se, em vez de transformar a tecnologia em um ídolo, nos comprometêssemos mais a fazer rede. Eu lhes confesso uma coisa: mais do que a inteligência artificial, preocupa-me aquela natural, aquela inteligência que nós devemos desenvolver.”
O segredo da força comunicativa da Igreja é fazer rede e ser rede, disse ainda o Papa, ao invés de se entregar às sirenes estéreis da autopromoção. O maior milagre de Jesus não é a rede cheia de peixes, mas não deixar que os pescadores fossem vítimas da desilusão e do desencorajamento. “Por favor, não cair na tristeza interior. Não perder o sentido do humorismo que é sabedoria, sabedoria de todos os dias.”
A comunicação católica é para todos, recordou Francisco. Não é uma “seita para falar entre nós”. É o espaço aberto de um testemunho que sabe ouvir e interceptar os sinais do Reino.
Igreja em saída
Por fim, mais uma interrogação: nossos escritórios, relações, redes são realmente de uma Igreja em saída? A Igreja deve sair de si mesma, concluiu o Santo Padre, oferecendo como imagem a narração do Apocalipse, em que o Senhor bate à porta para entrar.
“Mas agora, muitas vezes, o Senhor bate a partir de dentro para que nós, cristãos, o deixemos sair! E nós, muitas vezes, O prendemos somente para nós. Devemos deixar o Senhor sair – bate à porta para sair – e não ‘escravizá-lo’ para o nosso trabalho”, concluiu.