No Vaticano, Papa Francisco presidiu a Missa em sufrágio dos cardeais e bispos falecidos, convidando os fiéis a refletirem sobre como vivem a espera pelo encontro com Deus
Jéssica Marçal
Da Redação
Na despedida desse mundo, a surpresa será feliz se hoje nos deixarmos surpreender pela presença de Deus, que nos espera entre os pobres e feridos do mundo. Essa foi a reflexão do Papa Francisco neste Dia de Finados, 2, em Missa na Basílica de São Pedro. Francisco presidiu a celebração em sufrágio dos cardeais e bispos que faleceram ao longo do ano.
“Espera” e “surpresa” foram as duas palavras que nortearam a homilia do Papa. A espera, segundo ele, expressa o sentido da vida, porque se vive à espera do encontro com Deus. Os fiéis alimentam a espera pelo céu, movem-se no desejo do paraíso, observou Francisco. Mas é preciso perguntar-se se os desejos de hoje de fato estão relacionados com o Céu.
“Corremos o risco de aspirar continuamente a coisas que passam, confundir desejos com necessidades, antepor as expectativas do mundo diante da espera de Deus. Mas perder de vista o que conta para seguir o vento seria o maior erro da vida. Olhemos para o alto, porque estamos a caminho do Alto”.
Francisco lembrou que as melhores carreiras, os maiores sucessos, títulos, reconhecimentos e riquezas acumuladas desaparecerão em um instante. Toda expectativa colocada nisso ficará desiludida. Então o Papa convidou os fiéis a pensarem: “como vai a minha espera? Vou ao essencial ou me distraio em tantas coisas supérfluas? Cultivo a esperança ou sigo reclamando porque dou muito valor às coisas que não importam?”.
A surpresa de Deus
O Evangelho desse Dia de Finados ajuda nessa espera pelo amanhã, observou o Pontífice. O capítulo 25 do Evangelho de Mateus, refletido na celebração, traz uma surpresa: o Altíssimo está nos pequeninos, Aquele que habita os céus tem sua morada entre os mais insignificantes para o mundo.
Francisco pontuou que os fiéis podem esperar que o julgamento sobre a vida e sobre o mundo ocorra sob a bandeira da justiça, perante um tribunal resolutivo que esclareça para sempre as situações. Mas, no tribunal divino, o único chefe de mérito e de acusação é a misericórdia pelos pobres e descartados.
O Papa recordou que a medida de Jesus para o julgamento é um amor que vai além, seu critério é a gratuidade. E para se preparar, os fiéis sabem o que fazer: amar sem esperar nada em troca.
A hora é agora
O Pontífice alertou sobre o risco de atenuar, por conveniência ou comodidade, a mensagem de Jesus. É o risco de sempre colocar um “mas” como obstáculo para realizar alguma obra.
“Dar de comer a quem tem fome sim, mas a questão da fome é complexa e não posso resolvê-la eu (…) Acolher os migrantes sim, mas é uma questão geral, complicada, requer política….”, exemplificou o Papa. E assim, por meio de “mas”, se faz da vida um compromisso com o Evangelho.
“De simples discípulos do Mestre nos tornamos mestres da complexidade, que discutem muito e fazem pouco, que buscam respostas mais diante do computador do que diante do Crucifixo, na internet e não nos olhos dos irmãos e irmãs; cristãos que comentam, debatem e expõem teorias, mas não conhecem nem mesmo um pobre de nome, não visitam um doente há meses, nunca alimentam ou vestem alguém, nunca fizeram amizade com alguém necessitado, esquecendo que ‘o programa do cristão é um coração que vê’”, disse o Papa citando Bento XVI.
Concluindo a homilia, Francisco lembrou que a hora de agir é agora: “está nas nossas mãos, nas nossas obras de misericórdia: não nas pontuações e análises polidas”. O Evangelho explica como viver a espera: indo ao encontro de Deus amando, porque Ele é amor. “E espera ser acariciado não com palavras, mas com fatos”, concluiu o Papa.