Papa recebeu participantes de evento que discute a responsabilidade de governo nas agregações laicais
Da Redação, com Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência nesta quinta-feira, 16, os participantes do encontro com os moderadores de associações de fiéis, movimentos eclesiais e novas comunidades. O evento promovido pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida tem como tema “A responsabilidade de governo nas agregações laicais: um serviço eclesial”.
Francisco agradeceu aos participantes pela presença, apesar das dificuldades causadas pela pandemia, que impediu algumas pessoas de viajar por causa das restrições em vigor em muitos países. Saudou e agradeceu aqueles que participaram on-line. Também agradeceu por terem levado solidariedade e testemunho evangélico nesse cenário de pandemia.
“Apesar das restrições devido às medidas preventivas necessárias, vocês não se renderam, pelo contrário, sei que muitos de vocês multiplicaram suas ações, adaptando-se às situações concretas que tinham que enfrentar, com a criatividade que vem do amor, porque quem se sente amado pelo Senhor ama sem medida”.
Força missionária e presença profética
O Papa ressaltou ainda a missão eclesial e disse que as associações de fiéis, movimentos eclesiais e novas comunidades, apesar dos limites e pecados de todos os dias, são também um sinal claro da vitalidade da Igreja.
“Vocês são uma força missionária e uma presença profética que nos dá esperança para o futuro. Um futuro que deve ser preparado aqui e agora, aprendendo a ouvir e discernir o tempo presente com honestidade e coragem e com a disponibilidade de ter um encontro constante com o Senhor, uma constante conversão pessoal”.
Francisco pontuou que pertencer a uma associação, a um movimento ou a uma comunidade, especialmente se eles se referem a um carisma, não deve levar a se fechar num “barril de ferro”. Ou seja: não deve levar a se sentir seguro, como se não houvesse necessidade de responder aos desafios e mudanças. “Todos nós cristãos estamos sempre a caminho, sempre em conversão, sempre discernindo para fazer a vontade de Deus”.
O governo dentro das associações e movimentos
E no que diz respeito ao exercício do governo dentro das associações e movimentos, o Papa disse que esse é um tema que lhe é particularmente caro, “considerando os casos de abuso de vários tipos que ocorreram nessas realidades e que têm sempre a sua raiz no abuso de poder”.
“Muitas vezes, a Santa Sé teve que intervir nos últimos anos, iniciando difíceis processos de reabilitação. Penso não só nessas situações muito ruins, que fazem muito barulho, mas também nas doenças que vêm do enfraquecimento do carisma fundacional, que se torna morno e perde sua capacidade de atração”.
Desejo de poder e deslealdade
A seguir, o Papa citou dois obstáculos que um cristão pode encontrar no seu caminho e que o impedem de se tornar um verdadeiro servo de Deus e dos outros: o desejo de poder e a deslealdade.
O Papa pontuou que o desejo de poder anula todas as formas de subsidiariedade. “Essa atitude é ruim e acaba esvaziando o corpo eclesial de sua força. É uma maneira ruim de “disciplinar”.
Quanto à deslealdade, explicou que é como jogar um jogo duplo: querer servir a Deus, mas também servir a outras coisas. “Dizemos em palavras que queremos servir a Deus e aos outros, mas nos fatos servimos ao nosso ego e cedemos ao nosso desejo de aparecer, de ganhar reconhecimento e apreço. Não nos esqueçamos que o verdadeiro serviço é gratuito e incondicional, não conhece cálculos ou pretensões”, disse o Papa.
“Caímos na armadilha da deslealdade quando nos apresentamos aos outros como os únicos intérpretes do carisma, os únicos herdeiros de nossa associação ou movimento; ou quando, nos julgando indispensáveis, fazemos de tudo para ocupar cargos por toda a vida; ou ainda quando pretendemos decidir a priori quem deve ser o nosso sucessor. Ninguém é dono dos dons recebidos para o bem da Igreja, ninguém deve sufocá-los. Pelo contrário, cada um, onde o Senhor o colocou, é chamado a fazê-los crescer e frutificar, confiante no fato de que é Deus que tudo opera em todos e que o nosso verdadeiro bem frutifica na comunhão eclesial.
Francisco destacou, por fim, a necessidade de confiar no Espírito Santo, que age na vida de cada associação e de cada membro. “Daí a confiança no discernimento dos carismas confiados à autoridade da Igreja. Estejam cientes da força apostólica e do dom profético que hoje lhes são entregues de maneira renovada”, concluiu Francisco.