Em seu discurso, Papa Francisco dirigiu seu pensamento “afetuoso e agradecido” a Bento XVI, sublinhando sua herança cultural e espiritual
VaticanNews
O Papa Francisco entregou o Prêmio Ratzinger 2018, neste sábado, 17, na Sala Clementina, no Vaticano, a duas personalidades: Marianne Schlosser, 59 anos, teóloga alemã, docente de Teologia na Universidade Viena, nomeada pelo Papa Francisco, em 2014, membro da Comissão Teológica Internacional, e a Mario Botta, 75 anos, arquiteto suíço de fama internacional que trabalhou na construção de importantes edifícios de culto, na Itália e na França. É autor de uma das Capelas expostas no Pavilhão da Santa Sé na atual Bienal de Arquitetura em Veneza.
Em seu discurso, Francisco dirigiu seu pensamento “afetuoso e agradecido” a Bento XVI, sublinhando sua herança cultural e espiritual:
“Como admiradores de sua herança cultural e espiritual, vocês receberam a missão de cultivá-la e fazer com que continue frutificando, com aquele espírito fortemente eclesial que caracteriza Joseph Ratzinger desde os tempos de sua profícua atividade teológica juvenil, quando deu frutos preciosos no Concílio Vaticano II, e depois nas sucessivas etapas de sua longa vida de serviço, como professor, arcebispo, responsável de dicastério e Pastor da Igreja Universal. Encorajo-os a continuar estudando os seus escritos, mas também a enfrentar os novos temas com os quais a fé é chamada a dialogar, como os que foram evocados por vocês e que eu considero muito atuais, desde o cuidado da Criação como Casa comum e a defesa da dignidade da pessoa humana.”
Marianne Schlosser
Professora na Universidade de Viena e profundamente convicta, como Bento XVI, da importância da Teologia para comunicar a fé e tornar possível o diálogo entre o mundo acadêmico e o mundo dos fiéis, Marianne Schlosser é a segunda mulher, depois da biblista Anne-Marie Pelletier, a receber o Prêmio Ratzinger. Sobre isso, o Francisco disse:
“É muito importante que seja reconhecida cada vez mais a contribuição feminina no campo da pesquisa teológica científica e do ensino da Teologia, por muito tempo considerados campos quase exclusivos do clero. É necessário que essa contribuição seja incentivada e encontre mais espaço, coerentemente com o aumento da presença feminina nos vários âmbitos de responsabilidade da Igreja, em particular, e não somente no campo cultural.”
Mario Botta
Desde o ano passado que, além da Teologia, o Prêmio Ratzinger é atribuído ao campo das artes de inspiração cristã. Nessa edição, foi premiado o arquiteto Mario Botta que em sua longa carreira mostrou uma grande sensibilidade pela sacralidade do espaço, como mostram as igrejas projetadas por ele:
“Congratulo-me com o arquiteto Mario Botta. Ao longo da história da Igreja, os edifícios sagrados foram um chamado concreto a Deus e às dimensões do espírito onde quer que o anúncio cristão tenha se espalhado pelo mundo. Eles expressaram a fé da comunidade de fiéis (…). O compromisso do arquiteto criador de locais sagrados na cidade dos homens é de grande valor, e deve ser reconhecido e incentivado pela Igreja, em particular quando se corre o risco do esquecimento da dimensão espiritual e da desumanização dos espaços urbanos.”
Teologia, arte e Espírito
Permanecendo ancorado “ao nosso tempo” e voltando o olhar para a esperança sustentada pelo Espírito e pelo compromisso dos homens, o Papa Francisco concluiu, citando um discurso de Bento XVI em 2009:
Por ocasião de sua visita a Bagnoregio, cidade de São Boaventura, Bento XVI se expressou assim: “Uma bela imagem da esperança a encontramos num de seus sermões do Advento, onde ele compara o movimento da esperança ao voo do pássaro, que abre as asas da maneira mais ampla possível, e para movê-las emprega todas as suas forças. Faz de si mesmo um movimento para subir e voar. Esperar é voar, diz São Boaventura. Mas a esperança exige que todos os nossos membros se movam e projetem-se em direção ao verdadeiro auge do nosso ser, em direção às promessas de Deus. Quem espera, diz ele, “deve levantar a cabeça, voltando para o alto os seus pensamentos, em direção à altura e de nossa existência, ou seja, rumo a Deus”.