Reunindo-se com membros da ASMEL, Francisco destacou a necessidade de práticas sociais inovadoras como alternativa ao paradigma centrado no lucro para combater as desigualdades sociais e económicas, e reitera a sua preocupação com o agravamento da crise demográfica na Itália
Da redação, com Vatican News
As práticas sociais inovadoras, “que redescobrem formas de mutualidade e reciprocidade” e que cuidam da nossa casa comum “devem ser reconhecidas e apoiadas”, encorajando um “paradigma alternativo” à cultura generalizada do desperdício de hoje, disse o Papa Francisco.
Na verdade, as áreas marginalizadas da sociedade podem tornar-se “laboratórios de inovação social”, oferecendo “novas oportunidades onde outros apenas veem constrangimentos”, ou “recursos que outros consideram desperdício”, observou o Papa ao dirigir-se no sábado aos membros da Associação Italiana para a Subsidiariedade e a Modernização dos Órgãos Locais (ASMEL).
ASMEL
A associação foi fundada em 2010 para apoiar pequenos municípios em áreas remotas e muitas vezes desfavorecidas de Itália, promovendo o seu desenvolvimento econômico e social.
O Pontífice observou que as áreas em que a ASMEL opera são muitas vezes negligenciadas pelas autoridades centrais, devido às restrições financeiras, que apenas contribuem para aprofundar as desigualdades sociais e económicas entre as partes mais pobres e as mais ricas do país.
Círculos viciosos
“Aqui vemos um exemplo concreto de uma cultura do desperdício onde ‘tudo o que não serve para o lucro é descartado’”, observou o Sucessor de Pedro. Isto desencadeia “um círculo vicioso”, pois a falta de oportunidades muitas vezes leva a parte mais empreendedora da população a sair, fazendo com que estes territórios negligenciados sejam cada vez mais abandonados a si próprios. “Consequentemente, a necessidade de um Estado-Providência está a crescer nestes territórios, enquanto os recursos para responder a esta necessidade estão a diminuir.”
O Papa Francisco chamou também a atenção para outro aspecto ligado a esta tendência negativa: o despovoamento progressivo destes territórios torna mais difícil para eles cuidar do seu patrimônio natural, muitas vezes rico, levando-os a ficarem mais expostos a catástrofes naturais que são agora mais frequentes devido a eventos climáticos extremos.
O grito dos pobres e o grito da terra estão ligados
“Olhando para estes territórios”, observou, “podemos confirmar que ouvir o grito da terra significa ouvir o grito dos pobres e dos descartados, e vice-versa. Na fragilidade das pessoas e do ambiente reconhecemos que tudo está interligado, que a procura de soluções exige a leitura de fenómenos que muitas vezes são pensados como separados entre si”, ponderou Francisco.
Participação e inteligência artificial
Agradecendo à ASMEL pelo seu compromisso de proteger a dignidade das pessoas e de cuidar da nossa casa comum, mesmo em meio a recursos escassos e dificuldades, Francisco destacou duas estratégias promissoras empreendidas pela associação: uma colaboração mais estreita entre o sector público e privado, e em particular o sector privado social que, disse ele, oferece novas oportunidades para a participação popular e a utilização de novas tecnologias, incluindo a inteligência artificial.
“Estamos descobrindo quão poderosos eles podem ser como instrumentos de morte”, disse ele. “Podemos imaginar o quão benéfico poderia ser este poder se fosse utilizado não para a destruição, mas na lógica do cuidado: o cuidado das pessoas, das comunidades, dos territórios e da casa comum.
Preocupação com a crise demográfica
Concluindo, o Papa Francisco expressou novamente a sua preocupação com a crise demográfica, ou como ele a chamou, a “cultura do despovoamento”, que a Itália e outros países europeus enfrentam. “Devemos levar a sério o problema da natalidade porque aqui está em jogo o futuro do país”, disse ele, falando de improviso. “Ter filhos é um dever para sobreviver, para seguir em frente”, concluiu o Papa.