Mensagem

Papa: interessar-se pelos migrantes é interessar-se por todos

Nesta segunda-feira, 27, foi divulgada a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2019

Da redação, com Vatican News

Migrantes que chegaram em Malta neste último sábado, 25 / Foto: REUTERS – Darrin Zammit Lupi

“Não se trata apenas de migrantes” é o tema da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, divulgada nesta segunda-feira, 27. Este ano, a data será celebrada no dia 29 de setembro.

No texto, o Pontífice ressalta que os conflitos violentos não cessam de dilacerar a humanidade: “Sucedem-se injustiças e discriminações; tribula-se para superar os desequilíbrios econômicos e sociais, de ordem local ou global, e quem sofre as consequências de tudo isso são sobretudo os mais pobres e desfavorecidos”.

Segundo o Pontífice, as sociedades economicamente mais avançadas tendem a um acentuado individualismo que, associado à mentalidade utilitarista e multiplicado pela rede midiática, gera o que o Papa classifica como “globalização da indiferença”. Neste cenário, os migrantes, os refugiados, os desalojados e as vítimas do tráfico de seres humanos aparecem, de acordo com o Santo Padre, como os sujeitos emblemáticos da exclusão, porque, além dos incômodos inerentes à sua condição, acabam muitas vezes alvo de juízos negativos que os consideram causa dos males sociais.

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“A atitude para com eles constitui a campainha de alarme que avisa sobre o declínio moral em que se incorre, e continua a dar espaço à cultura do descarte. Com efeito, por este caminho, cada indivíduo que não quadre com os cânones do bem-estar físico, psíquico e social fica em risco de marginalização e exclusão”, alertou Francisco.

O Papa ressaltou também em sua mensagem que a presença dos migrantes e refugiados, como a das pessoas vulneráveis em geral, constitui, hoje, um convite a recuperar algumas dimensões essenciais da existência cristã e da humanidade, que correm o risco de entorpecimento num teor de vida rico de comodidades.

Para o Pontífice, “não se trata apenas de migrantes” porque, quando homens e mulheres se interessam por pessoas em situação de migração e refúgio, também se interessam por si, por todos. “Cuidando deles, todos crescemos; escutando-os, damos voz também àquela parte de nós mesmos que talvez mantenhamos escondida por não ser bem vista hoje”, frisou.

Em seguida, o Santo Padre sublinhou os vários significados do tema de sua mensagem:

Medo e receio em relação aos outros

“Não se trata apenas de migrantes: trata-se também dos nossos medos, do nosso receio em relação aos outros. Isto se nota particularmente hoje, diante da chegada de migrantes e refugiados que batem à nossa porta em busca de proteção, segurança e um futuro melhor. É verdade que o receio é legítimo, inclusive porque falta a preparação para este encontro”, afirmou o Santo Padre.

Francisco continuou: “O problema surge quando os receios condicionam de tal forma o nosso modo de pensar e agir, que nos tornam intolerantes, fechados, talvez até, sem disso nos apercebermos, racistas. Não se trata apenas de migrantes: trata-se da caridade. (…) Através das obras de caridade, demonstramos a nossa fé. E a caridade mais excelsa é a que se realiza em benefício de quem não é capaz de retribuir, nem talvez de agradecer”.

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A parábola do Bom Samaritano (Lc 10:25-37) foi citada pelo Pontífice para exemplificar a importância da compaixão com migrantes e refugiados. “O que impele aquele samaritano – um estrangeiro, segundo os judeus – a deter-se é a compaixão, um sentimento que não se pode explicar só a nível racional. Como nos ensina o próprio Jesus, ter compaixão significa reconhecer o sofrimento do outro e passar, imediatamente, à ação para aliviar, cuidar e salvar”, comentou.

Não excluir ninguém

“Não se trata apenas de migrantes: trata-se de não excluir ninguém. O mundo atual vai-se tornando, dia após dia, mais elitista e cruel para com os excluídos. Os países em via de desenvolvimento continuam sendo depauperados dos seus melhores recursos naturais e humanos em benefício de poucos mercados privilegiados. As guerras abatem-se apenas sobre algumas regiões do mundo, enquanto as armas para as fazer são produzidas e vendidas noutras regiões, que depois não querem ocupar-se dos refugiados causados por tais conflitos. Quem sofre as consequências são sempre os pequenos, os pobres, os mais vulneráveis, a quem se impede de sentar-se à mesa deixando-lhe as ‘migalhas’ do banquete”, afirmou o Santo Padre.

O Papa recordou o conceito de uma ‘Igreja em saída’, que sabe tomar iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos.

Francisco também alertou para o desenvolvimento exclusivista que torna os ricos mais ricos e os pobres mais pobres, e falou da necessidade de um verdadeiro desenvolvimento que procure incluir todos os homens e mulheres do mundo, que promova crescimento integral, e se preocupe também com as gerações futuras.

Papa grava vídeo recordando questão dos migrantes e refugiados

Construção de uma cidade de Deus e do homem

“Não se trata apenas de migrantes: trata-se de construir a cidade de Deus e do homem. Na nossa época, designada também a era das migrações, muitas são as pessoas inocentes que caem vítimas da grande ilusão dum desenvolvimento tecnológico e consumista sem limites. E, assim, partem em viagem para um paraíso que, inexoravelmente, atraiçoa as suas expectativas. A sua presença, por vezes incômoda, contribui para desmentir os mitos dum progresso reservado a poucos, mas construído sobre a exploração de muitos”, pontuou o Pontífice.

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Construir a cidade de Deus e do homem trata-se, segundo o Santo Padre, duma oportunidade que a Providência oferece de contribuir para a construção duma sociedade mais justa, duma democracia mais completa, dum país mais inclusivo, dum mundo mais fraterno e duma comunidade cristã mais aberta, de acordo com o Evangelho.

Desafio das migrações

Por fim, o Papa resumiu em quatro verbos a resposta ao desafio apresentado pelas migrações atuais: acolher, proteger, promover e integrar. “Esses verbos não valem apenas para os migrantes e os refugiados; exprimem a missão da Igreja a favor de todos os habitantes das periferias existenciais, que devem ser acolhidos, protegidos, promovidos e integrados”, completou.

De acordo com Francisco, se esses verbos forem colocados em prática, toda a sociedade contribuirá na construção da cidade de Deus e do homem, promovendo o desenvolvimento humano integral de todas as pessoas e ajudando também a comunidade mundial a ficar mais próxima de alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável.

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