Catequese

Papa: indiferença e individualismo são atitudes contra a harmonia

Na Audiência Geral desta quarta-feira, Papa destacou que, sem preocupar-se uns com os outros, não se pode curar o mundo

Da Redação, com Vatican News

Papa durante a audiência geral / Foto: Reprodução Vatican News

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a pandemia de coronavírus na Audiência Geral desta quarta-feira, 12, realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico. O Pontífice enfatizou que a pandemia evidenciou a vulnerabilidade humana e mostrou também que todos estão interligados. “Se não nos preocuparmos uns com os outros, a começar pelos últimos, por aqueles que são mais atingidos, incluindo a criação, não podemos curar o mundo”, frisou o Papa.

Francisco lembrou o compromisso de muitas pessoas que, nestes meses, estão demonstrando amor humano e cristão pelo próximo, dedicando-se aos doentes, arriscando a própria saúde. “Eles são heróis”, disse o Papa. “No entanto, o coronavírus não é a única doença a ser combatida, mas a pandemia trouxe à luz patologias sociais mais vastas. Uma delas é a visão distorcida da pessoa, um olhar que ignora a sua dignidade e a sua índole relacional. Por vezes, consideramos os outros como objetos, objetos para serem usados e descartados. Na realidade, este tipo de olhar cega e fomenta uma cultura do descarte individualista e agressiva, que transforma o ser humano num bem de consumo”.

Deus, porém, olha para o homem e para a mulher de outro modo, destacou o Papa. Ele explicou que Deus não criou o homem como objeto, mas como pessoa amada e capaz de amar, à Sua imagem e semelhança. 

O coronavírus não é a única doença a ser combatida, mas a pandemia trouxe à luz patologias sociais mais vastas. Uma delas é a visão distorcida da pessoa, um olhar que ignora a sua dignidade e a sua índole relacional.

“Dessa forma, deu-nos uma dignidade única, convidando-nos a viver em comunhão com Ele, em comunhão com os nossos irmãos e irmãs, com respeito por toda a criação. Em comunhão, em harmonia, podemos dizer. A criação é uma harmonia para a qual somos chamados a viver. Nesta comunhão, nesta harmonia que é comunhão, Deus nos doa a capacidade de procriar e preservar a vida, trabalhar e cuidar da terra. Entendemos que não é possível procriar e preservar a vida sem harmonia. Será destruída”.

O Pontífice tirou do Evangelho um exemplo de olhar individualista, que não é harmonia: o pedido feito a Jesus pela mãe dos discípulos Tiago e João. Ela gostaria que os seus filhos pudessem sentar-se à direita e à esquerda do novo rei. Mas Jesus propõe outro tipo de visão: a de servir e dar a vida pelos outros, e confirma isso, restituindo a vista a dois cegos e tornando-os seus discípulos.

“Procurar fazer carreira na vida, ser superior aos outros destrói a harmonia. É a lógica do domínio, de dominar os outros. A harmonia é outra coisa, é serviço.”

Harmonia e a dignidade humana

Queremos reconhecer em cada pessoa a dignidade humana, qualquer que seja a sua raça, língua ou condição

O Papa disse ainda que é preciso pedir a Deus um olhar atento aos irmãos e irmãs, especialmente aos que sofrem. “Como discípulos de Jesus, não queremos ser indiferentes ou individualistas, duas atitudes feias contra a harmonia. Indiferente: olho para o outro lado. Individualista: só para mim, olhar apenas para os próprios interesses. A harmonia criada por Deus nos pede para olharmos para os outros, para as necessidades dos outros, para os problemas dos outros, estar em comunhão. Queremos reconhecer em cada pessoa a dignidade humana, qualquer que seja a sua raça, língua ou condição. A harmonia nos leva a reconhecer a dignidade humana, essa harmonia criada por Deus, não é verdade? O homem no centro”.

O Concílio Vaticano II evidencia que esta dignidade é inalienável, porque “foi criada à imagem de Deus”, frisou ainda o Papa, citando uma passagem da Constituição Pastoral Gaudium et spes. “Nós somos sociais, precisamos viver nesta harmonia social, mas quando há egoísmo, o nosso olhar não vai para os outros, para a comunidade, mas volta para nós mesmos e isso nos torna feios, maus, egoístas. Destrói a harmonia.”

Segundo o Santo Padre, esta consciência renovada pela dignidade de cada ser humano tem sérias implicações sociais, econômicas e políticas. Ele explicou que olhar para o irmão e para toda a criação como dádiva de Deus suscita um comportamento de atenção, cuidado e admiração. 

“Assim o fiel, contemplando o seu próximo como um irmão e não como um estranho, olha para ele com compaixão e empatia, não com desprezo ou inimizade. E contemplando o mundo à luz da fé, esforça-se por desenvolver, com a ajuda da graça, a sua criatividade e entusiasmo para resolver os dramas da história. Ele concebe e desenvolve as suas capacidades como responsabilidades que fluem da fé, como dons de Deus a serem postos ao serviço da humanidade e da criação.

A fé exige sempre que nos deixemos curar e converter do nosso individualismo

E enquanto se trabalha em busca da cura para um vírus que atinge indistintamente a todos, o Papa destaca que a fé exorta ao compromisso para combater a indiferença pelas violações da dignidade humana. “Essa cultura da indiferença que acompanha a cultura do descarte: o que não me atinge não me interessa. A fé exige sempre que nos deixemos curar e converter do nosso individualismo, tanto pessoal quanto coletivo. Um individualismo partidário, por exemplo”, frisou ele.

O Papa concluiu a catequese pedindo a Deus que “restitua a vista” à humanidade, para que possa redescobrir o que significa ser membro da família humana. “E que este olhar se traduza em ações concretas de compaixão e respeito por cada pessoa e de cuidado e tutela pela nossa Casa comum”.

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