São sete anos de um pontificado marcado pela cultura do encontro, com medidas importantes, viagens significativas e impulso missionário à Igreja
Thiago Coutinho,
Da redação
Nesta sexta-feira, 13, o Papa Francisco completa sete anos à frente da Igreja Católica. Com a marca da “cultura do encontro”, seu pontificado tem sido marcado por diversas atuações em temas que permeiam a sociedade contemporânea.
Após o conhecido “habemus papam” naquele 13 de março de 2013, o Cardeal Jorge Bergoglio se tornou o Papa Francisco e, desde então, tem tocado em diversos temas de importância religiosa, social, econômica, ambiental. Com as viagens apostólicas, tem confirmado os cristãos na fé e mostrado a abertura ao diálogo. E apesar de viajar constantemente ― o Brasil, aliás, foi o primeiro país a ser visitado por ele assim que assumiu o pontificado em 2013 ― Francisco não é muito afeito a viagens.
“É bem conhecido que, quando era arcebispo de Buenos Aires, foram poucas as viagens internacionais registradas por Bergoglio”, revela Silvonei José, jornalista, locutor há mais de duas décadas da Rádio Vaticano e coordenador do portal Vatican News em português. “Francisco, porém, sempre manteve vivo o espírito missionário”, acrescenta.
E são nessas viagens internacionais que características interessantes do pontificado de Francisco são percebidos com mais clareza. “Revendo as sete viagens do ano passado, vemos grandes pontos da ação pastoral de Bergoglio”, pondera Silvonei. “Os jovens, na viagem ao Panamá, o diálogo inter-religioso, nas viagens aos Emirados Árabes Unidos e também ao Marrocos, o diálogo ecumênico nas visitas à Bulgária, Macedônia do Norte e Romênia, também a proteção ambiental e os cuidados com os pobres nas viagens a Moçambique, Madagascar e às Ilhas Maurício. E, finalmente, a paz e a promoção dos direitos das mulheres e das crianças como pontos-chave da viagem asiática”, analisa.
Nas exortações apostólicas (cinco, no total), os temas do anúncio do Evangelho, o amor na família, o chamado à santidade, a exortação para os jovens e a questão da Amazônia. Em discursos e homilias, propaga a cultura do encontro, os esforços pela paz e por uma economia que favoreça o bem comum, com atenção especial aos pobres e excluídos. “O atual Pontífice acentuou a crítica à globalização excludente, chegando a afirmar que o capitalismo é um tipo de economia que mata (Evangelii Gaudium)”, como examina Carlos Eduardo Sell, doutor em Sociologia e professor da Universidade Federal de Santa Catarina.
Na opinião do sociólogo, trata-se de inovações que foram decisivas à doutrina social da Igreja. “Com a realização do evento sobre a economia solidária (a realizar-se ainda este ano), acredito que poderemos ter uma visão ainda mais clara e detalhada do modo como Francisco enxerga as realidades sociais e econômicas do mundo contemporâneo, muito em particular sua leitura do capitalismo”, acrescenta Carlos.
“Ele soube deixar marcas entre os fiéis e a gestão da própria Igreja assumindo posições inovadoras”, analisa Silvonei. “As mudanças mais importantes, no entanto, são as mais longas. Não é fácil resumir seu pontificado em poucas palavras, mas diria que se trata de um pontificado com forte impulso pastoral, que visa levar o essencial, por meio de uma proximidade concreta aos pastores de alma”, reforça.
Ser Igreja em Saída
Um dos conceitos que Francisco vem difundindo desde o início de seu papado é a Igreja em Saída, aquela que vai às minorias, que evangeliza, que leva a Palavra aos mais necessitados. Para o sociólogo, este conceito tenta se adequar ao mundo moderno.
“A ideia de ‘igreja em saída’ nos possibilita reabilitar a tensão dialética entre Igreja/mundo que é central no evento conciliar, além de nos oferecer uma excepcional grade de leitura para pensar o lugar e o papel da igreja no mundo moderno e secular no qual o Evangelho não está dado naturalmente”, analisa.
“A Igreja é, por si só, missionária e nós, membros da Igreja, devemos ser missionários”, acrescenta Silvonei José.
O legado
Ainda que sejam sete anos de pontificado ― João Paulo II esteve à frente da Igreja por 27 anos ― Francisco já possui um legado em solo católico. Para Carlos Sell, Bergoglio entendeu o quão grave, por exemplo, são as denúncias de abuso contra menores e tem procurado combatê-las de frente.
“A principal contribuição de Francisco foi ter aperfeiçoado e agilizado, com firmeza, o tratamento jurídico-processual da questão, de tal modo que os autores destes crimes sejam rapidamente e efetivamente punidos tanto na esfera eclesiástica quanto civil”, diz Carlos Sell.
Para Silvonei José, Francisco sempre clamou que a fé em Deus jamais diminuísse. “O maior legado de Francisco é, e será, ter-nos ajudado a descobrir a nossa fé, não somente com orações, mas com ações concretas”.
O Pontífice tem, para o sociólogo Carlos Sell, uma visão cosmopolita, contra unilateralismos e particularismos. “Ele vem redesenhado o perfil do pontificado na era da globalização e da informação, ou seja, as viagens apostólicas são a marca mais visível dos Papas na era atual. Dessa forma, o Papa tem conseguido forte ressonância na opinião pública, bem como maior presença e proximidade com as igrejas locais e, principalmente, com os fiéis”, explica.
Além do mais, este é o primeiro Papa que não é europeu, mas sim latino-americano. “Trata-se de uma escolha com imenso valor simbólico que ficará para toda a história como sinal de uma Igreja verdadeiramente global e universal em seu alcance”, analisa o sociólogo.