Papa sugere aos policiais “um estilo de misericórdia” para enfrentar os desafios diários no cumprimento de seu dever
Rádio Vaticano
O escasso sentido de responsabilidade por parte de muitos motoristas que fazem das estradas uma pista de “fórmula 1” ou usam de forma inadequada os celulares, foram algumas das infrações citadas pelo Papa Francisco, com as quais devem se deparar policiais rodoviários e ferroviários, recebidos na manhã desta segunda-feira, 20, no Vaticano.
Para enfrentar os tantos desafios diários no cumprimento de seu dever, o Pontífice sugeriu aos policiais “um estilo de misericórdia”, que “ não é sinônimo de fraqueza – alertou – nem requer renúncia ao uso da força”, mas exige um discernimento, que leva “a compreender as exigências e as razões das pessoas que encontram em seu trabalho”.
Mergulhando no contexto em que os agentes desempenham suas funções, o Papa Francisco ressaltou que “o nosso mundo vê multiplicar-se os deslocamentos”, de forma que a realidade das estradas torna-se “sempre mais complexa e tumultuada”.
Às carências do sistema viário, sempre mais necessitado de pesados investimentos, alia-se “a falta de senso de responsabilidade por parte de muitos motoristas”, “que parecem muitas vezes não entender as consequências, mesmo graves, de sua desatenção”:
“Isto é causado pela pressa e por uma competitividade assumida por um estilo de vida, que fazem dos condutores como que obstáculos ou adversários a serem superados, transformando as estradas em pistas de “fórmula um” e a linha do semáforo na largada de um grande prêmio”.
Em tal contexto – sublinha o Papa – não bastam as sanções para incrementar a segurança, mas “é necessária uma ação educativa que dê maior consciência das responsabilidades que se tem em relação de quem viaja ao lado”.
E esta ação de sensibilização e de maior sentimento cívico – tanto no setor rodoviário como ferroviário – deveria advir de “todos os frutos possíveis da experiência que vocês, homens e mulheres da Polícia, acumulam diariamente nas estradas e ferrovias”, frisou Francisco.
Também o setor ferroviário representa um âmbito fundamental na vida do país – recordou – o que exige manutenção e investimentos estruturais. Quando ineficiente, provoca problemas a milhares de viajantes e também acidentes mortais, como recentemente ocorrido.
O que “vocês encontram a cada dia nas ferrovias e estradas, é como um microcosmos pelo qual passam as realidades mais diversas”. Neste sentido, é exigido de vocês “um elevado profissionalismo e especialização, com uma contínua atualização no conhecimento das leis e no emprego” da tecnologia.
Também o constante contato com as pessoas – frisou Francisco – exige uma profunda retidão e um alto grau de humanidade, não devendo nunca se aproveitar do poder do qual se dispõe:
“Quer nas ações de controle, como nas repressivas, é importante fazer um uso de força que não degenere nunca em violência. Para isto, são necessárias sabedoria e autocontrole, sobretudo quando o policial é visto com desconfiança ou sentido como um inimigo, ao invés de custódio do bem comum. Este último, infelizmente, é um mal difuso, que em certas regiões chega ao cúmulo de uma contraposição entre o tecido social e o Estado, junto aos que o representam”.
Neste contexto, como fez com toda a Igreja e a sociedade no Ano Jubilar de 2015, o Papa sugeriu aos policiais rodoviários e ferroviários usar de misericórdia, “também nas inumeráveis situações de fraqueza e de dor” que têm de enfrentar diariamente, “não somente nos casos de acidentes de várias naturezas, mas também no encontro com pessoas necessitadas ou que passam por dificuldades”.
Francisco refere-se então à São Miguel Arcanjo, também Patrono da Polícia Rodoviária e Ferroviária italiana, pois sua figura “nos faz refletir sobre a constante luta entre o bem e o mal, do qual nunca podemos” nos sentir alheios.
Mesmo prescindindo de uma ótica de fé, “é importante reconhecer a realidade deste combate, entre o bem e o mal, que se consuma em nosso mundo e até mesmo dentro de nós. Conscientes deste desafio decisivo, seria loucura pactuar com o mal ou mesmo pretender manter-se neutros. Pelo contrário, cada um de nós é chamado a assumir a sua parte de responsabilidade, colocando em campo todas as energias de que dispõe para combater o egoísmo, a injustiça, a indiferença”.
Todos devemos fazer isto, “mas vocês estão na linha de frente no combate àquilo que ofende o homem, cria desordem e fomenta ilegalidade, criando obstáculos para a felicidade e o crescimento das pessoas, sobretudo dos jovens”.
“O serviço de vocês – completou o Papa – tantas vezes não estimado de forma adequada, vos coloca no coração da sociedade, e pelo seu alto valor, não hesito em defini-lo como uma missão, a ser cumprida com honra e profundo sentido de dever a serviço do homem e do bem comum”.