Papa afirmou que a resposta não é abandonar quem sofre; Dom Paglia alertou: somos todos mais sozinhos e mais frágeis
Da redação, com Vatican News
“A eutanásia e o suicídio assistido são uma derrota para todos. A resposta a que somos chamados é nunca abandonar aqueles que sofrem, não desistir, mas cuidar e amar para restaurar a esperança”. Essa pequena reflexão foi escrita pelo Papa Francisco nesta quarta-feira, 5, em sua conta no twitter. No texto, o Santo Padre direciona seu pensamento e oração para Noa Pothoven, jovem holandesa de dezessete anos que escolheu morrer no último domingo, 2, assistida por médicos especializados em suicídio assistido.
Na esteira de seus predecessores, o Pontífice evocou muitas vezes, e com veemência, o respeito à vida desde a concepção até a morte natural. Em particular, em relação à eutanásia e ao suicídio assistido, disse que “são graves ameaças para as famílias no mundo inteiro”. Para Francisco, enquanto a eutanásia for uma prática legal em muitos Estados, a Igreja continuará a contrastando firmemente porque sente o dever de ajudar as famílias que cuidam de seus entes queridos, estejam eles doentes, ou sejam eles anciãos (Amoris laetitia, 48).
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O Papa reafirma que a cultura da morte e cultura do descarte não são um sinal de civilização, mas um sinal de abandono que pode disfarçar-se também de “falsa compaixão”. De acordo com o Santo Padre é preciso que todos assumama fadiga de colocar-se lado a lado e acompanhar quem sofre. “A dor, o sofrimento, o sentido da vida e da morte são realidades que a mentalidade contemporânea tem dificuldade de enfrentar com um olhar repleto de esperança. No entanto, sem uma esperança confiável que o ajude a enfrentar também a dor e a morte, o homem não consegue viver bem e conservar uma perspectiva confiante diante de seu futuro”, revelou.
“Esse é um dos serviços que a Igreja é chamada a prestar ao homem contemporâneo porque o amor, aquele que se faz próximo de modo concreto e que encontra em Jesus ressuscitado a plenitude do sentido da vida, abre novas perspectivas e novos horizontes também a quem pensa não aguentar mais”, acrescentou Francisco.
O caso Noa Pothoven
Sobre o caso Noa Pothoven, o presidente da Pontifícia Academia para a Vida, Dom Vincenzo Paglia comentou: “Em primeiro lugar, gostaria de confiar nas mãos de Deus – que não abandona ninguém – esta jovem, mas também todos os seus familiares. Chegamos à dramática conclusão de uma vida igualmente dramática: os abusos, depois a anorexia e por fim a depressão… tudo isso coloca uma grande interpelação: não é possível que uma sociedade não saiba responder a esses sucessivos pedidos de amor que são expressos inclusive dentro das várias situações tão difíceis que ela viveu”.
“É uma grande derrota para a nossa sociedade, e para a sociedade europeia em particular, pensando que sobretudo os países do norte representam também uma sociedade desenvolvida, abastada, rica, mas como infelizmente muitas vezes se dá hoje em dia, caracterizada por uma solidão imperante. Somos talvez mais ricos, mas certamente todos mais sozinhos e todos mais frágeis. A geração adulta da Europa não está dando uma esperança forte aos mais jovens”, completou Dom Paglia.
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O bispo recordou que com o Sínodo sobre os jovens o Papa Francisco quis suscitar em todos um ímpeto de responsabilidade para com a juventude e uma consciência de que os mais novos precisam de um fogo interior que os mais adultos devem ter a responsabilidade de transmitir, sem apagá-lo. “Faço votos de que não seja um grito que acabe sem ser ouvido”, refletiu.
O aumento dos suicídios no mundo juvenil, inclusive dos adolescentes, deve alarmar a sociedade, segundo Dom Paglia. “O que surpreende é que a segunda causa de morte dos jovens na Europa é o suicídio: isso deveria nos fazer refletir. A Europa é já envelhecida, tem poucos filhos e não consegue nem mesmo manter os poucos que tem. Junto à esterilidade há uma ausência de futuro que deve ser revista: é preciso uma verdadeira revolução de fraternidade, de amor, de futuro, de mudança de perspectiva em vista de um bem comum para todos; do contrário, os jovens, os adolescentes mais frágeis, como se deu com essa jovem, serão as primeiras vítimas. Devemos fazer um sério exame de consciência – todos – com o que aconteceu”, constatou o bispo.
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Para Dom Paglia é possível, por meio dos fatos, ver uma fotografia da grande pobreza espiritual, além de cultural e humana, da sociedade . O bispo alerta que o “retirar-se em si mesmo” leva à solidão radical, que depois encontra na depressão uma forma clínica que exige, além de todos os aspectos do tratamento médico, e de todas as legislações e escolhas econômicas adequadas, exige um ímpeto de humanidade que é indispensável num mundo onde os ideais materialistas e do bem-estar absoluto impedem a consciência do limite que é parte da vida.
“A vida deve ser acolhida, defendida, protegida e acompanhada. Jamais nos é solicitado fazer o trabalho sujo da morte: quem ama, ajuda a viver. E se esse amor é forte, jamais ajuda a encurtar a vida; caso necessário, a acompanhá-la para que seja uma passagem a mais humana possível. O amor é mais forte do que o sofrimento e até mesmo a morte”, concluiu Dom Paglia.