Durante Missa desta segunda-feira, 25, em Tóquio, Francisco criticou o isolamento e a busca desenfreada pelo lucro e pediu uma sociedade mais plural
Da redação, com Vatican News
O Papa Francisco celebrou nesta segunda-feira, 25, no Estádio Tóquio Dome, a Santa Missa em latim. A celebração contou com a presença de mais de 50 mil pessoas e a primeira leitura foi feita em português.
Na sua homilia o Santo Padre, citou o Evangelho do dia e recordou que o mesmo faz parte do primeiro grande discurso de Jesus; conhecido como o “Sermão da Montanha”. O texto descreve, segundo o Pontífice, a beleza do caminho que homens e mulheres são convidados a percorrer Segundo a Bíblia, a montanha é o lugar onde Deus Se manifesta.
Acesse
.: Notícias sobre a viagem do Papa à Tailândia e Japão
Em Jesus, disse o Papa, é possível encontrar o ápice do que significa ser humano. Francisco indica que Deus é o caminho que leva à plenitude capaz de ultrapassar todos os cálculos conhecidos, onde se experimenta a liberdade de sentir-se filho amado.
O Pontífice advertiu que todos estão cientes de que, ao longo do caminho, esta liberdade filial pode ver-se sufocada e enfraquecida, quando homens e mulheres ficam prisioneiros do círculo vicioso da ansiedade e da competição, ou quando concentram toda a atenção e suas melhores energias na busca obstinada e frenética de produtividade e consumismo como único critério para medir e avaliar as opções ou definir quem são e quanto valem.
“Como oprime e enreda a alma a ânsia gerada por pensar que tudo pode ser produzido, conquistado e controlado!”, alertou. Em seguida o Santo Padre afirmou que os jovens o fizeram notar (durante encontro ocorrido anteriormente) que, numa sociedade como o Japão, com uma economia altamente desenvolvida, não são poucas as pessoas socialmente isoladas que permanecem à margem, incapazes de entender o significado da vida e da sua própria existência.
Francisco frisou que a casa, a escola e a comunidade — destinadas a serem lugares de apoio mútuo— estão a deteriorar-se cada vez mais pela excessiva competição na busca do lucro e da eficiência. “Muitas pessoas sentem-se confusas e inquietas, ficam sobrecarregadas pelas demasiadas exigências e preocupações que lhes tiram a paz e o equilíbrio”, sublinhou
As palavras do Senhor ressoam como bálsamo reparador que convida todos a não se inquietarem, mas a terem confiança, comentou o Papa. Segundo o Pontífice, não se trata de um desinteresse do que sucede ao redor nem de desleixar-se relativamente das ocupações e responsabilidades diárias; pelo contrário, é um desafio de abrir-se às prioridades para um horizonte de sentido mais amplo e, assim, auxiliar na criação de um espaço para olhar na mesma direção: “Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo mais vos será dado por acréscimo” (Mt 6, 33).
O Santo Padre reforça que o Senhor não diz que as necessidades básicas, como alimento e roupa, não são importantes; mas convida todos a repensarem suas opções diárias para não acabarem entalados ou fechados na busca do êxito a todo o custo, incluindo a custo da própria vida. As atitudes mundanas que buscam e perseguem apenas o próprio lucro ou benefício neste mundo, e o egoísmo, conseguem apenas tornar homens e mulheres infelizes e escravos, para além de dificultar o desenvolvimento de uma sociedade verdadeiramente harmoniosa e humana, alertou o Papa.
“O oposto de um ‘eu’ isolado, fechado e até sufocado só pode ser um ‘nós’ partilhado, celebrado e comunicado”, completou. Este convite do Senhor lembra, de acordo com Francisco, que é necessário reconhecer alegremente que a realidade é fruto de um dom, e aceitar também a liberdade como graça. “Isto é difícil hoje, num mundo que julga possuir algo por si mesmo, fruto da sua própria originalidade e liberdade”, acrescentou.
Como comunidade cristã, frisou o Pontífice, todos são convidados a proteger toda a vida e testemunhar, com sabedoria e coragem, um estilo marcado pela gratuidade e compaixão, pela generosidade e a escuta simples, um estilo capaz de abraçar e receber a vida como se apresenta “com toda a sua fragilidade e pequenez e, muitas vezes, até com todas as suas contradições e insignificâncias”.
“Somos convidados a ser comunidade que desenvolva uma pedagogia capaz de acolher tudo o que não é perfeito, tudo o que não é puro nem destilado, mas lá por isso não menos digno de amor. Por acaso uma pessoa portadora de deficiência, uma pessoa frágil não é digna de amor? (…) Uma pessoa, mesmo que seja estrangeira, tenha errado, se encontre doente ou numa prisão, não é digna de amor? O anúncio do Evangelho da Vida impele-nos e exige de nós, como comunidade, que nos tornemos um hospital de campanha preparado para curar as feridas e sempre oferecer um caminho de reconciliação e perdão”, destacou.
Segundo o Papa, somente unindo-se ao Senhor, cooperando e dialogando sempre com todos os homens e mulheres de boa vontade, e também com as pessoas de convicções religiosas diferentes, é possível tornar-se fermento profético de uma sociedade que protege e cuida cada vez mais de toda a vida.