Lituânia

Papa em Kaunas: “Receber um pequenino, é receber o próprio Jesus”

Durante celebração na Lituânia, Francisco reafirmou necessidade de cristãos “se gastarem” pelos que vivem nas periferias existenciais

Da redação, com Boletim da Santa Sé

Papa Francisco durante celebração em Kaunas, Lituânia/ Foto: Vatican Media

Na manhã deste domingo, 23, Papa Francisco presidiu a Santa Missa no Parque Santakos em Kaunas, Lituânia. Durante a celebração — prevista na programação da viagem apostólica do Pontífice para a Lituânia, Letônia e Estônia —, o Santo Padre refletiu sobre os momentos de cruz, provações e angústias, próprios da vida cristã. Francisco reafirmou também a necessidade de uma Igreja em saída e de cristãos que se gastem pelos que vivem nas periferias existenciais. Segundo o Papa, é preciso aprender que: “Ao receber um pequenino, é o próprio Jesus que Se recebe”.

A Santa Missa teve como reflexão o evangelho de São Marcos (cf. Mc 9, 30-37), no qual o apóstolo narra os três anúncios de Jesus sobre sua paixão e a perplexidade e resistência dos discípulos diante do que estava por vir. O Papa citou também o texto do livro da Sabedoria (cf. 2, 20-20), primeira leitura da celebração deste domingo, que fala sobre o justo perseguido, que sofre insultos e tormentos pelo simples fato de ser bom.

“Quantos de vós viram também vacilar a sua fé, porque Deus não apareceu para vos defender; porque o fato de permanecer fiéis não foi suficiente para que Ele interviesse na vossa história. Kaunas conhece esta realidade; toda a Lituânia o pode testemunhar sentindo arrepios à simples nomeação da Sibéria, ou dos guetos de Vilna e Kaunas, entre outros; e pode corroborar em uníssono com o apóstolo Tiago, na passagem da sua Carta que escutamos: cobiçam, matam, invejam, lutam e fazem guerra (cf. 4, 2)”, comentou o Pontífice em referência à segunda leitura da celebração de hoje.

Francisco recordou que os discípulos não queriam que Jesus lhes falasse de sofrimento e de cruz, muito menos de provações e angústias. Segundo o Santo Padre, São Marcos lembra que o interesse dos discípulos se dirigia para outras coisas. “Voltavam para casa discutindo sobre qual deles seria o maior”, recordou.

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“Irmãos, o desejo de poder e glória é o modo mais comum de se comportar daqueles que não conseguem curar a memória da sua história e, talvez por isso mesmo, não aceitam sequer comprometer-se no trabalho do momento presente. E então discute-se sobre quem mais brilhou, quem foi mais puro no passado, quem possui mais direito do que os outros a ter privilégios. E assim negamos a nossa história, que é gloriosa por ser história de sacrifícios, de esperança, de luta diária, de vida gasta no serviço, de constância no trabalho fadigoso. É uma atitude estéril e vã, que se recusa a envolver-se na construção do presente, perdendo o contato com a dolorosa realidade do nosso povo fiel”, afirmou.

Sabendo Jesus o que seus discípulos pensavam, o Santo Padre explica que lhes foi proposto um antídoto para estas lutas de poder e a recusa do sacrifício. “[Jesus] senta-se como um Mestre, chama-os e faz um gesto: coloca uma criança no centro; um rapazinho que habitualmente ganhava alguns trocados prontificando-se para recados que ninguém queria fazer”, lembrou o Pontífice que seguiu indagando os fiéis: “Hoje, nesta manhã de domingo, quem Jesus colocará aqui no meio? Quem serão os mais pequenos, os mais pobres entre nós, que devemos acolher cem anos depois da nossa independência? Quem não tem nada para nos retribuir, para tornar gratificantes os nossos esforços e as nossas renúncias?”.

O Pontífice respondeu: “Talvez sejam as minorias étnicas da nossa cidade, ou os desempregados que são forçados a emigrar. Talvez sejam os idosos abandonados ou os jovens que não encontram um sentido na vida, porque perderam as suas raízes. No meio significa equidistante, de modo que ninguém pode fingir que não vê, ninguém pode afirmar que é responsabilidade de outros, porque eu não vi ou estou demasiado longe. Sem protagonismos, sem querer ser aplaudidos ou os primeiros”.

Ser uma Igreja em saída e não ter medo de sair e gastar-se pelos mais pequenos, este foi o convite de Francisco aos fiéis. Ao escolher “sair”, Francisco afirmou aos cristãos que é preciso saber que sair implica colocar de lado anseios e urgências para saber olhar nos olhos, escutar e acompanhar quem ficou a beira da estrada. “Às vezes, será necessário comportar-se como o pai do filho pródigo, que permanece junto da porta à espera do seu regresso, para lhe abrir logo que chegue (cf. ibid., 46)”, suscitou o Papa.

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Estar em torno da Eucaristia é, de acordo com o Santo Padre, receber Jesus para que Ele reconcilie a memória, acompanhe num presente e continue a inspirar paixão pelos desafios, pelos sinais. “Nada há de verdadeiramente humano que não tenha ressonância no coração dos discípulos de Cristo e, assim, sentimos como nossas as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens do nosso tempo, sobretudo dos pobres e dos atribulados (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 1)”, frisou.

O Papa finalizou pedindo aos fiéis que, como comunidade, se sintam verdadeira e intimamente solidários com a humanidade – seja em Kauna, como em toda a Lituânia – e com a sua história (cf. ibid., 1). “Queremos doar a vida no serviço e na alegria e, assim, fazer saber a todos que Jesus Cristo é a nossa única esperança”, concluiu.

Após a celebração, Papa Francisco presidiu o Ângelus e seguiu rumo ao encontro com sacerdotes, religiosos e religiosas, consagrados e consagradas na Catedral de Kaunas. Mais tarde, o Pontífice visitará o Museu que recorda as ocupações e lutas e pela liberdade. Na segunda-feira, 24, o Santo Padre seguirá para Vilnius, capital da Lituânia e, na terça-feira, 25, cumprirá a agenda programada para a sua visita a Vilnius, na Estônia.

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