Entrevista

Papa em entrevista: o diálogo é deixar de lado o instinto e ouvir

Em entrevista concedida no dia 11 de agosto ao canal português da CNN, Francisco falou de inúmeros temas pessoais, eclesiais e internacionais

Da Redação, com Vatican News

Foto: Arquivo

O Papa Francisco concedeu uma entrevista ao canal CNN de Portugal no dia 11 de agosto sobre diversas temáticas de caráter pessoal, juventudes, geopolítica internacional e guerra na Ucrânia. O material foi veiculado ontem, 5, pela emissora portuguesa.

Jornada Mundial da Juventude

Francisco ressaltou a ‘genialidade’ de São João Paulo II que idealizou as Jornadas Mundiais das Juventudes e a importância do diálogo inter-geracional no evento. Questionado sobre a presença do Papa em Lisboa no ano que vem, disse: “O Papa vai. Vai Francisco ou João XXIV, mas o Papa vai”.

Devoção à Nossa Senhora de Fátima

Indagado sobre sua espiritualidade mariana, o Pontífice, olhando para a Virgem de Fátima, afirmou: “Eu sou mariano, gosto muito da Virgem, mas em Fátima senti outra coisa. Fátima deixou-me mudo. Fátima é a Virgem do silêncio, para mim. (…) E para mim, Portugal é Fátima. Que não se zanguem os portugueses, mas é a minha experiência”.

Rotina de oração

O Papa contou ainda sobre sua rotina diária de trabalho, que acorda às 4h da manhã, deita às 21h e vai dormir às 22h. Revelou sua rotina de oração: “Eu não alterei a maneira de rezar. Posso ter aprofundado, não sei. Mas eu rezo o terço, faço-o como fazia em miúdo. Rezo com a Bíblia e medito. Rezo o ofício litúrgico todos os dias. Ou seja, de diversas formas. Coloco-me diante de Deus e, às vezes, distraio-me, mas Ele não se distrai. E isso consola-me”.

“Monstruosidade” dos abusos

Quanto a temas eclesiásticos, Francisco foi interrogado sobre os abusos na Igreja, definindo-os “monstruosos” e reforçou a política de tolerância zero. Quando questionado se não seria consequência do celibato, respondeu: “Não é o celibato. O abuso é uma coisa destrutiva, humanamente diabólica. Nas famílias não há celibato e também ocorre. Portanto, é simplesmente a monstruosidade de um homem ou de uma mulher da igreja, que está doente em termos psicológicos ou é malévolo, e usa a sua posição para sua satisfação pessoal. É diabólico.”

A Igreja e as mulheres

O Santo Padre partilhou ainda sobre liturgia e a abertura da Igreja às mulheres. Quanto à recente nomeação de três delas para o Dicastério para os Bispos, respondeu que “os relatórios mais maduros que recebia para conferir a ordenação como sacerdotes aos seminaristas eram elaborados por mulheres dos bairros onde eles iam trabalhar na paróquia. E, além disso, a mulher está encarregada de conduzir a maternalidade da Igreja, portanto, para eleger bispos é bom que haja mulheres que pensem como têm de ser os bispos, ou seja, a entrada das mulheres não é uma moda feminista, é um ato de justiça que, culturalmente, tinha sido posto de lado”.

Guerra e diálogo

Francisco também foi questionado sobre o tema da sinodalidade e suas encíclicas “Laudato si’” e “Fratelli tutti”.
Quanto ao cenário internacional, reforçou a importância do diálogo, sobretudo em casos de crises como na Ucrânia e seu desejo de visitar o país, onde a situação é trágica.

“Acredito sempre que, se dialogarmos, conseguimos avançar. Sabe quem não sabe dialogar? Os animais. São puro instinto. Se se deixar levar por instinto puro… Por outro lado, o diálogo é deixar de lado o instinto e ouvir. O diálogo é difícil.”

A entrevista foi encerrada com bom humor e com seu tradicional pedido de orações: “Reze por mim. Reze por mim, mas a meu favor, não contra mim”. 

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