Santo Padre se reuniu hoje com o corpo diplomático junto à Santa Sé para os tradicionais votos de início de ano
Da Redação, com Boletim da Santa Sé
O Papa Francisco reuniu-se nesta segunda-feira, 8, com o corpo diplomático junto à Santa Sé para os tradicionais votos de início de ano. O discurso aos embaixadores teve como fio condutor a defesa dos direitos humanos, a partir dos quais Francisco abordou alguns dramas mundiais e enfatizou a necessidade de diálogo e de paz.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem foi o documento ao qual o Papa quis dedicar o encontro com os embaixadores. “Para a Santa Sé, falar de direitos humanos significa, antes de mais nada, repropor a centralidade da dignidade da pessoa, enquanto querida e criada por Deus à sua imagem e semelhança”, pontuou.
Francisco constata que, após 70 anos do documento – que se completam agora em 2018 – , muitos direitos fundamentais ainda são violados, primeiramente o direito à vida, à liberdade e à inviolabilidade de cada pessoa humana. Ele ressalta que esses direitos não são lesados apenas pela guerra ou violência, mas por formas mais sutis, como o descarte de crianças antes mesmo de nascer; ou dos idosos, considerados um peso; a violência contra a mulher, mesmo dentro da própria família, e o tráfico de pessoas. “Defender o direito à vida implica também trabalhar ativamente pela paz, reconhecida universalmente como um dos valores mais altos que se deve procurar e defender”, disse.
Apesar da necessidade do trabalho pela paz, o Santo Padre destacou que muitos conflitos continuam ocorrendo em vários lugares e os esforços em prol da paz parecem menos eficazes diante da lógica da guerra. Mas esse panorama não pode diminuir nem o desejo nem o compromisso em prol da paz, destaca o Pontífice, que voltou a denunciar no discurso a proliferação de armas. “A proliferação de armas agrava claramente as situações de conflito e implica enormes custos humanos e materiais, deteriorando assim o desenvolvimento e a busca duma paz duradoura”.
Realidades atuais
No discurso, o Papa lembra que a Santa Sé reitera a defesa de negociações, não de armas, para dirimir as controvérsias entre os povos. E nesse ponto do discurso, ele mencionou algumas realidades atuais.
“Nesta perspetiva, é de suma importância que se sustente toda a tentativa de diálogo na península coreana, a fim de se encontrar novos caminhos para superar as contraposições atuais, aumentar a confiança mútua e garantir um futuro de paz ao povo coreano e ao mundo inteiro”.
Francisco também fala da necessidade de continuar com as iniciativas de paz na Síria, a fim de encerrar o conflito que já perdura há anos e causou tanto sofrimento. Da mesma forma, ressalta a necessidade de diálogo no Iraque, bem como no Iêmen e Afeganistão. Ele faz uma menção particular às tensões recentes entre Israel e Palestina.
“A Santa Sé, ao exprimir o seu pesar por quantos perderam a vida nos recentes confrontos, renova o seu premente apelo a ponderar bem cada iniciativa para que se evite de exacerbar as contraposições e convida a um esforço comum por respeitar, em conformidade com as pertinentes Resoluções das Nações Unidas, o status quo de Jerusalém, cidade santa para cristãos, judeus e muçulmanos. Setenta anos de confrontos tornam extremamente urgente encontrar uma solução política que consinta a presença na região de dois Estados independentes dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas”.
Francisco ressalta ainda a crise política e humanitária na Venezuela e os conflitos em muitas partes da África, especialmente no Sudão do Sul, República Democrática do Congo, Somália, Nigéria e República Centro-Africana. Nesses lugares, o terrorismo, a proliferação de grupos armados e a exploração indiscriminada dos recursos ameaçam o direito à vida, explicou. E não passou despercebida a crise na Ucrânia. “O ano, que findou, ceifou novas vítimas no conflito que atormenta o país, continuando a infligir grandes sofrimentos à população, particularmente às famílias que moram nas áreas afetadas pela guerra e que perderam os seus entes queridos, não raro idosos e crianças”.
Defesa da família
O Pontífice quis dedicar uma parte de sua reflexão à família, ressaltando que, sobretudo no Ocidente, ela é considerada uma instituição superada. O Papa afirma que é urgente adotar políticas efetivas em apoio da família, considerando também que dela depende o futuro e o desenvolvimento dos Estados.
“Sem ela, de fato, não se podem construir sociedades capazes de enfrentar os desafios do futuro. E a falta de interesse pela família traz consigo outra consequência dramática – particularmente atual nalgumas regiões – que é a queda da natalidade. Vive-se um verdadeiro inverno demográfico! Isto é sinal de sociedades que sentem dificuldade em enfrentar os desafios do presente, tornando-se, por conseguinte, cada vez mais temerosas do futuro e acabando por se fechar em si mesmas”.
Migrações
Ao tocar no tema das migrações, o Papa lembra que a liberdade de movimento pertence aos direitos humanos fundamentais. Ele recorda o tema de sua mensagem para o Dia Mundial da Paz 2018, celebrado no último dia 1º: “Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz” para destacar uma vez mais a necessidade de acolhimento a essas pessoas.
O Santo Padre manifestou seu agradecimento ao empenho de tantos países na Ásia, na África e nas Américas, à Itália e outros Estados europeus, particularmente a Grécia e a Alemanha, em acolher migrantes e refugiados. “Não devemos esquecer que numerosos refugiados e migrantes procuram alcançar a Europa, porque sabem que nela podem encontrar paz e segurança, fruto aliás dum longo caminho que nasceu dos ideais dos Pais fundadores do projeto europeu depois da II Guerra Mundial”.
Outros direitos humanos e o cuidado da terra
Francisco também menciona na mensagem o direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião, bem como a importância do direito ao trabalho. “Não há paz nem desenvolvimento, se o homem está privado da possibilidade de contribuir pessoalmente, através da sua atividade, para a edificação do bem comum”.
O Santo Padre observa que, em muitas partes do mundo, o trabalho ainda é escasso, com poucas oportunidades, em especial para os jovens. Além disso, há a problemática da perda do emprego, seja em virtude dos ciclos econômicos seja pelo avanço da tecnologia que traz cada vez mais novos maquinários que substituem o homem.
Concluindo o discurso, Francisco falou sobre a necessidade de cuidar da terra, enfrentando com esforço conjunto a responsabilidade de deixar às gerações futuras uma terra mais bela e habitável.