Missa na Indonésia

Papa: com coragem, lançar as redes do Evangelho no mar do mundo

Na missa celebrada no Estádio Gelora Bung Karno, em Jacarta, Francisco indicou duas ações a partir do encontro com Jesus: escutar a Palavra e viver a Palavra

Da redação, com Vatican News

Chegada do Papa ao Estádio Gelora Bung Karno/Foto: REUTERS/ Willy Kurniawan

O Papa Francisco celebrou a primeira missa pública de sua 45ª Viagem Apostólica Internacional, no Estádio Gelora Bung Karno, em Jacarta, na Indonésia, nesta quinta-feira, 5. Em sua homilia, o Santo Padre citou duas atitudes fundamentais que o encontro com Jesus convida os fiéis a viver e que os torna seus discípulos: escutar a Palavra e viver a Palavra.

Sobre o primeiro ponto, escutar a Palavra, o Pontífice recorda que o evangelista Lucas conta que muitas pessoas se aproximavam de Jesus e que a multidão se comprimia à volta dele “para escutar a palavra de Deus”. “Procuravam-no, tinham fome e sede da Palavra do Senhor, que ouviam ressoar nas palavras de Jesus”, pontua. Por isso,  Francisco reforça que este episódio, que se repete tantas vezes no Evangelho, diz que o coração do homem está sempre à procura de uma verdade que possa aplacar e alimentar o seu desejo de felicidade.

O Santo Padre exorta também que não é interessante se contentar apenas com as palavras humanas, os critérios deste mundo e os juízos terrenos; é preciso sempre de uma luz do alto para iluminar os passos, de uma água viva que possa irrigar os desertos da alma, de uma consolação que não desiluda porque provém do céu e não das coisas passageiras do mundo.

“Perante o entontecimento e a vaidade das palavras humanas, faz falta a Palavra de Deus, a única que é bússola para o nosso caminho e é capaz de, no meio de tantas feridas e perplexidades, nos reconduzir ao verdadeiro sentido da vida”, disse ainda.

Segundo Francisco, a primeira tarefa do discípulo não é vestir o hábito de uma religiosidade exteriormente perfeita, fazer coisas extraordinárias ou envolver-se em projetos grandiosos. Pelo contrário, o primeiro passo consiste em saber escutar a única Palavra que salva, que é a de Jesus. “Como podemos ver no episódio evangélico, o Mestre sobe para a barca de Pedro a fim de se afastar um pouco da margem e, assim, pregar melhor ao povo. A nossa vida de fé começa quando, acolhendo humildemente Jesus na barca da nossa vida, lhe damos espaço, escutamos a sua Palavra e, por ela, nos deixamos interpelar, estremecer e transformar”.

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Viver a Palavra

Ao mesmo tempo, a Palavra do Senhor pede para ser encarnada concretamente, indica o Pontífice: todos são chamados a viver a Palavra. “Quando terminou de pregar às multidões a partir da barca, Jesus dirige-se a Pedro, exortando-o a arriscar e a apostar nesta Palavra: ‘Faz-te ao largo; e vós, lançai as redes para a pesca'”, retoma.

“A Palavra do Senhor não pode permanecer uma linda ideia abstrata ou suscitar apenas a emoção de um momento; ela exige-nos que mudemos o olhar, que deixemos o coração transformar-se à imagem do coração de Cristo; ela nos chama a lançar corajosamente as redes do Evangelho no meio do mar do mundo, ‘correndo o risco’ de viver o amor que Ele nos ensinou e viveu em primeiro lugar. Também a nós o Senhor, com a força ardente da sua Palavra, nos pede para avançar para águas mais profundas, para sairmos das margens estagnadas dos maus hábitos, dos medos e da mediocridade, para ousarmos uma vida nova”.

De acordo com o Papa, existem sempre obstáculos e desculpas para que se diga “não”, mas é preciso olhar de novo para a atitude de Pedro: tinha vindo de uma noite difícil, em que não tinha pescado nada, estava cansado e desiludido, e no entanto, em vez de ficar paralisado naquele vazio e bloqueado pelo seu próprio fracasso, mas lançou as redes porque havia sido um pedido de Jesus. “E então se realiza o inaudito: o milagre de uma barca que se enche de peixes a ponto de quase afundar”, recorda.

Não ficar prisioneiro do próprio fracasso

Perante as muitas tarefas da vida cotidiana; perante o apelo, que todos sentem, de construir uma sociedade mais justa, de avançar no caminho da paz e do diálogo – que aqui na Indonésia já foi traçado há muito tempo –, Francisco reflete que muitos podem se sentir inadequados, sentir o peso de tanto esforço que nem sempre dá os frutos esperados, ou o peso dos erros que parecem impedir o caminho. Mas, com a mesma humildade e fé de Pedro, ele pede aos fiéis que não fiquem prisioneiros dos próprios fracassos, não permaneçam com os olhos fixos nas redes vazias, mas olhem para Jesus e confiem nele. “Podemos sempre arriscar, avançando-nos ao mar e lançando de novo as redes, mesmo depois de termos atravessado a noite do fracasso, o tempo da desilusão, em que não pescamos nada”.

O Santo Padre cita as palavras de Santa Teresa de Calcutá, cuja memória é celebrada nesta quinta, que se dedicou incansavelmente aos mais pobres e se tornou uma promotora da paz e do diálogo: “Quando nada tivermos para dar, demos esse nada. E lembra-te: nunca te canses de semear, mesmo se não vieres a colher nada”.

O Pontífice exortou os indonésios a ousarem sempre o sonho da fraternidade que é “um verdadeiro tesouro” entre eles. “Com a Palavra do Senhor, encorajo-vos a semear o amor, a percorrer com confiança o caminho do diálogo, a praticar continuamente a bondade e amabilidade com o sorriso que vos caracteriza, a serem construtores de unidade e de paz. Sede construtores de esperança, daquela esperança do Evangelho que não desilude e abre a uma alegria sem fim”, concluiu.

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