Um grupo de jovens empresários franceses foi recebido pelo Papa nesta segunda-feira, 2, no Vaticano
Da redação, com Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira, 2, um grupo de jovens empresários franceses que participa, em Roma, de três dias de encontros e reflexões sobre a vocação dos empresários cristãos à luz da Doutrina Social da Igreja. O grupo é formado por trezentos empresários católicos franceses e está acompanhado pelo bispo de Fréjius-Tolone, Dom Dominique Rey.
Em seu discurso, o Pontífice afirmou estar ciente de que, na vida cotidiana, não é fácil conciliar as exigências da fé e o ensinamento social da Igreja com as necessidades e os vínculos impostos pelas leis do mercado e da globalização. “Acredito que os valores do Evangelho que vocês vivem na direção de suas empresas, bem as várias relações que vocês mantêm em suas atividades, são ocasiões para um testemunho cristão genuíno e insubstituível”, frisou.
O Papa declarou esperar que a peregrinação, em Roma, possa iluminar o discernimento dos jovens empresários sobre as escolhas que deverão fazer. “Nunca foi fácil ser cristãos e ter grandes responsabilidades”, disse o Santo Padre, ressaltando o contexto complexo criado entre produtividade e justiça social, e evidenciando o conflito que um empresário cristão vive e deve enfrentar cotidianamente:
“Os conflitos de consciência nas decisões cotidianas que vocês devem tomar, imagino que são numerosos: por um lado, a necessidade que lhes é imposta, geralmente pela sobrevivência das empresas, das pessoas que trabalham lá e suas famílias, de conquistar mercados, aumentar a produtividade, reduzir atrasos, recorrer a truques publicitários, aumentar o consumo, e por outro lado, as exigências cada vez mais urgentes de justiça social para garantir a todos a possibilidade de ter um salário e viver dignamente. Penso nas condições de trabalho, nos salários, nas ofertas de emprego e sua estabilidade, e na proteção do ambiente”.
Segundo Francisco, são dois os critérios de discernimento para “viver esses conflitos com serenidade e na esperança”. O primeiro, encontra-se na Constituição Gaudium et spes, do Concílio Vaticano II, que diz em relação aos leigos engajados nas realidades temporais: “Cabe à sua consciência já devidamente formada, inscrever a lei divina na vida da cidade terrena”.
Outro critério útil encontra-se na Encíclica Laudato si, que estimula uma “avaliação da situação do mundo, de alguns sistemas que regulam as atividades econômicas, com suas consequências sobre as pessoas e o ambiente”. “É uma avaliação que às vezes pode parecer severa, mas que provoca creio, um grito de alarme por causa da deterioração da nossa Casa Comum, bem como diante da multiplicação da pobreza e da escravidão nas quais vivem várias pessoas hoje. Tudo está conectado”, completou.
Diante dessa realidade, o Pontífice reconheceu que certamente os empresários católicos não têm uma resposta imediata e eficaz a ser dada aos desafios do mundo atual. “Nisso, às vezes vocês podem se sentir impotentes”, disse. No entanto, Francisco afirmou que os empresários têm um papel essencial a desempenhar porque, mesmo modestamente, em algumas mudanças concretas de hábitos e estilos, tanto nas relações com colaboradores diretos, ou melhor ainda na difusão de novas culturas empresariais, é preciso agir para mudar as coisas concretamente, e aos poucos, educar o mundo do trabalho a um novo estilo.
De acordo com o Santo Padre, é preciso “fazer uma conversão” conforme “evidenciado no recente Sínodo para a Amazônia”. “A conversão é um processo que age profundamente: um processo talvez lento, aparentemente, sobretudo quando se trata de converter as mentalidades, mas que permite progressos reais, se praticado com convicção e determinação mediante ações concretas”, completou.
Por fim, a conversão ecológica não pode ser separada da conversão espiritual, que é sua condição indispensável, alertou o Papa. A espiritualidade cristã propõe, de acordo com Francisco, uma maneira alternativa de entender a qualidade de vida e incentiva um estilo de vida profético e contemplativo, capaz de alegrar profundamente sem ser obcecado pelo consumo.
Os empresários foram convidados pelo Pontífice a seguirem o caminho da simplicidade e da sobriedade: “A simplicidade nos ajuda a parar e apreciar as pequenas coisas, agradecer as possibilidades que a vida oferece sem nos apegar ao que temos e nem nos entristecer com o que não possuímos”.