Último compromisso na Romênia

Papa aos ciganos: perdão por todas as vezes que os discriminamos

“É na indiferença que se alimentam preconceitos e fomentam rancores. Quantas vezes julgamos, imprudentemente, com palavras que doem, com atitudes que semeiam ódio e criam distâncias”, disse Francisco

Da redação, com Vatican News

Papa Francisco durante seu último compromisso na Romênia/ Foto: Vatican Media

O último compromisso do Papa Francisco na Romênia, neste domingo, 2, foi o encontro com a Comunidade Cigana no bairro Lautaro, em Blaj. Após o testemunho de um sacerdote greco-católico cigano, o Pontífice iniciou o seu discurso ressaltando que a Igreja é lugar de encontro. “Precisamos lembrar isso, não como um belo slogan, mas como parte da nossa carteira de identidade de cristãos”, afirmou o Santo Padre.

“O Evangelho transmite-se na alegria de encontrar-se e saber que temos um Pai que nos ama. Sob o olhar d’Ele, compreendemos como olhar-nos entre nós. No coração, porém, trago um peso”, sublinhou Francisco que acrescentou: “É o peso das discriminações, segregações e maus-tratos sofridos por suas comunidades. A história nos diz que os cristãos, os católicos não são alheios a tanto mal. Quero pedir perdão por isso. Em nome da Igreja, peço perdão, ao Senhor e a vocês, por todas as vezes que, ao longo da história, os discriminamos, maltratamos ou os consideramos de forma errada, com o olhar de Caim em vez do de Abel, e não fomos capazes de os reconhecer, apreciar e defender na sua peculiaridade”.

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O Pontífice frisou que a Caim, não importa o irmão. “É na indiferença que se alimentam preconceitos e fomentam rancores. Quantas vezes julgamos, imprudentemente, com palavras que doem, com atitudes que semeiam ódio e criam distâncias! Quando se deixa alguém para trás, a família humana não avança. Não somos completamente cristãos, nem sequer humanos, se não soubermos ver a pessoa antes de suas ações, antes dos nossos juízos e preconceitos”, completou.

“Sempre houve, na história da humanidade, Abel e Caim. Há a mão estendida e a mão que fere. Há a abertura do encontro e o fechamento do desencontro. Há a hospitalidade e há o descarte. Há quem vê no outro um irmão e quem nele vê um obstáculo no próprio caminho. Há a civilização do amor e há a do ódio. Cada dia, há que escolher entre Abel e Caim”, explicou o Papa.

Papa e ciganos romenos/ Foto: Vatican Media

Segundo Francisco, todos os dias homens e mulheres precisam fazer uma escolha: seguir o caminho da reconciliação ou o da vingança. O Santo Padre exortou: “Escolhamos o caminho de Jesus; trata-se dum caminho que exige esforço, mas é o caminho que conduz à paz. E passa através do perdão. Não nos deixemos arrastar pelos ressentimentos que incubamos dentro de nós: não demos qualquer espaço ao rancor. Porque nenhum mal resolve outro mal, nenhuma vingança satisfaz uma injustiça, nenhum ressentimento faz bem ao coração, nenhum fechamento aproxima”.

Aos ciganos, o Papa afirmou que seu povo tem um papel de protagonista a ser assumido e que não deve ter medo de partilhar e oferecer as caraterísticas específicas que moldam e marcam o seu caminho: “O valor da vida e da família em sentido alargado; a solidariedade, a hospitalidade, a ajuda, o apoio e a defesa dos mais frágeis no seio da sua comunidade; o respeito e a valorização dos idosos; o sentido religioso da vida, a espontaneidade e a alegria de viver”.

Caminhar juntos, este foi o convite do Pontífice aos ciganos. “Caminhar juntos, lá onde estiverem, na construção dum mundo mais humano, superando medos e desconfianças, deixando cair as barreiras que nos separam uns dos outros, alimentando a confiança recíproca na busca, paciente e nunca vã, da fraternidade. Esforçar-se por caminhar juntos com dignidade: a dignidade da família, a dignidade de ganhar o pão de cada dia e a dignidade da oração. Sempre olhando para frente”, reforçou.

“Este encontro é o último de minha visita à Romênia. Vim a este país lindo e acolhedor como peregrino e irmão para encontrar o seu povo. E agora volto para casa enriquecido, levando comigo recordações de lugares e momentos, mas sobretudo de rostos. Os seus rostos vão colorir as minhas recordações e povoarão a minha oração”, concluiu Francisco.

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