Encontro na Capela Sistina

Papa aos artistas: ajudem a lançar a luz da esperança sobre as trevas

Sob os afrescos de Michelângelo, na Capela Sistina, Francisco recebeu nesta sexta-feira, 23, os artistas do mundo inteiro; Encontro marca os 50 anos da inauguração da Coleção de Arte Moderna dos Museus Vaticanos

Da redação, com Vatican News

Papa durante audiência com os artistas nesta sexta-feira, 23/ Foto: Vatican Media/ IPASipa USA via Reuters

Uma relação natural e especial, assim o Papa definiu o elo que liga a Igreja aos artistas. E o cenário para o discurso de Francisco não poderia ser mais sugestivo: a Capela Sistina. O encontro foi organizado por ocasião dos 50 anos da Coleção de Arte Moderna dos Museus Vaticanos, desejada pelo Papa Paulo VI. Foi justamente o Papa Montini o idealizador do primeiro encontro com pintores, escultores, arquitetos, escritores, poetas, músicos, diretores e atores para renovar a amizade entre a Igreja e a arte. 

O Pontífice se inspirou numa frase do teólogo italiano Romano Guardini, que dizia que, ao criar, o artista se assemelha a uma criança e a um vidente. Faz uso da espontaneidade da criança para se mover no espaço da invenção, da novidade, da criação. Como dizia a filósofa Hannah Arendt, é próprio do ser humano viver para trazer ao mundo a novidade.

“A criatividade do artista parece assim participar da paixão geradora de Deus. Vocês são aliados do sonho de Deus! São os olhos que olham e que sonham. Não basta só olhar, é preciso sonhar”, disse o Santo Padre. E ao sonhar novas visões de mundo, o Papa reforçou que o artista se assemelha também aos videntes. “Vocês são um pouco como os profetas. Sabem olhar as coisas seja em profundidade, seja em amplitude.”

Aliados em temas importantes

Francisco advertiu para uma suposta beleza artificial e superficial cúmplice de mecanismos econômicos que geram desigualdades. Uma beleza cosmética que esconde ao invés de revelar. Para o Pontífice, o papel do artista é justamente o contrário, é agir como consciência crítica da sociedade, eliminando o véu da obviedade, revelando a realidade até mesmo em suas contradições.

Como os profetas bíblicos, utilizando recursos como a ironia e o sentido de humor, o Santo Padre afirmou que os artista coloca as pessoas diante de fatos que incomodam, criticando os falsos mitos do presente, os novos ídolos, os discursos banais e as astúcias do poder.

Leia mais
.: Papa diz que, pela arte, se descobre a beleza de Deus

Neste papel de videntes e sentinelas, Francisco frisou que os sente como aliados em temas que o preocupam, como a defesa da vida humana, a justiça social, os últimos, a casa comum e a fraternidade. “Está-me a peito a humanidade da humanidade. Porque é esta a grande paixão de Deus.”

Arte e fé

Outro ponto que liga a arte e a fé, de acordo com o Papa, é o fato de incomodar um pouco. “A arte e a fé não podem deixar as coisas como estão. A arte jamais pode ser um anestésico; dá paz, mas não adormece as consciências, as mantêm vigilantes”. O Pontífice então fez um pedido: “ajudem a entrever a luz, a lançar a luz da esperança sobre as trevas do humano, do individualismo e da indiferença.”

Numa época de colonizações ideológicas mediáticas e de conflitos dilacerantes, de uma globalização homologante, o Santo Padre sublinhou que os artistas podem ajudar a deixar espaço ao Espírito, que harmoniza as diferenças.

Por fim, exortou: “Não se esqueçam dos pobres, que são os preferidos de Cristo. Também os pobres necessitam de arte e de beleza. Alguns experimentam formas duras de privação da vida e, por isso, necessitam ainda mais de arte. Normalmente não têm voz e vocês podem ser intérpretes de seu grito silencioso”.

Francisco agradeceu os artistas presentes, fazendo votos de que suas obras sejam dignas das mulheres e dos homens desta terra e deem glória a Deus, que é o Pai de todos e que todos buscam, inclusive por meio da arte.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo