Em uma mensagem à conferência Rome MED Dialogues, o Santo Padre pede soluções compartilhadas para lidar com a mobilidade humana: ‘A guerra em curso na Ucrânia representa a globalização dos problemas’
Da redação, com Vatican News
O Papa Francisco se dirigiu aos participantes da 8ª Conferência de Diálogos MED em Roma, em andamento em Roma até este sábado, 3, que reúne representantes político-institucionais, analistas, personalidades sociais, econômicas e da mídia para discutir algumas das questões-chave para o Mediterrâneo.
Em seu discurso, o Pontífice disse que a incapacidade de encontrar soluções comuns para a mobilidade humana continua resultando em inaceitáveis e quase sempre evitáveis perdas de vidas, especialmente no Mediterrâneo.
A cooperação em benefício de todos também foi destacada em seu discurso, em que o Sucessor de Pedro reiterou que “ninguém se salva sozinho”; portanto, “a interligação das questões exige que sejam examinadas em conjunto, numa visão coordenada e a mais ampla possível”.
A guerra na Ucrânia e seus efeitos globais
Francisco deu sequência a seu discurso usando o exemplo da guerra entre a Rússia e a Ucrânia como representativo da globalização dos problemas de hoje.
Devido aos “danos incalculáveis” causados pela guerra, todos os aspectos globais foram afetados, incluindo as vítimas militares e civis, a crise energética, a crise financeira, a crise humanitária e a crise alimentar, esta última estendida também a países mais pobres, como os do norte da África, “que dependem de 80% de seus grãos da Ucrânia ou da Rússia”.
Portanto, a globalidade dos efeitos da crise deixa claro, seguiu o Pontídice, que a situação deve ser abordada em uma perspectiva global; nenhuma crise pode ser resolvida separada das outras, “nem se pode considerar a vastidão do sofrimento humano sem levar em conta a crise social, na qual, por ganho econômico ou político, o valor da pessoa humana é diminuído e os direitos humanos são pisoteado.”
Abordar questões individuais de maneira “setorial”, disse o Papa, “corre o risco de chegar a soluções parciais e falhas que não apenas não resolvem os problemas, mas os tornam crônicos”.
A vocação do Mare nostrum
O Mare nostrum, sugeriu o Papa, deve utilizar aquela “vocação de progresso, desenvolvimento e cultura”. Seu potencial liga três continentes, “uma ligação que historicamente, também por meio das migrações, tem sido muito frutuosa”.
Hoje, o Papa Francisco lamentou que o mesmo mar “luta para ser lugar de encontro, troca, partilha e colaboração”, apesar de estar na encruzilhada da humanidade e portador de tantas oportunidades.
A recomendação, portanto, é “retomar a cultura do encontro” para reconstruir um “sentido de fraternidade”, desenvolvendo “não só relações econômicas mais justas, mas também relações mais humanas, inclusive com os migrantes”.