Primeiro encontro

Papa à Igreja em Chipre: derrubar os muros e cultivar o sonho da unidade

Francisco realizou seu primeiro compromisso no país com sacerdotes, religiosos e religiosas, diáconos, catequistas, associações e movimentos eclesiais

Da redação

Papa durante encontro com a comunidade católica de Chipre/ Foto: REUTERS/Guglielmo Mangiapane

Após recepção oficial no Aeroporto Internacional de Lanarca, em Chipre, o Papa Francisco seguiu nesta quinta-feira, 2, para a Catedral Maronita de Nossa Senhora das Graças em Nicosia. No local, o Pontífice realizou o seu primeiro compromisso no país: um encontro com os sacerdotes, religiosos e religiosas, diáconos, catequistas, associações e movimentos eclesiais.

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.: Papa em Chipre: discurso no encontro com a comunidade católica

Em seu discurso, o Santo Padre manifestou sua alegria pelo encontro. Ele agradeceu o Cardeal Béchara Boutros Raï pelas palavras dirigidas e saudou o Patriarca Pierbattista Pizzaballa. Francisco também expressou gratidão pelos ministérios e serviços prestados pelos religiosos, com destaque ao realizado pelas irmãs de caridade em uma escola local.

O Pontífice prosseguiu afirmando que era um peregrino caminhando pelas pegadas do grande apóstolo Barnabé, discípulo amado de Jesus. Segundo o Papa, o santo é um arauto do Evangelho que, ao passar pelas comunidades cristãs recém-nascidas, pediu a todos se “conservassem unidos ao Senhor, de coração firme” (At 11, 23).

“Venho com o mesmo desejo: ver a graça de Deus em ação na vossa Igreja e na vossa terra, alegrar-me convosco pelas maravilhas que o Senhor realiza e exortar-vos a perseverar sempre, sem vos cansardes, sem nunca desanimardes”, disse.

Preocupação com o Líbano

A riqueza da diversidade presente em Chipre foi sublinhada pelo Santo Padre. Ele saudou a Igreja Maronita e citou o Líbano. Francisco manifestou preocupação com a crise vivida pelo país.

“Povo cansado e provado pela violência e pelo sofrimento”, reforçou. Ainda sobre o Líbano, o Pontífice assegurou sua oração e desejo de paz.

Na Sagrada Escritura, o Papa afirmou que aparecem muitas vezes os cedros do Líbano como modelos de beleza e grandiosidade. Mesmo um cedro grande começa pelas raízes e germina lentamente, pontuou. “Vós sois estas raízes, transplantadas para Chipre a fim de espalhar a fragrância e a beleza do Evangelho. Obrigado!”.

O Santo Padre destacou também a Igreja latina, presente há milênios no país. Segundo o Pontífice, ela proporcionou o entusiasmo da fé que hoje, graças à presença dos migrantes, apresenta-se como um povo “multicolor”, um verdadeiro e concreto lugar de encontro entre etnias e culturas diferentes.

Rosto eclesial

“Este rosto eclesial reflete o papel de Chipre no continente europeu: uma terra com os campos dourados, uma ilha acariciada pelas ondas do mar, mas sobretudo uma história que é de entrelaçamento de povos e mosaico de encontros. Assim é também a Igreja Católica. Ela é universal, espaço aberto onde todos são acolhidos e abrangidos pela misericórdia de Deus e pelo convite a amar”, falou. Não há na Igreja Católica, disso o Papa. Ela é uma casa comum, é o lugar das relações, é a convivência das diversidades, prosseguiu.

São Barnabé

Ao recordar São Barnabé, Francisco tirou da vida e missão dos apóstolo duas palavras: paciência e fraternidade.

Paciência, de acordo com o Santo Padre, porque o discípulo era um grande homem de fé e equilíbrio, que foi escolhido pela Igreja de Jerusalém para visitar uma nova comunidade, a de Antioquia.

A comunidade era formada por recém-convertidos do paganismo e exigiu que o santo tivesse grande paciência para se pôr constantemente em viagem; entrar na vida de pessoas até então desconhecidas; acolher a novidade sem formular juízos apressados; ter discernimento, saber captar por toda a parte os sinais da ação de Deus; e estudar outras culturas e tradições.

O Papa sublinhou que os fiéis precisam de uma Igreja paciente, que não se deixa abalar e perturbar pelas mudanças, mas serenamente acolhe a novidade e discerne as situações à luz do Evangelho.

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Cultivar um olhar paciente

Em Chipre, Francisco afirmou que é preciso acolhimento. “Como Barnabé, também vós sois chamados a cultivar um olhar paciente e solícito, a ser sinais visíveis e credíveis da paciência de Deus que nunca deixa ninguém fora de casa, privado do seu terno abraço”.

A Igreja em Chipre, prosseguiu o Santo Padre, vive de braços abertos: acolhe, integra, acompanha. Para o Pontífice, esta é também uma mensagem importante também para a Igreja em toda a Europa, marcada pela crise da fé: é preciso progredir lendo os sinais dos tempos e também os sinais da crise.

Pedido aos bispos e padres

Aos bispos, Francisco pediu que sejam pastores pacientes na proximidade e que nunca cansem de procurar Deus na oração, os sacerdotes no encontro, os irmãos de outras confissões cristãs com respeito e solicitude, os fiéis no local onde moram.

O Papa exortou os sacerdotes a serem pacientes com os fiéis, sempre prontos a encorajá-los, ministros incansáveis do perdão e da misericórdia de Deus. “Nunca sejais juízes rigorosos, mas sempre pais amorosos”.

“Na variedade multiforme do vosso povo, ter paciência significa também ter ouvidos e coração para diferentes sensibilidades espirituais, diversas formas de expressar a fé, variadas culturas. A Igreja não quer uniformizar, mas integrar com paciência”, comentou.

Fraternidade

O Pontífice retomou o segundo aspecto importante na história de Barnabé: o seu encontro com Paulo de Tarso e a amizade fraterna entre ambos, que os levará a viverem juntos a missão.

Depois da conversão de Paulo – antes um perseguidor implacável dos cristãos, «todos tinham medo dele, não querendo acreditar que fosse um discípulo» (At 9, 26). Neste ponto, «Barnabé tomou-o consigo» (9, 27), ressaltou o Papa.

Segundo Francisco, a frase “tomou-o consigo” lembra a própria missão de Jesus, que tomou consigo os discípulos pelos caminhos da Galileia, que tomou sobre Si a humanidade ferida pelo pecado.

“É um comportamento de amizade e partilha de vida. Tomar consigo, tomar sobre si é ocupar-se da história do outro, esperar para o conhecer sem rotulá-lo, carregá-lo às costas quando está cansado ou ferido, como fez o bom samaritano (cf. Lc 10, 25-37). Isto chama-se fraternidade. Aqui está a segunda palavra”.

Comunhão na diferença

Francisco apontou que em certo momento Paulo e Barnabé discutem e se separam, não por motivos pessoais, mas por uma divergência sobre o seu ministério, sobre como realizar a missão, e têm visões diferentes. Barnabé deseja levar em missão também o jovem Marcos; Paulo não quer.

 Em cartas posteriores, o Santo Padre frisou intuiu-se que não ficou rancor entre os dois. “Isto é a fraternidade na Igreja: pode-se discutir sobre as perspectivas, sensibilidades e ideias diferentes. Mas lembremo-nos sempre disto: discute-se, não para se fazer guerra nem para se impor, mas para expressar e viver a vitalidade do Espírito, que é amor e comunhão. Discute-se, mas continuamos irmãos”.

“Não devemos sentir a diversidade como uma ameaça à identidade, nem devemos tornar-nos ciumentos e apoquentar-nos com os respetivos espaços. Se cairmos nesta tentação, cresce o medo; o medo gera desconfiança; a desconfiança desemboca na suspeita e, mais cedo ou mais tarde, leva à guerra. Somos irmãos, com um único Pai que nos ama”, disse.

Com fraternidade, Chipre pode recordar a todos que, para construir um futuro digno da humanidade, é preciso trabalhar juntos, superar as divisões, derrubar os muros e cultivar o sonho da unidade, exortou Francisco.

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