Na abertura dos trabalhos da XVI Assembleia Geral do Sínodo, Francisco pediu que a controvérsia e a pressão da mídia não se sobreponham às discussões em Sínodos
Da redação, com Vatican News
Na tarde desta quarta-feira, 4, na Sala Paulo VI, no Vaticano, teve início a primeira Congregação Geral da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. Papa Francisco, presente no local, discursou de forma espontânea aos participantes.
O Pontífice iniciou recordando “que foi São Paulo VI quem disse que a Igreja no Ocidente tinha perdido esta ideia de sinodalidade, e por isso criou o secretariado do Sínodo dos Bispos, que realizou muitos encontros, muitos sínodos sobre temas diferentes”.
Ao discorrer sobre o conceito de sinodalidade, o Santo Padre observou que este ainda não atingiu pleno amadurecimento e não é amplamente compreendido dentro da Igreja. No entanto, ele destacou que ao longo de quase seis décadas, a Igreja tem gradualmente trilhado esse caminho, “e hoje podemos chegar a este Sínodo com este tema”. De acordo com o Papa, esse enfoque surgiu através dos bispos de todo o mundo. Após o Sínodo da Amazônia, um questionário foi enviado às dioceses, e a questão da sinodalidade emergiu como um tema amplamente evidenciado e apoiado pela grande maioria dos bispos.
Não somos um parlamento
“O Sínodo não é um parlamento, é outra coisa; o Sínodo não é uma reunião de amigos para resolver algumas questões atuais ou dar opiniões, é outra coisa. Não esqueçamos, irmãos e irmãs, que o protagonista do Sínodo não somos nós: é o Espírito Santo”, enfatizou Francisco.
O Pontífice então sublinhou a importância da presença do Espírito Santo, que traz harmonia a comunidade eclesial, e que deve guiar o Sínodo. E em seguida fez um alerta aos participantes: “se entre nós houver outras formas de avançar pelos interesses humanos, pessoais, ideológicos, não será um Sínodo, será uma reunião parlamentar”.
Harmonia do Espírito Santo
“Se neste Sínodo chegarmos a uma declaração que é tudo igual, sem nuances , o Espírito não está lá, ficou do lado de fora” destacou o Santo Padre ao afirmar que a Igreja é composta de uma única harmonia de vozes que são conduzidas pelo Espírito Santo: “é assim que devemos conceber a Igreja, cada comunidade cristã, cada pessoa tem a sua peculiaridade, mas estas particularidades devem ser incluídas na sinfonia da Igreja e a sinfonia certa é criada pelo Espírito.”
O Papa frisou ainda que o Espírito Santo conduz a humanidade pela mão e nos consola: “a presença do Espírito é assim – permitam-me a palavra –, quase materna, como uma mãe nos conduz, nos dá esta consolação. Devemos aprender a ouvir as vozes do Espírito: são todas diferentes. Aprendamos a discernir”.
Atenção às palavras
Outro alerta de Francisco foi sobre as palavras vazias e mundanas: “A tagarelice é contrária ao Espírito Santo e é uma doença muito comum entre nós. Palavras vazias entristecem o Espírito Santo, e se não permitirmos que Ele nos cure dessa enfermidade, será difícil seguir um caminho sinodal adequado. Pelo menos aqui: se você discorda do que um bispo, uma freira ou um leigo estão dizendo, seja franco com eles. Isso é o que significa um Sínodo: falar a verdade, não ter conversas por baixo da mesa.”
O Santo Padre pediu então cuidado e alertou que não se deve ocupar o lugar do Espírito Santo com coisas mundanas, mesmo que sejam boas, como o bom senso. “Isso é útil, mas o Espírito Santo vai além. Devemos aprender a viver em nossa Igreja com a orientação do Espírito Santo”.
Mensagem aos jornalistas
A controvérsia e a pressão da mídia se sobrepuseram às discussões em Sínodos anteriores, disse o Papa. “Quando ocorreu o Sínodo sobre a família, houve uma opinião pública de que a comunhão deveria ser concedida aos divorciados, e isso influenciou o Sínodo. Quando aconteceu o Sínodo para a Amazônia, havia pressão e opiniões públicas sobre a ordenação de homens casados.”
Agora, o Pontífice afirmou que existem algumas suposições sobre este Sínodo: ‘O que eles vão fazer? Talvez permitir o sacerdócio para as mulheres.’ Eu não sei, essas são as coisas que estão sendo ditas lá fora. E essas coisas são ditas com tanta frequência que os bispos às vezes têm medo de comunicar o que está acontecendo.” Por isso, ele se dirigiu diretamente aos “comunicadores”, pedindo que “desempenhem bem o seu papel, com imparcialidade, para que a Igreja e as pessoas de boa vontade – os outros dirão o que quiserem – entendam que também na Igreja a prioridade é a escuta.
Portanto, Francisco pediu aos comunicadores que cumpram bem o seu papel, com integridade, “para que a Igreja e as pessoas de boa vontade – os outros dirão o que desejarem – compreendam que também na Igreja a prioridade é a escuta. Transmitam essa mensagem, pois é de extrema importância”.
No final de seu discurso, o Papa expressou sua profunda gratidão a todos que contribuem para este momento de pausa e reflexão, onde a Igreja se dedica à escuta durante o Sínodo, enfatizando que, em sua perspectiva, isso representa o aspecto mais significativo e essencial do processo sinodal.