“Vinde, Espírito Santo! Vós que sois harmonia, tornai-nos construtores de unidade; Vós que sempre Vos doais, dai-nos a coragem de sair de nós mesmos”, rezou Francisco na Solenidade de Pentecostes deste domingo, 31
Da redação, com Vatican News
Na Missa da Solenidade de Pentecostes, celebrada no Altar da Cátedra da Basílica de São Pedro, neste domingo, 31, com a presença de 50 fiéis, o Papa Francisco falou sobre a unidade como dom do Espírito Santo. De acordo com o Santo Padre, a unidade começou da Igreja nascente: “Há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo – escreve Paulo aos Coríntios –; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; e há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos”.
Ao comentar sobre diversidade e unidade pelo Espírito Santo, o Pontífice observa que São Paulo insiste em juntar duas palavras que parecem opostas. “Quer-nos dizer que este um só que junta os diversos é o Espírito Santo. E a Igreja nasceu assim: diversos, unidos pelo Espírito Santo”. O Papa recordou que entre os apóstolos havia pessoas simples, habituadas a viver do trabalho das suas mãos, como os pescadores, mas também Mateus, certamente dotado de instrução pois fora cobrador de impostos. Ou seja, há origens e contextos sociais diversos, nomes hebraicos e nomes gregos, temperamentos pacatos e outros ardorosos, ideias e sensibilidades diferentes. “Todos eram diferentes”, comentou.
Francisco enfatizou: “Jesus não os mudara, nem os uniformizara, tornando-os modelos em série. Não! Deixara as suas diversidades; e agora une-os, ungindo-os com o Espírito Santo. A união vem com a unção”. Em Pentecostes, o Santo Padre afirma que os apóstolos compreenderam a força unificadora do Espírito, pois constataram, que apesar de todos falarem línguas diversas, formam um só povo: o povo de Deus, plasmado pelo Espírito, que tece a unidade com as diferenças, que dá harmonia porque é harmonia.
Voltando para a Igreja hoje, o Papa perguntou: “O que é que nos une, em que se baseia a nossa unidade?”. O Pontífice recordou que também entre os católicos existem diversidades: de opinião, preferência, sensibilidade. O Santo Padre alertou para uma tentação atual: “Defender sempre de espada desembainhada as nossas ideias, considerando-as boas para todos e pactuando apenas com quem pensa como nós. E esta é uma má tentação que divide”.
O princípio da unidade é o Espírito Santo
O comportamento autoritário das ideias “é uma fé à nossa imagem”, ressaltou Francisco. De acordo com o Papa esta “fé” parte do princípio de que aquilo que une “são as próprias coisas em que acreditamos e os próprios comportamentos que adotamos”. Mas o princípio da unidade é o Espírito Santo. “E a primeira coisa que Ele nos lembra é que somos filhos amados de Deus. Todos iguais nisso, e todos diferentes”, destacou.
“O Espírito vem a nós, com todas as nossas diversidades e misérias, para nos dizer que temos um só e mesmo Senhor, Jesus, e um só e mesmo Pai; por isso, somos irmãos e irmãs. Partamos daqui! Olhemos a Igreja como faz o Espírito, não como faz o mundo. O mundo vê-nos de direita e de esquerda, com esta ideologia, com aquela outra; o Espírito vê-nos do Pai e de Jesus. O mundo vê conservadores e progressistas; o Espírito vê filhos de Deus. O olhar do mundo vê estruturas, que se devem tornar mais eficientes; o olhar espiritual vê irmãos e irmãs implorando misericórdia. O Espírito ama-nos e conhece o lugar de cada um no todo: para Ele não somos papelinhos coloridos levados pelo vento, mas ladrilhos insubstituíveis do seu mosaico”
O perigo da “Igreja ninho” e o segredo da unidade
Voltando ao dia de Pentecostes, o Santo Padre observa que a primeira obra da Igreja é “o anúncio”. Francisco observa, porém, que os apóstolos não preparam uma estratégia; quando estavam fechados no Cenáculo. “Não faziam uma estratégia, não preparavam um plano pastoral. Teriam podido dividir as pessoas por grupos segundo os vários povos, falar primeiro aos de perto e depois aos que eram de longe, tudo organizado. Teriam podido também temporizar um pouco no anúncio e, entretanto, aprofundar os ensinamentos de Jesus, para evitar riscos… Mas não!”.
O Papa prosseguiu: “O Espírito não quer que a recordação do Mestre seja cultivada em grupos fechados, em cenáculos onde tendemos a ‘fazer o ninho’. E esta é uma séria doença que pode ocorrer na Igreja: a Igreja não comunidade, não família, não mãe, mas ninho. O Espírito abre, relança, impele para além do que já foi dito e feito, Ele impele para mais além dos recintos duma fé tímida e cautelosa”.
Diferentemente do mundo que precisa de uma estrutura compacta e uma estratégia calculada, na Igreja, aponta Francisco, é o Espírito que assegura ao arauto a unidade. Assim, os apóstolos partem sem preparação, lançam-se, saem, recorda o Pontífice. “Anima-os um único desejo: dar o que receberam”. E isso, de acordo com o Santo Padre, os leva e leva todos a compreender o segredo da unidade, o segredo do Espírito. “O segredo da unidade na Igreja, o segredo do Espírito, é o dom. Porque Ele é dom, vive doando-Se e, assim, nos mantém unidos, fazendo-nos participantes do mesmo dom”.
“É importante acreditar que Deus é dom, que não se comporta tomando, mas dando. E por que é importante? Porque o nosso modo de ser crentes depende de como entendermos Deus. Se tivermos em mente um Deus que toma e que Se impõe, desejaremos também nós tomar e impor-nos: ocupar espaços, reivindicar importância, procurar poder. Mas, se tivermos no coração que Deus é dom, muda tudo. Se nos dermos conta de que aquilo que somos é dom d’Ele, dom gratuito e imerecido, então também nós quereremos fazer da vida um dom. E amando humildemente, servindo gratuitamente e com alegria, ofereceremos ao mundo a verdadeira imagem de Deus”.
Os três inimigos do dom
O Espírito, memória viva da Igreja, lembra que todos nascem de um dom e crescem doando-se; não poupando-se, mas dando-se, explica o Papa. O Pontífice indicou então três inimigos do dom, “sempre deitados à porta do coração: o narcisismo, a vitimização e o pessimismo”.
O narcisismo, de acordo com Francisco, leva homens e mulheres a idolatrarem-se, a terem prazer apenas com o lucro próprio.
“O narcisista pensa: ‘A vida é boa, se eu ganho com ela’. E assim chega a dizer: ‘Por que deveria eu doar-me aos outros?’ Nesta pandemia, faz um mal imenso o narcisismo, o debruçar-se apenas sobre as próprias carências, insensível às dos outros, o não admitir as próprias fragilidades e erros”.
O segundo inimigo, a vitimização, também é perigoso, afirmou o Santo Padre. “A vítima lamenta-se todos os dias do seu próximo: ‘Ninguém me compreende, ninguém me ajuda, ninguém me quer bem, estão todos contra mim!’ E o seu coração fecha-se, enquanto se interroga: ‘Por que não se doam a mim os outros?’ Quantas vezes ouvimos estas lamentações! No drama que vivemos, como é má a vitimização! Como é mau pensar que ninguém nos compreende e sente aquilo que sentimos nós. Isso é a vitimização!”.
Por fim, temos o pessimismo. Neste caso, Francisco observou que a ladainha diária é: “Nada vai bem, a sociedade, a política, a Igreja…”. O pessimista, de acordo com o Papa, insurge-se contra o mundo, mas fica inerte e pensa: “Assim para que serve doar-se? É inútil”. “Agora, no grande esforço de recomeçar, como é prejudicial o pessimismo (…), repetir que nada voltará a ser como antes!”.
Com este tipo de pensamento – observou Francisco – o que seguramente não volta é a esperança: “Nestes três – o ídolo narcisista do espelho, o deus-espelho; o deus-lamentação: ‘eu me sinto pessoa nas lamentações’; “encontramo-nos na carestia da esperança e precisamos apreciar o dom da vida, o dom que é cada um de nós. Por isso, necessitamos do Espírito Santo, dom de Deus que nos cura do narcisismo, da vitimização e do pessimismo, nos cura do espelho, das lamentações”.
Construtores de unidade
O Pontífice concluiu sua homilia com a oração: “Irmãos e irmãs, rezemos: Espírito Santo, memória de Deus, reavivai em nós a lembrança do dom recebido. Libertai-nos das paralisias do egoísmo e acendei em nós o desejo de servir, de fazer bem. Porque pior do que esta crise, só o drama de a desperdiçar fechando-nos em nós mesmos. Vinde, Espírito Santo! Vós que sois harmonia, tornai-nos construtores de unidade; Vós que sempre Vos doais, dai-nos a coragem de sair de nós mesmos, de nos amar e ajudar, para nos tornarmos uma única família. Amém”.
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