Na Missa do Galo, Francisco advertiu: “Ele, o Verbo de Deus, não fala, mas oferece a vida. Nós falamos muito e somos analfabetos em bondade”
Julia Beck
Da redação
A tradicional Missa do Galo foi celebrada nesta quinta-feira, 24, véspera de Natal, na Basílica de São Pedro. A celebração, que aconteceu às 19h30, (15h30 horário de Brasília), foi presidida pelo Papa Francisco e contou com a participação limitada dos fiéis.
“Essa noite se cumpre a grande profecia de Isaías. O menino nasceu para nós, um filho nos foi dado”, destacou o Pontífice no início de sua homilia. O Santo Padre recordou que com frequência se diz que a maior alegria da vida é o nascimento de uma criança, já que é um acontecimento extraordinário, que traz uma felicidade indescritível. “Hoje Jesus nasce para nós, para mim e para cada um”, sublinhou.
Em sua reflexão, o Papa chamou a atenção para a preposição “para” que aparece várias vezes na solenidade do Natal: “Um menino nasceu para vós. Hoje nasceu para nós. Jesus entregou-se por nós. O anjo anuncia: hoje nasceu para vós o Salvador”. A alocução “para nós”, explicou Francisco, quer dizer que o Filho de Deus deseja fazer de todos os homens e mulheres, filhos de Deus por Sua graça.
O Pontífice frisou que Jesus veio ao mundo para fazer homens e mulheres, filhos de Deus. “Que dom maravilhoso! Hoje, Deus nos deixa maravilhados ao dizer: tu és uma maravilha; não desanimes, tu não és um erro, és o meu filho. (…) Deus diz: coragem, estou contigo. Deus não diz com palavras, mas se fazendo filho como nós”.
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Reconhecer-se filho de Deus, apontou o Santo Padre, é o principal ponto de partida de qualquer renascimento. “Por baixo das nossas qualidades e defeitos, fracassos do passado e temores está a verdade: somos filhos amados”. O Papa afirmou que o amor de Deus não depende e jamais dependerá da humanidade, ele é gratuito.
“Nessa noite não encontramos explicação, apenas graça. O dom é gratuito, sem merecimento, pura graça. Nessa noite, São Paulo diz que se manifestou a graça de Deus, um filho nos foi dado. Ele não nos deu uma coisa qualquer, mas seu filho unigênito”, comentou Francisco.
Por vezes, o Santo Padre destacou que a humanidade se porta com ingratidão e injustiça, e então surge a dúvida: “O Senhor fez bem nos dando tanto ou confiando ainda em nós? Não estará ele nos superestimando?”. O Pontífice reafirmou que Deus ama a todos com o preço de sua vida e não consegue deixar de amar.
“Tão diferente de nós, sempre nos ama. Deus sabe que a única maneira de nos salvar e nos curar por dentro é nos amando. Só o amor de Jesus transforma a vida, cura as feridas mais profundas e nos livra do círculo vicioso da insatisfação, da irritação e do lamento” – Papa Francisco.
O Filho de Deus em uma manjedoura
Outro questionamento comum apontado pelo Papa é quanto à forma como Jesus veio ao mundo: pobre, em uma manjedoura de um estábulo. “Por que veio a noite, em um alojamento simples, em um estábulo? Por quê?”, questionou. Francisco respondeu: “Para nos fazer compreender até onde chega o seu amor por nós. Ele toca a nossa maior miséria”.
“O filho de Deus nasceu descartado para dizer que todo descartado é filho de Deus. Veio ao mundo como uma criança débil e frágil para podermos acolher com ternura nossas fraquezas e nos fazer descobrir uma coisa importante: Deus gosta de fazer grandes coisas através das nossas pobrezas. Colocou a nossa salvação em uma manjedoura em um estábulo”.
O Pontífice aconselhou: “Deixemos que transforme nossas misérias”. Segundo o Santo Padre, é isso que quer dizer “um filho nasceu para nós”. Recordando outro “para” da liturgia de hoje, o Papa citou a fala do anjo aos pastores: “Isso servirá de sinal para vós, encontrareis um menino em uma manjedoura”. Esse sinal, de acordo com Francisco, é também para todos, para orientar a vida.
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Em Belém, que quer dizer casa do pão, o Santo Padre observou que Deus está em uma manjedoura para lembrar que para viver, homens e mulheres precisamos d’Ele como precisam de pão. “Quantas vezes famintos de divertimento, sucesso e mundanidade nos nutrimos de alimentos que não saciam e deixam um vazio dentro?”, indagou.
“Enquanto o boi e o jumento conhecem sua manjedoura, nós, seu povo, não o conhecemos. Ele que é fonte da nossa vida. Na ânsia de ter, atiramo-nos a muitas manjedouras vãs, esquecendo-nos da manjedoura de Belém, pobre de tudo, mas cheia de amor”.
O Papa frisou que o alimento da vida é deixar-se amar por Deus e amar os outros. “Jesus dá-nos o exemplo. Ele, o Verbo de Deus, não fala, mas oferece a vida. Nós falamos muito e somos analfabetos em bondade”.
Um Filho nos foi dado
Por fim, Francisco sublinhou a frase “Um filho nos foi dado”. Segundo o Pontífice, quem tem criança pequena sabe quanto amor e paciência são necessários. “Um filho faz nos sentirmos amados e nos ensina a amar”. Desta forma, o Santo Padre afirmou que Deus nasceu menino para impelir homens e mulheres a cuidarem uns dos outros.
Os ternos gemidos de Jesus, comentou o Papa, fazem todos compreenderem que caprichos são inúteis, o amor de Jesus desarmado lembra que o tempo disposto não serve para lamentos, mas para consolar as lágrimas de quem sofre, e que Deus vem habitar dentro de todos, pobre e necessitado, para dizer que servindo os pobres também é possível servi-lo.
O Pontífice encerrou sua homilia com a seguinte oração: “Um filho nos foi dado, sois vós Jesus, o filho que me torna filho. Amai-me como sou, não, como eu me sonho. Abraçando-vos, menino da manjedoura, abraço a minha vida. Acolhendo-o, Pão da Vida, também eu quero dar a minha vida. Vós que me salvais, ensina-me a servir. Vós que não me deixais sozinho, ajuda-me a consolar os vossos irmãos porque a partir dessa noite são todos meus irmãos”.