Bienal de Arte

No domingo, Papa Francisco realiza visita inédita a Veneza

Pela primeira vez, Francisco irá a Veneza; ele será o primeiro Papa da história a visitar a Bienal de Arte da cidade; entre os compromissos, está a ida à prisão feminina

Da redação, com Vatican News

Foto: Divulgação Patriarcado de Veneza

Neste domingo, 28, o Papa Francisco realiza sua primeira viagem à cidade de Veneza, na Itália. Entre os compromissos do Santo Padre está a visita à 60ª edição da Bienal de Arte da cidade italiana, que contará com uma exposição da Santa Sé. Será a primeira vez, na história, que um Pontífice irá visitar a Bienal de Veneza.

Um dos momentos mais aguardados será o encontro do Papa com as detentas da prisão feminina de Giudecca. Mulheres com condenações definitivas que, nesta prisão, encontraram uma maneira de juntar os pedaços de suas vidas: algumas começaram a costurar, trabalhar na lavanderia, especializar-se em cosméticos. Algumas delas criaram uma relação de confiança com os artistas que animam o pavilhão da Santa Sé intitulado “Com os meus olhos”. Elas foram ouvidas, seus pensamentos foram valorizados e confiaram suas fotos mais queridas às mãos daqueles que as transformaram em pinturas.

A diretora da prisão feminina, Mariagrazia Bregoli, afirma que há uma grande expectativa entre as detentas para a chegada de Francisco, e também “uma grande emoção”. “A mensagem que o Papa quer nos trazer é uma mensagem universal, de amor, de acolhimento, de ausência de julgamento e de respeito de quem observa sem julgar. Na vida, ‘cometemos erros, mas podemos corrigi-los, e o Santo Padre não se esquece de ninguém, e talvez seja bom que a sociedade também não se esqueça daqueles que cometeram erros’”, afirma.

Bregoli enfatiza a importância de considerar a prisão como parte da sociedade: “Muitas vezes, as pessoas não querem saber ou ver, mas existe e é um dado de fato. É um lugar que olha para fora e está fortemente comprometido com a reintegração das pessoas presas. A participação no Pavilhão da Santa Sé também contribui para essa veia de abertura, em um diálogo inegável entre o interior e o exterior.

“Com meus olhos”

“Foi uma escolha importante, quase uma provocação à administração da justiça, em particular à administração penitenciária que lida com o sofrimento, que lida com a marginalização”, disse o chefe do Departamento de Administração Penitenciária (DAP), dr. Giovanni Russo, contando a Gênese do projeto do pavilhão da Santa Sé.

“O convite do Papa Francisco é para abrir uma janela, pelo menos para a esperança, e nós não recuamos”. Dr. Russo fala de “uma proposta poderosa em que a beleza da arte, a beleza da crença, da religião, e a beleza da recuperação de um infrator, de alguém que errou e foi condenado, mas que merece uma nova chance, e o Estado deve agir nesse sentido”.

Foi exatamente a beleza do projeto, acrescenta o chefe do DAP, que levou o Papa a vir. “Isso o intrigou, e ele quase ditou o título: ‘Com meus olhos’, que significa uma profunda humanização da vida de todos, cada um de nós é um indivíduo cujo direito de expressar um pensamento, de interpretar a realidade deve ser reconhecido”.

Manuela, a guia das detentas

Detentas que se tornaram colaboradoras dos artistas e detentas que se propuseram a acompanhar os visitantes do Pavilhão. Entre elas está Manuela, que, daqui a um ano, deixará a Giudecca. “Sinto-me muito honrada por poder participar desse trabalho que durará até novembro de 2024”, diz ela.

“Muitas de nós já desempenhamos diferentes papéis, algumas escreveram, outras fizeram outros trabalhos, me perguntaram se eu queria ser guia e, como sempre falo, com o apoio de minhas companheiras – somos dez – aceitamos de bom grado. Estávamos com muito medo, porém, e também muito hesitantes, porque não é fácil entrar em contato com pessoas novas. Foi muito bom, muito construtivo e o será ainda”.

Entre as obras em exposição, há também uma pintura, resultado da reinterpretação da artista Claire Tabouret, na qual a criança Manuela dá seus primeiros passos em direção à mãe, algo que a emociona muito. Enquanto aguarda a visita do Papa, que deixa todas as internas muito emocionadas, Manuela diz que sua experiência na Giudecca mudou sua vida e sua perspectiva sobre as coisas. “Estou redescobrindo os lados positivos, muito bonitos, muito instrutivos, muito construtivos e espero poder levá-los para fora e transmiti-los aos meus filhos e netos”.

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