DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

Ninguém invoca Deus e o ódio, diz o Papa à delegação afegã

Em discurso à delegação da Associação da Comunidade Afegã, Francisco reiterou que a religião nunca deve ser usada para incitar ódio e violência

Da redação, com Vatican News

O nome de Deus não deve invocar o ódio, disse o Papa Francisco / Foto: Guglielmo Mangiapane – Reuters

“Ninguém pode invocar o nome de Deus para fomentar desprezo, ódio e violência contra os outros”. O Papa Francisco reafirmou fortemente essa posição na quarta-feira, ao se encontrar no Vaticano com membros da Associação da Comunidade Afegã na Itália antes da Audiência Geral desta quarta-feira, 7.

A associação é uma rede de homens e mulheres afegãos que vivem na Itália, engajados em apoiar a integração de refugiados afegãos na sociedade italiana e em promover o diálogo e o respeito aos direitos humanos de todas as comunidades étnicas.

A trágica situação do Afeganistão

Ao dar início ao seu discurso, o Bispo de Roma recordou os trágicos eventos que o Afeganistão sofreu nas últimas décadas, marcados por instabilidade, guerra, divisões internas e violação sistemática de direitos humanos básicos que forçaram muitos ao exílio. Lamentou que a diversidade étnica que caracteriza a sociedade afegã seja “às vezes usada como uma razão para discriminação e exclusão, se não perseguição total”.

“Vocês passaram por um momento trágico, com muitas guerras”.

O Sucessor de Pedro também se referiu à situação crítica nas fronteiras com o Paquistão, onde muitos afegãos se abrigaram, e onde a minoria étnica pashtun (o grupo étnico majoritário no Afeganistão, ed.) também sofre abuso e discriminação.

A religião deve mitigar as diferenças

Neste contexto difícil, observou Francisco, a religião deve ajudar a mitigar contrastes e criar um espaço onde todos tenham direitos plenos de cidadania sem discriminação. Em vez disso, “ela é manipulada” e usada como um instrumento de ódio para alimentar o confronto que leva à violência.

Encorajou, portanto, os membros da rede afegã a continuar em seu “nobre esforço para promover a harmonia religiosa”, esforçando-se “para superar mal-entendidos entre diferentes religiões a fim de construir caminhos de diálogo confiante e paz. “

Promover a fraternidade humana e não o ódio

A esse respeito, o Papa Francisco relembrou o Documento sobre a Fraternidade Humana pela Paz Mundial e a Convivência em Comunidade que ele assinou em Abu Dhabi em 4 de fevereiro de 2019 com o Grande Imã de Al-Azhar. Esse documento histórico declarou que “as religiões nunca devem incitar guerra, atitudes odiosas, hostilidade e extremismo, nem devem incitar violência ou derramamento de sangue”, que, segundo ele, são a “consequência de um desvio dos ensinamentos religiosos” e “resultam de uma manipulação política das religiões”.

O Papa lembrou que seu apelo também se aplicava às diferenças étnico-linguísticas-culturais que podem viver pacificamente juntas adotando uma “cultura de diálogo como caminho; cooperação mútua como código de conduta; compreensão recíproca como método e padrão”.

Ele expressou assim sua “fervorosa esperança” de que “esses padrões se tornarão uma herança comum e, assim, influenciarão o pensamento e o comportamento das pessoas”, observando que, se forem aplicados no Paquistão, também beneficiarão a comunidade pashtun de lá.

“[Vi como em alguns países africanos onde há duas religiões importantes — o islamismo e o catolicismo — no Natal os muçulmanos vão saudar os cristãos e trazem cordeiros e outras coisas, e na Festa do Sacrifício os cristãos vão até os muçulmanos e trazem coisas para sua celebração: esta é a verdadeira fraternidade e isto é lindo.]”

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