Documento sobre a Fraternidade Humana foi assinada pelo Papa Francisco e pelo Grão Imame de Al-Azhar Ahmad Al-Tayyeb, em fevereiro passado
Da redação, com Vatican News
“Um ponto de partida” e “sem retorno”. Com estas palavras, como relatado pelo jornal francês “La Croix”, 22 líderes e intelectuais muçulmanos sunitas, xiitas e sufis definem o Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum, assinado em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, durante a visita do Papa Francisco, em fevereiro passado.
O documento assinado pelo Pontífice e pelo Grão Imame de Al-Azhar Ahmed Al-Tayyeb, reafirm que a cultura do diálogo é o caminho para viver em paz, conhecendo-se mutuamente. “Fraternidade para o conhecimento e a cooperação” é o título do texto de 15 páginas nascido por iniciativa do Imame Yahya Pallavicini, presidente da ‘Coreis’ italiana (Comunidade religiosa islâmica), juntamente com o Instituto de Estudos Islâmicos na França e um pequeno grupo de outros líderes muçulmanos, que já haviam assinado a carta dos 138 intelectuais muçulmanos ao Papa Bento XVI, em 2007, e a Declaração de Marrakesh sobre as minorias religiosas, em 2016.
O texto define o Documento sobre a Fraternidade Humana como “um evento institucional sem precedentes na história das relações entre cristãos e muçulmanos” , o sinal da abertura de uma nova fase orientada “ao reconhecimento da legitimidade e providencial diversidade de revelações, teologias, religiões, línguas e comunidades religiosas”.
Os 22 líderes e intelectuais muçulmanos destacam como as diferenças não são mais consideradas “como um chamado à conquista ou ao proselitismo, ou um pretexto para uma simples tolerância de fachada”, mas sim uma oportunidade para colocar em prática a fraternidade que é “um vocação contida no plano de Deus para a Criação”. Segundo os muçulmanos, o diálogo inter-religioso, que já era “recomendado pelo Alcorão”, parece hoje “vital”.
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A intenção do recente texto – relata o Imame Pallavicini – é a de exortar a reflexão “sobre a Declaração, sobre seu método, sobre sua linguagem: discuti-la de maneira fraterna, possivelmente crítica, mas sem excluir o texto abertamente por razões ideológicas ou políticas.”
O diretor da Coreis ressalta que a assinatura de Abu Dhabi gerou divisões no mundo muçulmano e que não faltaram críticas à iniciativa guiada pelos Emirados Árabes e levada em frente pelo Grão Imame de Al-Azhar. Alguns expoentes religiosos também decidiram não assinar o texto “A Fraternidade para o conhecimento e a cooperação”.
Quem assinou – explicou Pallavicini – pretende aceitar o convite para construir uma “fraternidade humana” que extrapola as fronteiras religiosas. A intenção é a de “promover iniciativas locais com base nesta declaração”, também “a nível acadêmico”, constituindo uma “rede de apoio ao diálogo entre cristãos e muçulmanos”.