HOMILIA

Mundo precisa de fé que acolha problemas da sociedade, diz Papa

Na Missa de encerramento da 50ª Semana Social dos Católicos em Trieste, Francisco exorta fiéis a olhar para miséria sem medo de encontrar Deus ali

Da Redação, com Vatican News

Papa Francisco presidiu Missa de encerramento da 50ª Semana Social dos Católicos em Trieste / Foto: Vatican Media/IPA/Sipa USA via Reuters Connect

O Papa Francisco presidiu a Missa de encerramento da 50ª Semana Social dos Católicos neste domingo, 7. A celebração aconteceu na Piazza Unità d’Italia, localizada na cidade de Trieste, sede do evento.

Ao refletir o Evangelho do dia (Mc 6,1-6) em sua homilia, o Pontífice destacou que Deus sempre suscitou profetas para despertar a esperança nos corações aflitos. Contudo, muitas vezes esses profetas encontraram um povo rebelde e foram rejeitados. Em seu ministério, Jesus passou por essa mesma experiência, sendo “motivo de escândalo” ao retornar à terra onde cresceu.

Neste contexto, o Santo Padre explicou que a palavra “escândalo” não significa algo obsceno ou indecente, como normalmente é usada hoje, mas um obstáculo ou um impedimento. “O escândalo, então, é a humanidade de Jesus”, prosseguiu, explicando que o obstáculo que impediu as pessoas de reconhecerem a presença de Deus em Jesus é o fato de ele ser o filho de José, o carpinteiro.

“Este é o escândalo: uma fé fundada num Deus humano, que se inclina para a humanidade, que cuida dela, que se comove com as nossas feridas, que toma sobre si o nosso cansaço, que se parte como pão para nós”, sublinhou Francisco, acrescentando que “um Deus forte e poderoso, que está do meu lado e me satisfaz em tudo é atraente; um Deus fraco, que morre na cruz por amor e também me pede para vencer todo egoísmo e oferecer a vida pela salvação do mundo, é um Deus incômodo”.

“Precisamos de uma fé de carne”

Diante disso, o Papa salientou que talvez isto seja o necessário para os dias atuais. Frente aos problemas sociais e políticos discutidos durante a 50ª Semana Social, “precisamos de uma fé arraigada no Deus que se fez homem e, portanto, de uma fé humana, de uma fé de carne, que entra na história, que acaricia a vida das pessoas, que cura os corações partidos, que se torna fermento de esperança e germe de um mundo novo”, manifestou.

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O Pontífice seguiu descrevendo a fé da qual o mundo necessita: “é uma fé que desperta as consciências do torpor, que põe o dedo nas feridas da sociedade, que levanta questões sobre o futuro do homem e da história; é uma fé inquieta, uma fé que se move de coração a coração, uma fé que acolhe os problemas da sociedade, uma fé que nos ajuda a vencer a mediocridade e a acídia do coração, que se torna um espinho na carne de uma sociedade muitas vezes anestesiada e atordoada pelo consumismo”.

Diante disso, o Santo Padre convidou os presentes a refletirem sobre a presença do consumismo em seus corações, lembrando-os que este comportamento torna as pessoas egoístas. “Precisamos de uma fé que dispersa os cálculos do egoísmo humano, que denuncia o mal, que aponta o dedo contra as injustiças, que perturba as tramas de quem, na sombra do poder, brinca com a pele dos fracos”, insistiu.

Olhar para aqueles que sofrem

Por que não contemplamos a miséria, a dor, o descarte de tantas pessoas da cidade? Temos medo. Temos medo de encontrar Cristo ali.
– Papa Francisco

Na sequência, Francisco também recordou que Deus revela Sua presença nos rostos daqueles que sofrem e são excluídos. “O infinito de Deus está escondido na miséria humana, o Senhor se agita e se torna presença amiga precisamente na carne ferida dos últimos, dos esquecidos e dos descartados. Ali, Deus se manifesta”, expressou o Papa, indicando ainda como, em muitas ocasiões, surge a tentação da indiferença.

“Jesus viveu em sua própria carne a profecia do cotidiano, entrando na vida e nas histórias diárias do povo, manifestando a compaixão nas vicissitudes humanas”, sublinhou o Pontífice, frisando que Cristo manifestou o ser de Deus que é compassivo. Frente a isso, incentivou os fiéis a se indignarem “com todas aquelas situações em que a vida é brutalizada, ferida e morta”.

Por fim, o Santo Padre animou a Igreja em Trieste a continuar “trabalhando na linha de frente para difundir o Evangelho da esperança, especialmente para aqueles que chegam da rota dos Balcãs e para todos aqueles que, no corpo ou no espírito, precisam ser encorajados e consolados”, finalizou.

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