Na festa da Divina Misericórdia, Francisco alertou para o “vírus da indiferença” e pediu: “Não pensemos só nos nossos interesses”
Da redação, com Vatican News
Ao lado da Cúria Geral dos Jesuítas, o Papa Francisco deixou o Vaticano na manhã deste domingo, 19, para celebrar a Missa na Igreja do Espírito Santo ‘in Sassia’. Neste mesmo lugar, há 20 anos, São João Paulo II instituiu o Domingo da Misericórdia, ao canonizar a polonesa Ir. Faustina Kowalska. Como nos ritos da Semana Santa, não havia fiéis; na homilia, o Pontífice comentou o Evangelho de João e a semana que os discípulos transcorreram depois da ressurreição do Mestre – uma semana marcada pela “incredulidade medrosa”.
Diante deste sentimento, o Santo Padre relata que Jesus volta para o meio deles para anunciar que Deus não se cansa de estender a Sua mão para levantar a humanidade. Esta “mão” é precisamente a misericórdia, afirmou. Francisco prosseguiu: Deus não é um patrão com o qual ajustar as contas, mas o Pai que sempre nos levanta. “Hoje, nesta igreja que se tornou santuário da misericórdia em Roma, no domingo que São João Paulo II dedicou à Misericórdia Divina há vinte anos, acolhamos confiadamente esta mensagem”.
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À Santa Faustina, disse Jesus: “Eu sou o amor e a misericórdia em pessoa; não há miséria que possa superar a minha misericórdia” (Diário, 14/IX/1937). Uma frase que surpreendeu a santa, segundo o Pontífice, foi quando Cristo pediu que ela oferecesse aquilo que é verdadeiramente seu, a sua miséria. O Santo Padre sublinhou que também homens e mulheres podem se interrogar e mostrar suas quedas ao Senhor ou um pecado, remorso, ferida ou rancor que foram guardados. “O Senhor espera que Lhe levemos as nossas misérias, para nos fazer descobrir a sua misericórdia”.
Em meio aos discípulos, Jesus mostrou as suas chagas e pediu que Tomé as toque descobrindo o amor. “Tomé, que chegara atrasado, quando abraça a misericórdia, ultrapassa os outros discípulos: não acredita só na ressurreição, mas também no amor sem limites de Deus. E faz a profissão de fé mais simples e mais bela: ‘Meu Senhor e meu Deus!’ (Jo 20, 28)”, destacou o Papa. Eis a ressurreição do discípulo, explica Francisco, que se realiza quando a sua humanidade, frágil e ferida, entra na humanidade de Jesus. De acordo com o Pontífice, esta é a mesma fragilidade que todos experimentam neste momento de reclusão.
Nesta festa da Divina Misericórdia, o anúncio mais encantador chega através do discípulo mais atrasado, frisa o Santo Padre. Só faltava ele, Tomé. E o Senhor esperou por ele. “A misericórdia não abandona quem fica para trás”, assegurou. O Papa enfatiza que, enquanto todos pensam na recuperação da pandemia, é precisamente este perigo que se insinua: esquecer quem ficou para trás. “O risco é que nos atinja um vírus ainda pior: o da indiferença egoísta. Transmite-se a partir da ideia que a vida melhora se vai melhor para mim, que tudo correrá bem se correr bem para mim”.
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O vírus se alastra quando se selecionam as pessoas, se descartam os pobres, se imola “no altar do progresso quem fica para trás”, frisou o Santo Padre. “É tempo de remover as desigualdades, sanar a injustiça que mina pela raiz a saúde da humanidade inteira!”.
A comunidade cristã primitiva colocou em prática a misericórdia, como descreve o livro dos Atos dos Apóstolos, lembrou Francisco: os fiéis “possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um” (At 2, 44-45). “Isto não é ideologia. É cristianismo”. O Pontífice observou que naquela comunidade, depois da ressurreição de Jesus, apenas um tinha ficado para trás. Hoje, parece acontecer o contrário: uma pequena parte da humanidade avançou, enquanto a maioria ficou para trás.
O Santo Padre insistiu: “Não pensemos só nos nossos interesses. Aproveitemos esta prova como uma oportunidade para preparar o amanhã de todos. Sem descartar ninguém: de todos. Porque, sem uma visão de conjunto, não haverá futuro para ninguém”. O Papa pediu que seja feito o mesmo que o apóstolo Tomé fez: acolher a misericórdia, que é a salvação do mundo. E usar de misericórdia para com os mais frágeis. Só assim reconstruiremos um mundo novo, afirmou.