MENSAGEM PARA QUARESMA

Deus não Se cansou de nós: vê-nos, comove-Se e liberta-nos, diz o Papa

Em mensagem para Quaresma deste ano, Francisco exorta à oração e à acolhida dos irmãos mais necessitados, retomando a capacidade de sonhar

Da Redação, com Vatican News

Foto: Alessia Giuliani/IPA/Sipa USA via Reuters Connect

A Santa Sé publicou, nesta quinta-feira, 1º, a mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2024. O tempo litúrgico que antecede a Semana Santa se estenderá, neste ano, de 14 de fevereiro, dia em que é celebrada a Quarta-feira de Cinzas, a 28 de março, quando se inicia as celebrações do Tríduo Pascal.

O título do texto preparado pelo Pontífice é “Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade”. Ele escreve que quando Deus Se revela, comunica liberdade e recorda a entrega do Decálogo a Moisés após a libertação do povo hebreu do domínio egípcio.

O Santo Padre alerta que, assim como Israel ainda tinha dentro de si o Egito, sentindo falta do passado e murmurando, também, hoje, o povo de Deus carrega vínculos opressivos que deve abandonar. “Damo-nos conta disto quando nos falta a esperança e vagueamos na vida como em terra desolada, sem uma terra prometida para a qual caminharmos juntos”, expressa Francisco.

Diante disso, ele cita que a Quaresma é o tempo de graça em que o deserto volta a ser o lugar do primeiro amor (cf. Os 2, 16-17). “Deus educa o seu povo para que saia das suas escravidões e experimente a passagem da morte à vida. Como um esposo, atrai-nos novamente a Si e sussurra ao nosso coração palavras de amor”, enfatiza o Papa.

Quaresma é um caminho concreto

Ele pontua, em seguida, que o êxodo da escravidão para a liberdade não é um caminho abstrato. Assim, para que a Quaresma seja concreta, o Pontífice indica como primeiro passo: “querer ver a realidade”. Ele sinaliza que o Senhor, ao se manifestar a Moisés na sarça ardente, mostra-se como um Deus que vê o sofrimento do Seu povo e escuta suas súplicas.

Neste contexto, o Santo Padre questiona se o grito atual de tantos irmãos oprimidos é ouvido e comove os homens, apontando que muitos fatores têm provocado um afastamento e a negação da fraternidade. Em oposição à globalização da indiferença, ele lembra dois questionamentos feitos por Deus narrados na Bíblia, quando o Senhor pergunta a Adão “onde estás” (cf. Gn 3,9), e a Caim “onde está o teu irmão” (cf. Gn 4,9).

“O caminho quaresmal será concreto se, voltando a ouvir tais perguntas, confessarmos que hoje ainda estamos sob o domínio do Faraó. É um domínio que nos deixa exaustos e insensíveis.(…) De fato, embora a nossa libertação tenha começado com o Batismo, permanece em nós uma inexplicável nostalgia da escravatura. É como uma atração para a segurança das coisas já vistas, em detrimento da liberdade”, escreve.

Deus nos vê e nos liberta

Além disso, Francisco destaca que é Deus quem vê, comove-Se e liberta o povo. Não é Israel que pede pelo fim da escravidão, pois “o Faraó extingue também os sonhos, rouba o céu, faz parecer imutável um mundo onde a dignidade é espezinhada e os vínculos autênticos são negados”.

O Papa frisa a necessidade da disposição a romper com o velho, e para isso acena para o “déficit de esperança” dos dias atuais. “Trata-se de um impedimento a sonhar, um grito mudo que chega ao céu e comove o coração de Deus. Assemelha-se àquela nostalgia da escravidão que paralisa Israel no deserto, impedindo-o de avançar”, expressa.

Ele ressalta que o êxodo pode ser interrompido, mudando essa mentalidade. “Não se explicaria de outro modo porque é que, tendo uma humanidade chegado ao limiar da fraternidade universal e a níveis de progresso científico, técnico, cultural e jurídico capazes de garantir a todos a dignidade, tateie ainda na escuridão das desigualdades e dos conflitos”, manifesta o Pontífice.

“Deus não se cansou de nós”

Na sequência, o Santo Padre enfatiza que “Deus não Se cansou de nós”, e convida todos a acolher a Quaresma como o tempo forte em que o Senhor recorda: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egito, da casa da servidão” (cf. Ex 20,2). Francisco acrescenta que “ao contrário do Faraó, Deus não quer súditos, mas filhos” e reitera que “o deserto é o espaço onde a nossa liberdade pode amadurecer numa decisão pessoal de não voltar a cair na escravidão”.

Este processo comporta uma luta, registra o Papa, recordando as tentações que Jesus sofreu. Contudo, a voz de Deus contrapõe-se às mentiras do inimigo. “Poder tudo, ser louvado por todos, levar a melhor sobre todos: todo o ser humano sente, dentro de si, a sedução desta mentira”, observa o Pontífice, acrescentando que “podemos apegar-nos ao dinheiro, a certos projetos, ideias, objetivos, à nossa posição, a uma tradição, até mesmo a algumas pessoas. Em vez de nos pôr em movimento, paralisar-nos-ão”.

Quaresma, tempo de agir

Francisco reforça que a Quaresma é tempo de agir, mas agir também é parar: parar em oração, para acolher a Palavra de Deus, e parar como o Samaritano em presença do irmão ferido. Ele pontua que o amor de Deus e o do próximo formam um único amor, e que, por isso, oração, esmola e jejum não são três exercícios independentes, mas um único movimento de abertura e esvaziamento.

“Lancemos fora os ídolos que nos tornam pesados, fora os apegos que nos aprisionam. Então, o coração atrofiado e isolado despertará. Para isso há que diminuir a velocidade e parar. Assim a dimensão contemplativa da vida, que a Quaresma nos fará reencontrar, mobilizará novas energias”, exorta o Santo Padre.

Dessa forma, explica, os homens se tornarão todos irmãos, cumprindo o sonho de Deus e revelando a sinodalidade da Igreja. O Pontífice escreve que a Quaresma é também tempo de decisões comunitárias, capazes de modificar a vida cotidiana das pessoas e de toda uma coletividade. Entre as possíveis atitudes, ele lista a mudança dos hábitos nas compras, o cuidado com a criação e a inclusão de quem não é visto ou é desprezado.

“À medida que esta Quaresma for de conversão, a humanidade extraviada sentirá um estremecimento de criatividade: o lampejar de uma nova esperança”, declara o Papa. Ele reconhece que os desafios deste tempo são enormes, mas indica a coragem da conversão, da saída da escravidão. “A fé e a caridade guiam pela mão esta esperança menina. Ensinam-na a caminhar e, ao mesmo tempo, ela puxa-as para a frente”, conclui.

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