Discurso

Justiça terrena deve ter como horizonte a justiça divina, diz Papa

Em discurso, Francisco falou das reformas da legislação vaticana sobretudo para contrastar a ilegalidade no setor financeiro

Da redação, com Vatican News

/ Foto: Remo Casilli – Reuters

O Papa Francisco discursou na manhã deste sábado, 15, na cerimônia de inauguração do 91º Ano Judiciário do Tribunal do Estado da Cidade do Vaticano. O primeiro ponto salientado pelo Pontífice foi o Evangelho: “Este nos ensina um olhar mais profundo em relação à mentalidade mundana, e nos mostra que a justiça proposta por Jesus não é um simples conjunto de regras aplicadas tecnicamente, mas uma disposição do coração que guia quem tem responsabilidade”.

A exortação do Evangelho, prosseguiu o Santo Padre, é instaurar a justiça antes de mais nada dentro de homens e mulheres, lutando com força para marginalizar a discórdia que habita, em uma luta interior para que o bem prevaleça. Por isso, o convite do Papa aos juristas é: se empenhar não somente em prol dos outros, mas num trabalho dentro de cada um que leve a uma conversão pessoal. “A justiça gera justiça!”

Todavia, o Papa advertiu que somente a justiça não é suficiente, ela deve ser acompanhada pelas outras virtudes cardeais da prudência, da fortaleza e da temperança. No trabalho diário dos juristas, o Pontífice recordou que com frequência os mesmos se deparam com pessoas que têm fome e sede de justiça e é no momento do julgamento que devem conjugar o rigor da lei com a misericórdia ensinada por Jesus.

“Com efeito, a misericórdia não é a suspensão da justiça, mas a sua realização, porque transfere tudo para uma ordem mais elevada, onde os condenados às penas mais duras encontram o resgate da esperança”, completou.

O segundo ponto de reflexão proposto por Francisco diz respeito às reformas que a legislação vaticana sofreu nas últimas décadas, sobretudo para respeitar compromissos internacionais que a Santa Sé assumiu por conta do Estado Vaticano.

Para dar concretude a este esforço, acrescentou o Santo Padre, a Santa Sé iniciou um processo de conformação da própria legislação às normas do direito internacional e, no plano operativo, se empenhou de modo particular a contrastar a ilegalidade no setor financeiro em nível internacional.

Controles internos recentes trouxeram à luz situações financeiras suspeitas, que não se conciliam com a natureza e as finalidades da Igreja e que geraram desorientação e inquietação nos fiéis. Essas situações, garantiu o Papa, estão sendo analisadas pela magistratura e a Santa Sé está firmemente intencionada a prosseguir no caminho empreendido.

Todas essas reformas, ponderou Francisco, permanecem ancoradas e dependentes da ação humana. “A justiça não brota da perfeição formal do sistema e das regras, mas da qualidade e retidão das pessoas, in primis dos juízes, não somente no plano intelectual, mas também moral e deontológico”.

O Pontífice apontou que Jesus disse palavras fortes a respeito: “Do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados”. Segundo o Santo Padre, o Evangelho recorda que as tentativas de justiça terrena têm sempre como horizonte último o encontro com a justiça divina, a justiça do Senhor que espera. “Palavras que não devem assustar, mas impulsionar a realizar o trabalho com seriedade e humildade”, completou.

O Papa concluiu encorajando os juristas a abrirem espaços e novos percursos para aplicar a justiça em prol da promoção da dignidade humana, da liberdade e, consequentemente, da paz. “Estou certo que os senhores honrarão este compromisso e rezo para que o Senhor os acompanhe neste caminhar.”

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