Nesta Quinta-feira Santa, 1°, Francisco presidiu celebração com os sacerdotes de Roma na Basílica de São Pedro
Da redação
Jesus vence o mal e nos liberta do maligno. É o que afirma o Papa Francisco nesta Quinta-feira Santa, 1°.
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O Pontífice presidiu a Missa do Crisma com os sacerdotes de Roma na Basílica de São Pedro. A celebração é conhecida tradicionalmente pela renovação das promessas sacerdotais e a bênção dos santos óleos.
Homilia
O Evangelho de hoje apresenta uma mudança de sentimentos das pessoas que escutavam Jesus. A mudança dramática, de acordo com o Santo Padre, reafirma o quão ligadas estão a perseguição e a cruz no anúncio do Evangelho.
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Filho de José?
Francisco constata que a admiração do povo de Nazaré por Jesus durou pouco. Segundo o Papa, uma frase que alguém murmurou baixo – “Não é este o filho de José?” – viralizou entre os nazarenos.
Ela trata-se de uma daquelas frases ambíguas que se diz por dizer, comenta. “Uma pessoa pode usá-la para exprimir alegria – Que maravilha ver alguém de origem humilde que fala com autoridade. Ou pode ser usada com desdém – De onde ele veio? Quem ele pensa ser?”.
O Pontífice observa que a frase se repete enquanto os apóstolos, cheios do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, começam a pregar o Evangelho. Alguém diz: “Esses que estão a falar, não são todos galileus?”.
Enquanto uns acolheram a Palavra, Francisco destaca que outros os consideravam bêbados.
Frase que persegue Jesus
Essas frases, segundo o Santo Padre, assemelham-se a germes que se espalham. Elas viraram-se contra Jesus. “É uma frase motivadora, como quando se diz: ‘Isso é demais!’. É uma frase que agride o outro ou deixa-o e vá-se embora”, frisou
O Senhor, que as vezes ficava calado, desmascarava a forma maligna que aparentava ser uma bisbilhotice de aldeia.
Tudo que falaram em Carfanaun, o Papa comenta que foi falado em Nazaré: “Cura-te a ti mesmo!”. Essa mesma frase acompanha Jesus até a cruz, ressalta Francisco: “Salvou os outros, salva-se a si mesmo”. O Pontífice recorda também o pedido dos ladrões: “Salve a nós também”.
Jesus, segundo o Papa, não dialoga com o espírito maligno. Responde apenas com a Sagrada Escritura.
Jesus: causa de contradição
Nem mesmo os profetas Elias e Eliseu foram aceitos por seus compatriotas, mas por uma viúva e um leproso, recorda o Santo Padre. “Dois estrangeiros, duas pessoas de outras religiões”.
O Pontífice lembra então da afirmação de Simeão. “Jesus seria causa de contradição”. A palavra de Cristo, frisa o Papa, tem o poder de trazer à luz aquilo que uma pessoa guarda no coração. Sendo habitualmente uma mistura de coisas como o trigo e o joio. “Isto provoca luta espiritual”.
Os gestos de misericórdia, as bem-aventuranças e a frase de Jesus, “ai de vós”, exigem dos ouvintes escolhas.
Segundo o Santo Padre, neste caso do Evangelho, a palavra de Cristo não foi acolhida. A multidão ficou enfurecida e tentou tirar-lhe a vida. “Ainda não era a hora e Jesus, passando no meio deles, seguiu o seu caminho”, ressalta.
Cruz e perseguição
“Não era a hora, mas a rapidez com que desencadeou a fúria e a brutalidade do encarniçamento, capaz de matar o Senhor naquele momento, mostra-nos que é sempre a hora”, aponta Francisco.
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Aos sacerdotes, o Papa revela que “andam juntas a hora do anúncio jubiloso e a hora da perseguição e da cruz”.
“A proclamação do Evangelho está sempre ligada ao abraço de uma cruz concreta. A luz suave da Palavra gera clareza nos corações bem-dispostos, e confusão e rejeição naqueles que o não estão. Vemos isso constantemente no Evangelho.”
Jesus abraçou a cruz
Ao contemplar a cruz precoce de Jesus, ou seja, a incompreensão, rejeição e perseguição, Francisco conta que fez duas reflexões.
A primeira é que a cruz, na vida Jesus, existia antes de seu nascimento. “Já estava presente no primeiro turbamento de Maria ao ouvir o anúncio do Anjo. Está presente nas insônias de José, sentindo-se obrigado a abandonar a sua esposa prometida. Está presente na perseguição de Herodes e nas agruras sofridas pela Sagrada Família, iguais às de tantas famílias que têm de exilar-se da sua pátria”.
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Esta realidade abre ao mistério da cruz experimentada antes, destaca o Papa. Faz compreender que a cruz não é um fato indutivo, ocasional produzido por uma conjuntura na vida do Senhor.
Os crucificadores da história, observa o Pontífice, fazem aparecer a cruz como um dano colateral, mas não é assim: a cruz não depende das circunstâncias.
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“Por que o Senhor abraçou a cruz em toda a sua integridade? Por que Jesus abraçou a paixão inteira: abraçou a traição e o abandono dos seus amigos já desde a Última Ceia, aceitou a prisão ilegal, o julgamento sumário, a sentença desproporcionada, a malvadez sem motivo das bofetadas e cuspidelas?”, questiona.
Para o Santo Padre, se as circunstâncias determinassem o poder salvífico da cruz, o Senhor não teria abraçado tudo. Mas quando chegou a sua hora, Francisco afirma que Jesus abraçou a cruz inteira. Porque a cruz não tolera ambiguidade; com a cruz, não se regateia, disse ele.
Triunfo de Deus
A segunda reflexão apresentada pelo Papa aos sacerdotes destaca que a cruz é parte integrante da condição humana, mas contém algo que não é inerente à fragilidade. “É a mordida da serpente que, vendo o Crucificado indefeso, morde-O e tenta envenenar e desacreditar toda a sua obra”.
“Mordida que procura escandalizar, imobilizar e tornar estéril e insignificante todo o serviço e sacrifício de amor pelos outros. É o veneno do maligno que continua a insistir: salva-te a ti mesmo. Nesta mordida, cruel e dolorosa, que pretende ser mortal, aparece finalmente o triunfo de Deus”, assegura o Pontífice.
Abraçar a cruz
No anúncio do Evangelho, há cruz; mas é uma cruz que salva, frisa o Santo Padre. A cruz é pacificada com o Sangue de Jesus, ela tem a força da vitória de Cristo que vence o mal e liberta do maligno.
“Abraçá-la com Jesus e como Ele permite-nos discernir e repelir o veneno do escândalo com que o demônio procurará envenenar-nos quando chegar inesperadamente uma cruz na nossa vida”, exorta o Papa.
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Francisco concluiu sua homilia, partilhando uma lembrança de momento muito escuro de sua vida. “Eu pedia ao Senhor a graça de me libertar daquela situação dura e difícil”.
O Santo Padre conta que ao confessar uma irmã muito idosa, sentiu vontade de pedir a ela que rezasse por ele. O Pontífice conta que precisava alcançar uma graça e acreditava que se fosse a religiosa a pedi-la, com certeza o Senhor a daria.
Depois de rezar, a Irmã disse-lhe: “Certamente, o Senhor lhe concederá a graça, mas não se engane: ele a dará segundo o seu modo divino”.
“Isto fez-me muito bem: ouvir que o Senhor nos dá sempre o que lhe pedimos, mas o faz à sua maneira divina. Esta maneira envolve a cruz. Não por masoquismo, mas por amor, por amor até o fim”, finalizou.