Espiritualidade

Semana Santa: com confinamento, vivência deve ser mais intensa

Quaresma terminará, nesta Quinta-feira Santa, 9, e é convite à conversão e revisão de valores; neste ano, motiva a uma reflexão ainda maior

Kelen Galvan
Da redação

A necessidade do isolamento social, provocada pela pandemia de coronavírus, mudou toda a forma de rezar neste tempo quaresmal / Foto: Daniel Mafra – Canção Nova

Este ano, os católicos precisaram viver a Quaresma de uma forma diferente. A necessidade do isolamento social, provocada pela pandemia de coronavírus, mudou toda a forma de rezar neste tempo litúrgico, principalmente com o fechamento das igrejas.

Se, num primeiro momento, essa realidade do coronavírus é desastrosa, é preciso, em todas as coisas, “ter um olhar de Deus” sobre os acontecimentos, como explica o sacerdote da Comunidade Canção Nova, padre Roger Araújo. Ele afirma que “a graça de Deus pode transformar tragédias, desgraças em graça”.

A Quaresma, que terminará nesta Quinta-feira Santa, 9, é sempre um convite à conversão e revisão de valores, mas, este ano, motiva a uma reflexão ainda maior:

“Talvez alguns pensem que seja o juízo final, outros ainda o apocalipse ou qualquer outra coisa nesse sentido. Não. Como diz o Papa Francisco, ‘é tempo do nosso juízo’. Não é o tempo do juízo de Deus. É um tempo que nós temos para ter mais juízo, sobriedade, serenidade. É um tempo, inclusive, para nos voltarmos mais para nosso interior, revermos nossas escolhas, conceitos, valores, e nos reposicionarmos com mais seriedade diante deste elemento único que nós temos, que é a vida humana”, destaca padre Roger.

No Brasil, a Quaresma coincide com a Campanha da Fraternidade, que este ano destaca, justamente, a temática da vida e sua valorização em todos os aspectos. “A vida humana está desvalorizada, desgastada, desprezada, desamada, é hora de resgatarmos a vida humana com todos os valores que ela significa”, apontou.

Tempo para Deus

Essa “quarentena” forçada foi motivo de crescimento interior para muitos católicos, que puderam dedicar mais tempo à oração, à leitura e às meditações.

A estudante de doutorado, Débora Pietrobon Facchi, 28 anos, lembra que há algum tempo sentia que faltava algo em sua vivência quaresmal, e tinha a sensação de que as quaresmas estavam sempre a mesma coisa. Mas com a necessidade do confinamento, têm experimentado uma maior intimidade com Deus.

“Com a rotina diária, nem sempre, nas minhas orações, eu parava para ouvir o Senhor. Sentia a necessidade disso, mas, muitas vezes, a correria falava mais alto. E nessa quarentena, o Senhor tem me levado a um profundo retiro espiritual, um tempo de reflexão sobre como tenho vivido a Santa Missa, os sacramentos, como tenho participado da Paixão do Senhor”, conta.

Ela lembra que, quando ficou sabendo que as Missas, sacramentos e demais atividades nas Paróquias iriam parar devido à pandemia, sentiu o arrependimento de não ter buscado a confissão naqueles dias.

“Damos valor a algo quando ‘perdermos’. Refleti como não tenho dado o valor necessário ao sacramento da confissão (…) Nesses dias, percebi que preciso lutar mais para permanecer na graça, pois nunca saberei quando será minha última confissão”, destaca.

Débora, como muitos outros católicos, tem participado das Missas transmitidas pelos meios de comunicação, e afirma que tem sido uma oportunidade de rever-se sobre sua vivência na Celebração Eucarística: 

“A dor e a saudade de receber Jesus Sacramentado. As Missas transmitidas nas redes sociais têm ajudado muito a me manter próxima do Senhor. Ouvir os padres falarem e vê-los comungarem por todos nós, conforta a alma e nos une”.

Solidariedade

A Quaresma é também um tempo de atitudes concretas e gestos de caridade. Padre Roger destaca que, mesmo sem poder ter um contato físico com o outro, o amor jamais pode faltar em qualquer situação.

“Eu acredito que é um tempo de profunda conversão para a solidariedade. As pessoas estão se voltando para suas casas, porque há uma necessidade de se isolar. Agora, não podemos, de forma nenhuma, nos distanciar do sofrimento da humanidade. Milhões e milhões não terão casa para voltar, não têm a comida de cada dia, não terão nem água em casa para poder lavar suas mãos”, afirma.

Diante da necessidade de confinamento, o sacerdote sugere que se procure ajudar as instituições de caridade com doações, que podem ser feitas do próprio celular, mas é preciso atenção também aos mais próximos.

“Tem pessoas do nosso lado, parentes, irmãos, amigos, ou pessoas que nunca demos muita atenção, vizinhos que estão vivendo o drama do desemprego, da redução de salário, estão passando necessidade. Abra seus olhos, não se volte somente para si e suas necessidades; há muita gente sofrendo do nosso lado. É hora de pensarmos menos em nós, aquele egoísmo que gera essa ansiedade e inquietação toda, e nos voltemos para cuidarmos uns dos outros”, indica.

Menos TV, mais oração

Em tempos de confinamento, padre Roger afirma que a Semana Santa deve ser vivida com intensidade, santamente e na presença de Deus. Nestes tempos, há a facilidade dos meios de comunicação que irão transmitir as celebrações.

“Acompanhe as celebrações principais deste tempo e, ao mesmo tempo, viva um momento de oração profunda. Eu até digo, menos televisão, menos redes sociais, mais amor no coração, mais oração, mais meditação, mais silêncio e mais voltar-se para Deus. Tenho certeza que será uma Semana Santa muito abençoada e agraciada”, afirma.

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