Vigília Pascal

Jesus é especialista em transformar nossas mortes em vida, diz Papa

Francisco lembrou que a Páscoa ensina que o fiel se detém pouco no sepulcro, porque é chamado a caminhar ao encontro do Vivente

Kelen Galvan
Da redação

Papa Francisco presidiu na noite deste sábado, 20, a Missa da Vigília Pascal na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Logo no início da celebração o Pontífice abençoou o fogo, em seguida, preparou o Círio Pascal para configurá-lo a Jesus Cristo, com a incisão da cruz e de outros sinais, como o Alfa e Ômega. O Círio então foi aceso com o fogo novo, simbolizando Cristo a Luz do mundo.

“O Senhor chama-nos para nos levantarmos, ressuscitarmos à sua Palavra, olharmos para o alto e crermos que estamos feitos para o Céu”, diz Papa / Foto: Reprodução VaticanMedia

Na homilia, o Santo Padre lembrou o caminho daquelas mulheres que foram ao túmulo levando perfumes (cf. Lc 24,1-12), mas temiam que sua viagem fosse inútil, porque uma grande pedra bloqueava a entrada do sepulcro. Ele explicou que o caminho daquelas mulheres lembra o caminho da salvação.

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.: Homilia do Papa na íntegra

“Nele, parece que tudo se vai estilhaçar contra uma pedra: a beleza da criação contra o drama do pecado; a libertação da escravatura contra a infidelidade à Aliança; as promessas dos profetas contra a triste indiferença do povo. O mesmo se passa na história da Igreja e na história de cada um de nós: parece que os passos dados nunca levem à meta. E assim pode insinuar-se a ideia de que a frustração da esperança seja a obscura lei da vida”, disse.

O Papa porém afirmou que o caminho não é feito em vão e não esbarra contra uma pedra tumular. E destacou que a Páscoa é a festa da remoção das pedras.

“Deus remove as pedras mais duras, contra as quais vão embater esperanças e expetativas: a morte, o pecado, o medo, o mundanismo. A história humana não acaba frente a uma pedra sepulcral, já que hoje mesmo descobre a ‘pedra viva’ (cf. 1 Ped 2, 4): Jesus ressuscitado”.

A desesperança e o pecado

Francisco disse que, como Igreja, os cristãos estão fundados sobre Ele e, mesmo quando desfalecem ou são tentados a julgar a partir dos próprios fracassos, o Senhor faz nova todas as coisas. E explicou que na Vigília Pascal cada um é chamado a encontrar Aquele que remove do coração as pedras mais pesadas.

“Porque buscais o Vivente entre os mortos? O Senhor não habita na resignação. Ressuscitou”, diz Papa / Foto: Reprodução VaticanMedia

“Muitas vezes, a esperança é obstruída pela pedra da falta de confiança (…) Mas, eis que surge a pergunta desafiadora da Páscoa: Porque buscais o Vivente entre os mortos? O Senhor não habita na resignação. Ressuscitou, não está lá; não O procures, onde nunca O encontrarás: não é Deus dos mortos, mas dos vivos (cf. Mt 22, 32). Não sepultes a esperança!”, afirmou.

Outra pedra que fecha o coração, lembrou o Papa, é a pedra do pecado. Francisco lembrou que o pecado seduz e promete coisas fáceis e prontas, mas depois deixa a solidão e morte, e afirmou que o pecado é procurar a vida entre os mortos, o sentido da vida nas coisas que passam.

Só Deus levanta

Retornando à leitura do Evangelho, o Santo Padre lembrou que ao ver a pedra removida, as mulheres que foram ao sepulcro sentem-se amedrontadas e “voltam o rosto para o chão”, sem coragem de levantar o olhar.

Ele lembrou que isso também pode acontecer com as pessoas nos dias de hoje, que preferem ficar na tristeza e no fechamento ao invés de abri-se ao Senhor.

“O Senhor chama-nos para nos levantarmos, ressuscitarmos à sua Palavra, olharmos para o alto e crermos que estamos feitos para o Céu, não para a terra; para as alturas da vida, não para as torpezas da morte: Porque buscais o Vivente entre os mortos? Deus pede-nos para olharmos a vida como a contempla Ele, que em cada um de nós sempre vê um núcleo incancelável de beleza”.

O Papa explicou que o Senhor ama a vida de cada pessoa, mesmo quando há o medo de a olhar de frente e tomar a sério. “Na Páscoa, mostra-te quanto a ama. Ama-a a ponto de a atravessar toda, experimentar a angústia, o abandono, a morte e a mansão dos mortos para de lá sair vitorioso e dizer-te: «Não estás sozinho, confia em Mim!» Jesus é especialista em transformar as nossas mortes em vida, os nossos lamentos em dança (cf. Sal 30, 12). Com Ele, podemos realizar também nós a Páscoa, isto é, a passagem: passagem do fechamento à comunhão, da desolação ao conforto, do medo à confiança”.

Papa Francisco: “Procuremo-Lo a Ele, em tudo e antes de tudo. Com Ele, ressuscitaremos” / Foto: Reprodução VaticanMedia

“Porque buscais o Vivente entre os mortos?”

Francisco lembra que as mulheres escutam esta advertência dos anjos. Elas tinham esquecido a esperança, porque não recordavam as palavras de Jesus na Galileia, e ficam a olhar o sepulcro. Ali, explicou o Papa, elas são convidadas a reavivar o primeiro amor com Jesus, o seu chamado, precisam recordá-lo ou melhor, voltar com o coração para Ele.

“Voltar a um amor vivo para com o Senhor é essencial; caso contrário, tem-se uma fé de museu, não a fé pascal. Mas Jesus não é um personagem do passado, é uma Pessoa vivente hoje; não Se conhece nos livros de história, encontra-Se na vida”.

Por fim, o Papa lembrou que a a Páscoa ensina que o crente se detém pouco no cemitério, porque é chamado a caminhar ao encontro do Vivente.

Por vezes, há dúvidas sobre o caminho a seguir, e o pensamento se dirige continuamente para os próprios problemas e procura-se o Senhor apenas para pedir ajuda. Deste modo, são as necessidades pessoais que orientam a vida, não Jesus.

O Santo Padre explicou ainda que, muitas vezes, mesmo depois de ter encontrado o Senhor, a pessoa volta entre os mortos, sem deixar que o Ressuscitado a transforme.

“Na vida demos o lugar central ao Vivente. Peçamos a graça de não nos deixarmos levar pela corrente, pelo mar dos problemas; a graça de não nos estilhaçarmos contra as pedras do pecado e os rochedos da desconfiança e do medo. Procuremo-Lo a Ele, em tudo e antes de tudo. Com Ele, ressuscitaremos”, concluiu.

Após a Celebração da Palavra, o Papa abençoou a água e realizou o batismo de oito catecúmenos provenientes da Itália, Albânia, Equador, Indonésia e Peru.

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