HOMILIA
Visita à Policlínica Gemelli – Roma
Sexta-feira, 27 de junho de 2014
Boletim da Santa Sé
O Senhor se uniu a vós e vos escolheu (Dt 7, 7).
Deus se uniu a nós, escolheu-nos e esta ligação é para sempre, não tanto porque nós somos fiéis, mas porque o Senhor é fiel e suporta as nossas infidelidades, as nossas lentidões, as nossas quedas.
Deus não tem medo de ligar-se. Isso pode nos parecer estranho: nós às vezes chamamos Deus “o Absoluto”, que significa literalmente “solto, independente, ilimitado”; mas na realidade, o nosso Pai é “absoluto” sempre e somente no amor: por amor firma aliança com Abraão, com Isaac, com Jacó e assim vai. Ama os laços, cria os laços; laços que libertam, não obrigam.
Com o Salmo, repetimos: “O amor do Senhor é para sempre” (cfr Sal 103). Em vez disso, de nós homens e mulheres um outro Salmo afirma: “Desapareceu a lealdade entre os filhos do homem” (cfr Sal 12, 2).
Hoje, em particular, a lealdade é um valor em crise porque somos induzidos a procurar sempre a mudança, uma novidade presumida, negociando as raízes da nossa existência, da nossa fé. Sem lealdade às suas raízes, porém, uma sociedade não segue adiante: pode fazer grandes progressos técnicos, mas não um progresso integral, de todo o homem e de todos os homens.
O amor fiel de Deus pelo seu povo manifestou-se e realizou-se plenamente em Jesus Cristo, o qual, para honrar a ligação de Deus com o seu povo, fez-se nosso escravo, despojou-se da sua glória e assumiu a forma de servo.
No seu amor, não desistiu frente à nossa ingratidão e nem diante da recusa. Recorda São Paulo: “Se nós somos infiéis, ele – Jesus – permanece fiel, porque não pode renegar a si mesmo” (2 Tm 2, 13). Jesus permanece fiel, não trai nunca: mesmo quando erramos, Ele nos espera sempre para nos perdoar: é a face do Pai misericordioso.
Este amor, esta fidelidade do Senhor manifesta a humildade do seu coração: Jesus não veio para conquistar os homens como os reis e os poderosos deste mundo, mas veio para oferecer amor com mansidão e humildade. Assim se definiu Ele mesmo: “Aprendam de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).
E o sentido da festa do Sagrado Coração de Jesus, que celebramos hoje, é aquele de descobrir sempre mais e de fazer-nos envolver pela fidelidade humilde e pela mansidão do amor de Cristo, revelação da misericórdia do Pai. Nós podemos experimentar e saborear a ternura deste amor em cada temporada da vida: no tempo da alegria e naquele de tristeza, no tempo da saúde e naquele da enfermidade e da doença.
A fidelidade de Deus nos ensina a acolher a vida como acontecimento do seu amor e nos permite testemunhar este amor aos irmãos em um serviço humilde e manso. É quanto são chamados a fazer especialmente os médicos e o pessoal paramédico desta Policlínica, que pertence à Universidade Católica do Sagrado Coração. Aqui, cada um de vós leva aos doentes um pouco do amor do Coração de Cristo, e o faz com competência e profissionalismo.
Isso significa permanecer fiéis aos valores fundadores que padre Gemelli colocou na base da educação dos católicos italianos, para combinar a pesquisa científica iluminada pela fé e a preparação de qualificados profissionais cristãos.
Queridos irmãos, em Cristo, nós contemplamos a fidelidade de Deus. Cada gesto, cada palavra de Jesus deixa transparecer o amor misericordioso e fiel do Pai.
E então diante Dele nos perguntamos: como é o meu amor pelo próximo? Sei ser fiel? Ou sou inconstante, sigo os meus humores e as minhas simpatias? Cada um de nós pode responder na própria consciência. Mas, sobretudo, podemos dizer ao Senhor: Senhor Jesus, torne o meu coração sempre mais similar ao teu, cheio de amor e de fidelidade.