Ao receber militares da Guarda de Finanças italiana em audiência, Francisco destacou que missão vai além de aplicação de normas para garantir justiça
Da Redação, com Vatican News
O Papa Francisco se encontrou neste sábado, 21, com os militares da Guarda de Finanças italiana. A audiência, realizada na Sala Clementina, foi motivada pelo aniversário de 250 anos da instituição.
Em seu discurso, o Pontífice recordou o padroeiro da Guarda de Finanças italiana, São Mateus, que é celebrado pela Igreja neste 21 de setembro. O apóstolo e evangelista representava, antes de sua conversão, “ uma mentalidade utilitarista inescrupulosa, dedicada apenas ao ‘deus dinheiro’”.
“Ainda hoje”, prosseguiu, “uma lógica semelhante afeta a vida social, causando desequilíbrios e marginalização: desde o desperdício de alimentos até a exclusão dos cidadãos de alguns de seus direitos”. Neste contexto, o Santo Padre questionou como ainda pode haver fome no mundo, especialmente quando se destina recursos à indústria bélica.
Até mesmo os Estados podem se tornar vítimas deste sistema, alertou Francisco, permanecendo isolados. “Nesse panorama, vocês são chamados a contribuir para a justiça das relações econômicas, verificando o cumprimento das regras que regem as atividades de indivíduos e empresas”, pontuou aos presentes, acrescentando que esta “é a sua maneira concreta e diária de servir ao bem comum, de estar perto das pessoas, de combater a corrupção e de promover a legalidade”.
Novo humanismo
Aprofundando o termo “corrupção”, o Papa explicou que a palavra “revela uma conduta antissocial tão forte que dissolve a validade das relações e dos pilares sobre os quais uma sociedade é fundada”. Como resposta, sugeriu que o olhar não seja voltado apenas às normas, mas a um “novo humanismo”.
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“O olhar de Jesus, pousado sobre o jovem Mateus, diz que a dignidade humana e a vida estão no centro da vida de um povo”, observou o Pontífice. “Vocês também podem contribuir para o surgimento desse novo humanismo por meio das obras que realizam a serviço dos jovens que se inscrevem no Corpo de Guarda de Finanças e frequentam suas Escolas”, completou.
Dom da gratuidade
Contudo, São Mateus não apenas passou da “lógica do lucro” para a “lógica da equidade”, pontuou o Santo Padre. O antigo cobrador de impostos descobriu a gratuidade, o dom de si mesmo que gera solidariedade, compartilhamento e inclusão.
“A gratuidade não é apenas uma dimensão financeira, é uma dimensão humana”, sinalizou Francisco. “Estar a serviço dos outros, gratuitamente, sem buscar o próprio lucro”, prosseguiu, “porque, embora a justiça seja necessária, ela não é suficiente para preencher as lacunas que somente a caridade e o amor podem curar”.
Por fim, o Papa recordou aos presentes que o serviço da Guarda Financeira não termina com a proteção das vítimas, mas inclui a tentativa de ajudar o renascimento daqueles que cometem erros, mostrando a possibilidade de uma vida diferente. “Vocês podem e devem construir uma alternativa à globalização da indiferença, que destrói com a violência e a guerra, mas também negligencia o cuidado com a sociedade e o meio ambiente”, concluiu.